Aqueles que buscam o esclarecimento espiritual devem sempre se lembrar da necessidade de dedicar-se constantemente ao desenvolvimento das virtudes e das faculdades morais. A desatenção a tal realidade empobrece demasiadamente a experiência humana, gerando consequências dramáticas e imprevisíveis.
A formação de uma personalidade íntegra e produtiva, capaz de responder positivamente aos obstáculos próprios da vida, exige autodomínio e coragem, firmeza e perseverança, mas também serenidade e paciência. A primazia desta última, tal como o defendemos, ou seja, à luz da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão, não deve ser compreendida como valorização da passividade ou da aceitação irrefletida, muito menos como apologia à indiferença.
Mesmo quando consciente da necessidade e do valor da paciência para o enfrentamento e a solução das mais variadas questões e exigências decorrentes da convivência com seus semelhantes, o estudioso da espiritualidade defronta-se com dois sérios desafios a superar: por um lado, a escassez de abordagens e referências que tratem do tema do ponto de vista da espiritualidade, mas sem apelos místicos ou fantasiosos; por outro lado, o tumultuado e agitado ambiente do mundo atual. O primeiro desafio é, de certa forma, consequência do segundo.
A paciência não se traduz em inércia ou insucesso, imobilidade ou apatia, tampouco em resignação. A paciência, amigos, é uma virtude característica de quem sabe que está inserido em um processo, de quem tem noção de que as coisas acontecem em um tempo próprio e de que a impaciência conduz à frustração e ao isolamento.
Ademais, a paciência reflete um profundo sentido de limite. Quando uma pessoa age pacientemente com outra, embora esta nem sempre lhe siga os exemplos e as orientações, demonstra entendimento no sentido de reconhecer que sua capacidade de transformação se limita à esfera pessoal, que não tem condições de mudar ninguém além de a si própria, que deve, portanto, ser paciente não apenas com seus semelhantes, mas também – e sobretudo – com as situações que lhe são inalteráveis.
O vocábulo “paciência”, à luz de nossos estudos, faz referência a uma atitude de profundo respeito ao gênero humano, sempre estimulada em nossos escritos e alocuções, tendo em vista a agitação e a ansiedade que pululam por toda parte, alimentando a confusa e tempestuosa época que é a atual.
Embora seja difícil pensar como se pode integrar eficazmente na vida prática um empenho pela atitude paciente que tenha seu fundamento na espiritualidade, é necessário admitir que sem paciência os desafios cruciais relativos à ética da conduta pessoal assumem uma dimensão muito maior do que realmente têm.
Mesmo respeitando a diversidade de temperamentos existentes e a liberdade daqueles que não partilham da visão transcendente que defendemos, é preciso concordar com o fato de que a paciência, espiritualmente considerada, nutre e salvaguarda a dignidade humana, formando na sociedade um agudo sentido de convívio fraterno.
A possibilidade de que o ser humano pratique a virtude da paciência em todas as circunstâncias da vida está relacionada com uma visão ampla de mundo, genuinamente abrangente, que enfatize o valor da amizade e da tolerância, da justiça e da verdade, em que o ser humano mostre disponibilidade para deixar-se inspirar e orientar pelos elevados preceitos da ética espiritualista.
Particularmente no contexto da espiritualidade, é importante que a prática da paciência seja direcionada para motivar outras pessoas à reflexão, à autoanálise, à revisão de conceitos e posicionamentos. Agindo com paciência, o estudioso da espiritualidade exprime um saber filosófico-prático que estimula o empenho de transformação das relações intersubjetivas, tornando-as mais respeitosas e favoráveis.
Mostram-se espinhosos os caminhos que buscam resolver os problemas da vida sem contemplar a paciência. No âmbito do compromisso do ser humano com o aprimoramento da própria personalidade, surge a exigência do cuidado com as ações realizadas, que nunca devem ser confusas e precipitadas, mesquinhas e impacientes, especialmente quando a pessoa exerce encargos de liderança e comando.
O diálogo e a ampliação da percepção dos fatos e fenômenos, estimulados pelo estudo da espiritualidade, podem transformar o ser humano. Contudo, engana-se quem crê ser possível avançar na direção do aperfeiçoamento moral sem a prática da paciência.
A convicção de que tudo na vida é transitório e de que, mesmo as situações mais aflitivas terão um fim, revigora a paciência, que não se resume, como já o dissemos, a resignação ou passividade, mas representa, antes, uma atitude inteligente e nobre, que propicia o desabrochar de inúmeras outras qualidades.
Efetivamente, quando as incompreensões e dificuldades são vivenciadas com paciência e lucidez, emerge em nós, fruto de nossa essência espiritual, a capacidade de ultrapassar os condicionalismos impostos pela cultura contemporânea e pelos interesses materialistas. Sem dúvida, a dimensão espiritual, revelada pela atitude paciente, repetidamente sublinhada neste artigo, é o fundamento da interpretação e da resolução dos problemas de convivência humana que afligem a sociedade atual.
Para finalizar, destacamos o valor e a importância do equilíbrio interior e fortalecimento espiritual proporcionados pela prática diária da limpeza psíquica, recomendada pelo Racionalismo Cristão, que nos oferece amplas possibilidades para o autodomínio, fundamental para o exercício do atributo espiritual da paciência.
Muito Obrigado!