Parcimônia e conservação

Alguns dos amigos que nos acompanham, julgando pela primeira impressão causada pelo título deste tema, talvez esperem encontrar aqui mais uma referência à necessidade de equilíbrio e conservação no que se refere às conquistas materiais; todavia, propomo-nos a ir além. Nada obstante serem dignos do maior respeito todos os movimentos de promoção da parcimônia e da conservação na esfera patrimonial, esta sintética reflexão enseja substancialmente uma visão mais abrangente, atualizada e funcional acerca do assunto. 

As considerações que fazemos na sequência não pretendem examinar de forma exaustiva toda a gama de possibilidades que encerra a questão, nem fornecer ou revelar uma solução já pronta. Na verdade, elas têm como finalidade desenvolver a consciência da íntima ligação entre os valores espirituais e as conquistas materiais dignas de ostentação. 

A aquisição desregrada de bens, a ação desproporcionada e o mau uso dos recursos naturais traduzem manifestações de pensamentos e sentimentos incoerentes e contraditórios, que, embora incompatíveis com a realidade objetiva, motivam, infelizmente, grande parte das pessoas, principalmente aquelas que desconhecem ou desprezam os valores do espírito. 

Uma vez que o desenvolvimento integral da personalidade está na dependência da adequação e da percepção de que a vida não se resume aos aspectos materiais, a ampliação de significados e abordagens é sempre importante e oportuna. Assim, meditar sobre o valor da parcimônia e da conservação é vislumbrar esses conceitos de forma abrangente, entendendo-os para além dos condicionalismos semânticos materializados, para melhor incorporá-los nos hábitos e costumes externos e, sobretudo, internos. 

À medida que nos espiritualizamos, passamos a entender que o equilíbrio não deve ser buscado apenas nas ações visíveis e manifestas, como uma espécie de estilo de vida despojado e politicamente correto, que tanto agrada à sociedade contemporânea. Deve, antes, estabelecer-se na mente e ali fincar raízes, o que impõe autorreflexão, disciplina e a mais destacada de todas as virtudes: a humildade.  

Da mesma forma, não devemos nos ocupar apenas em conservar os bens materiais, os títulos, os troféus e as posições que conquistamos, mas também – e acima de tudo – nossa paz interior, assegurada por sentimentos elevados e pensamentos saudáveis, que impedem que a vida seja improdutiva e sem sentido. 

Não se pode estabelecer a existência de uma regra uniforme relativamente à maneira ideal de conservarmos nossas conquistas, sejam elas espirituais ou materiais; contudo, temos a convicção de que valores como a disciplina, a honestidade, a organização, a economia e a prudência podem de pronto ser ressaltados e constantemente desenvolvidos. Com certeza, para incorporá-los, basta nutrir o sincero desejo de espiritualização. 

Ao agir com equilíbrio, sobriedade, moderação e raciocínio, ao conservar inteligentemente tanto os sentimentos e pensamentos de valor, como os bens de que somos provisoriamente depositários, respeitaremos a nós mesmos e à natureza, que tanto se ressente da falta de parcimônia e do descomprometimento humano com a conservação na utilização de seus recursos. Assim procedendo, seremos impulsionados a crescer como pessoas espiritualizadas e comprometidas com a vida em todas as suas dimensões. 

A história nos demonstra que o ser humano, em toda sua trajetória, tem buscado formas de realizar-se e sentir-se feliz. Para alcançar tais objetivos, estabelece diretrizes comportamentais, baseadas no equilíbrio e na parcimônia, produzindo, sobretudo, cultura. E o que é a cultura senão a exteriorização do senso de conservação e de transmissão de conhecimentos ao longo das gerações? Vejam os amigos a alta significação dos conceitos que ora estudamos. 

Sem que nos aprofundemos em minúcias e delongas desgastantes, basta-nos meditar os valores espirituais há pouco mencionados para concluir que a maneira mais eficiente de conquistarmos a saúde integral, as condições materiais para uma vida digna e o suprimento de nossas necessidades consiste em considerar, em primeiro plano, a finalidade da vida, o motivo de nossa existência, que é, sem dúvida, o aprimoramento dos nossos atributos espirituais e o amor que podemos disseminar. 

Não pretendemos, ao longo da presente reflexão, ministrar lições de moral, tampouco estabelecer critérios rígidos da ação parcimoniosa e da necessidade premente de conservação dos recursos naturais. Limitamo-nos em recordar algumas de nossas convicções espiritualistas, absorvidas do Racionalismo Cristão, que, por nos fazerem tanto bem, permitiram-nos conquistar a felicidade. 

Muito Obrigado!