O poder da concentração

É imperiosa a necessidade de destacar que as ações humanas produzem efeitos e consequências que se espraiam para além dos limites de onde se originam. Essa visão ampliada da realidade fundamenta-se na certeza da interconexão e da interdependência essenciais de todos os fenômenos, quais sejam: físicos, biológicos, psíquicos, sociais, culturais.

Os atos individuais sempre trazem consequências para o conjunto dos demais seres e, quando virtuosos e direcionados para o bem, podem ser traduzidos em gestos que ensejem continuamente o enriquecimento e a ampliação dos limites da experiência humana, nos ensina o Racionalismo Cristão

A significação que atribuímos aqui ao vocábulo “concentração” não deve ser confundida com a acepção comumente entendida, que, tendo fincado raízes no senso comum, teve sua representação limitada à ideia de uma estratégia ou de um instrumento facilitador para a obtenção de bens materiais, bem como sucesso financeiro, pessoal, corporativo ou coisa que o valha.

No sentido espiritual, “concentração” indica, antes, a ideia ou a concepção de uma atitude de aprimoramento moral, que proporciona aos seres humanos a possibilidade de cultivar conscientemente os valores humanos, canalizando suas energias para a prática constante e desinteressada do bem, o que fará deles pessoas mais felizes e realizadas. É assim, entendemos nós, que se deve compreender o tão propalado “poder de concentração”.

O ser humano esclarecido é aquele que tem sua consciência de tal maneira desenvolvida por meio de reflexões, constatações e experiências que, para ele, os desafios e contrariedades com que se depara no transcurso da vida não constituem barreiras intransponíveis ou castigos, nem inutilidades sem propósito, mas oportunidades de aprimoramento e ampliação de horizontes, que serão tão mais produtivas e promissoras quanto mais concentração houver no sentido de valorizá-las.

Ora, para que avancemos em nossos estudos e análises, os conceitos de concentração, direcionamento e foco, bem como o de convergência de pensamentos e atitudes, devem ultrapassar os condicionalismos materializados e mesquinhos, a ideia limitadora de mera estratégia para a realização individual e a simples reunião de informações e subsídios intelectuais com vista à projeção social.

Diga-se, contudo, que o ser humano esclarecido e espiritualizado não despreza a cultura nem o conhecimento, muito menos o valor de uma carreira bem-sucedida fundamentada no trabalho e na ética. Ao contrário, tem por eles grande apreço; é precisamente por esse motivo que os unifica e sintetiza com a argamassa da espiritualidade e do entusiasmo, distinguindo-se por uma conduta elevada, valorosa e inflexível no que tange à dignidade humana.

Verdade é que, com retidão de caráter, perseverante vontade de acertar, sinceridade de propósitos e olhos voltados para o cumprimento dos deveres, todos estarão trilhando o caminho que conduz à harmonia e ao bem-estar. É igualmente certo que, ao longo desse caminho, vamos nos tornando cada vez mais conscientes de que podemos aprofundar nossa relação com nós mesmos e com aqueles que nos cercam à medida que, ao nos abrirmos ao diálogo fraterno com nossos semelhantes, eliminamos de nossas estruturas psicológicas os pensamentos preconcebidos e autopunitivos, assim como o ilusório sentimento de separatividade.

É preciso salientar que a virtude da humildade é pressuposto de uma vida produtiva, frutuosa e digna. Sem ela torna-se difícil – para não dizer impossível – o reconhecimento de que a forma inadequada como muitos de nós agimos em outros momentos ou fases de nossas vidas estabeleceram os quadros que atualmente ensejam lamentação e, não raro, sofrimento, sentimento que dispersa a concentração e a vivacidade, trazendo consigo o pernicioso impulso ao desleixo. Precisamente por isso, é indispensável que a pessoa que busca manter o foco na realização das melhores iniciativas assuma, de forma constante e tenaz, uma humilde atitude de autocrítica, sem a qual tende a quedar-se frustrada diante do dinamismo da vida, transferindo a responsabilidade de seus insucessos a um conjunto de circunstâncias tão complexo quanto fantasioso.

O conceito de “foco”, devido a sua natureza e transcendência, não está estabelecido em padrões prefixados nem se reduz a uma meta a ser alcançada. Com certeza, é um processo indispensável para um viver fecundo e elevado, onde o ser humano passa a sentir-se seguro para maturar e exprimir seus pensamentos e sentimentos, consciente da responsabilidade de suas iniciativas.

Nenhuma existência reflete uma realidade perfeita e acabada, mas requer um progressivo despertar para a necessidade e, sobretudo, a importância da fortaleza espiritual que se conquista com foco e ênfase na extirpação dos vícios, na vivência das virtudes e na expansão do amor espiritual. Sem ela, jamais o ser humano poderá alcançar sua liberdade e autonomia; acaba, antes, por perder sua identidade e razão de ser.

Muito Obrigado!