Sabemos que não é fácil para o ser humano, ao se deparar com uma situação completamente inesperada e imprevisível, manter a calma e o bom senso. Também é difícil, ao ser surpreendido pela dor e pelo sofrimento, permanecer equilibrado na apreciação dos fatos. Temos, todavia, a profunda convicção de que o cultivo das virtudes e o desenvolvimento do autodomínio fornecem a cada um de nós os meios necessários para não sermos subjugados pelo descontrole e pelas oscilações emocionais diante dos impactos causados pelas circunstâncias fortuitas e repentinas.
O desvario e o descontrole em meio aos infortúnios e às adversidades desestabilizam e perturbam psiquicamente o ser humano, sobretudo quando este superdimensiona os problemas, envolvendo-os em uma atmosfera exagerada e artificial.
A falta de habilidade em lidar com situações estressantes e complexas denota uma personalidade instável e, não raro, pusilânime, típica de quem ainda não aprendeu a controlar sua sensibilidade. É preciso ter em conta que as atitudes desproporcionais e exaltadas retiram da pessoa a lucidez necessária para a correta interpretação dos fatos, além de lhe tolher a criatividade, que é, a bem da verdade, um precioso recurso para a superação de desafios.
Ensina-nos o Racionalismo Cristão que duas grandes potências regem o equilíbrio humano: o autodomínio e a liberdade. Constitui a primeira condição sine qua non para a conquista da fortaleza espiritual e, com ela, a da felicidade, que se consolida com o hábito virtuoso de se distanciar dos exageros e das altercações. A segunda, por sua vez, é faculdade do espírito, que se exterioriza não com gestos destemperados e hostis ao bom senso, mas com o controle dos pensamentos, sentimentos e ações.
Quando a pessoa desperta para os valores da espiritualidade defendidos pelo Racionalismo Cristão e se empenha em vivenciá-los, liberta-se de condicionamentos sem sentido, de expectativas angustiantes e de preocupações quanto aos julgamentos dos outros. Cônscia de sua essência espiritual e de sua origem, sente-se íntegra e saudável. As dores e os sofrimentos que possam surgir não encontram receptividade em seu interior, sendo logo contornados e reavaliados.
Quando o ser humano se compenetra de sua essência, os sentimentos negativos se transformam pela ação do esclarecimento espiritual, de modo que suas ações produzem bem-estar e satisfação e, por conseguinte, a vida começa a fluir positivamente, sem se deixar afetar pelos desafios e percalços a que todos estamos sujeitos. À medida que as contingências e eventualidades são encaradas com calma e compreensão, tolerância e solidariedade, o ser humano realiza, parcial e progressivamente, sua vocação de aperfeiçoamento e abertura para o transcendente.
Um importante e destacado passo para reagir bem a situações imprevisíveis é nutrir e desenvolver o entendimento de que os fatos e as pessoas possuem uma importância relativa. Aquele que tem a consciência de que o tempo é um grande mestre, que coloca as coisas em seus devidos lugares, que demonstra maturidade psíquica, colhe os frutos da calma e da tranquilidade. Concentrando suas energias nas soluções, e não nas preocupações, o ser humano que adquire o autodomínio não se afeta com as circunstâncias inesperadas – tão próprias, aliás, deste planeta – mas procura sempre preservar a calma e a serenidade, com a consciência de que elas são valiosas aliadas para a superação das adversidades.
É da conjugação constante dessas duas virtudes de espírito, ou seja, a calma e a serenidade, que poderemos erigir, no campo de nossas atitudes, um modus vivendi não apenas alinhado às nossas necessidades de aprimoramento, mas realmente valoroso, genuíno e de tal modo vigoroso, que jamais nos deixaremos abater ou perturbar pelas adversidades que nos tomem de assalto.
Neste desfecho, que tem por objetivo arrematar as ideias expendidas ao longo de nossa reflexão, muito nos apraz evocar novamente o valor da calma e da serenidade, que, por conjugar-se tão bem, proporcionam maior dignidade a quem as cultiva. São duas qualidades que se completam, enobrecendo substancialmente a vida dos seres humanos.
Gostaríamos de acrescentar que a leitura de obras edificantes, o desenvolvimento de uma consciência ética, o contato respeitoso com a natureza, o pendor pela arte, o hábito da autorreflexão e a prática da limpeza psíquica recomendada pelo Racionalismo Cristão como hábito diário, inculcam formidável apreço pelas virtudes e, por conseguinte, o gosto pela atitude harmônica e equilibrada, razão pela qual devem ser cultivadas com empenho e dedicação.
Muito Obrigado!