Como podemos ser mais presentes e ajudar quem nos cerca, sem perder de vista nossa autopreservação?

O vínculo que liga o ser humano esclarecido espiritualmente ao sentimento de amor ao próximo e ao respeito à dignidade humana é tão forte que, mesmo nas atitudes mais simples da vida cotidiana, não se deixa de reforçar, na medida em que exterioriza no meio em que convive a impressão inolvidável de uma conduta generosa, receptiva e fraterna. 

Esta reflexão se dedica sobretudo à eloquente exaltação do valor resultante do auxílio efetivo e desinteressado que o ser humano deve prestar a seus semelhantes. As informações e subsídios que aqui reunimos sinteticamente têm por objetivo auxiliar os estudiosos da espiritualidade em sua abertura à amplitude da convivência fraterna, a fim de que esta seja mais valorizada entre nós como um fator preponderante que habilita a superar desafios e adversidades, permitindo a construção de uma sociedade mais harmônica e menos competitiva. 

Uma das expressões mais marcantes da atualidade é a forte tendência ao individualismo. Daí resulta, em grande parte, a crise moral, econômica e civilizatória que vivenciamos atualmente. Essa crise se fundamenta no desprezo aos valores do espírito e na consequente dificuldade de vislumbrar no ser humano seu valor e dignidade. 

Ao deixar de reconhecer o semelhante como uma extensão de si mesmo, o ser indivíduo egoísta não percebe a necessidade do auxílio mútuo e da solidariedade no campo das relações humanas. Ao afastar-se do outro, negando-lhe auxílio, orientação e amparo, o indivíduo, além de rechaçar a plenitude da própria personalidade, compromete o metabolismo da alma, experimentando um duplo prejuízo: em primeiro lugar, priva-se de um intercâmbio enriquecedor e insubstituível advindo das relações humanas, que, em grande parte das vezes, são de incalculável fecundidade; em segundo lugar, vivencia uma perda angustiante de sentido da vida, pois age em posição contrária a sua própria natureza, que o impele constantemente a relacionar-se, socializar-se e criar vínculos de cooperação e amizade. Sem dúvida, há uma reserva de afeto em todo ser humano, e este sente-se frustrado e infeliz ao bloqueá-la. 

É preciso reconhecer que ao estendermos a mão a nosso semelhante num gesto de afetividade e respeito, estima e consideração, além de estar concorrendo para a construção de um humanismo sadio e autêntico, também estaremos gozando de inefável bem-estar. 

Felizes seremos ao agir com solicitude e benquerer em relação às pessoas com quem tivermos a oportunidade de conviver, em virtude da serenidade que espontaneamente preencherá nossa mente. Ora, se é verdade que a felicidade consiste no sentimento de paz, se é autêntico que não há paz além daquela que reside na consciência do dever cumprido, se é certo que a consciência só está tranquila quando o ser humano canaliza suas energias para a prática do bem, quem duvida que o amor ao próximo, exteriorizado em atitudes concretas, seja o grande fator da paz e da felicidade? 

Aqueles que adotam a solidariedade como um dos princípios norteadores da vida dão ao mundo uma poderosa demonstração de respeito à humanidade, inspirando outras pessoas a agir da mesma forma, ao mesmo tempo que bloqueiam em si os impulsos egoísticos que impedem a construção de sua própria felicidade.  

Efetivamente, não basta reconhecer a importância de nosso auxílio e de nossa presença junto àqueles com que convivemos. É preciso um passo a mais. É necessário estender a mão a quem necessita de apoio, isto é, ter atitudes que se traduzam objetivamente na conduta, em consonância com padrões éticos e de elevada moral, que se revelem na disposição da pessoa em pôr-se no lugar do outro, a fim de compreendê-lo e auxiliá-lo, sem jamais o julgar ou constranger. A amizade encontra sua expressão autêntica no diálogo terno e respeitoso – verdadeiro bálsamo para quem está angustiado –, na capacidade de ouvir e auxiliar desinteressadamente. Tal empenho representa a adesão, a afirmação do princípio de que todos estão interligados e são oriundos da mesma Origem. 

Todavia, convém ressaltar que para prestar um auxílio efetivo a nossos semelhantes, é necessário primeiramente que respeitemos nossos limites e nos fortaleçamos espiritualmente. Discernimento, equilíbrio, razão e sobretudo benquerer são valores indissociáveis de uma experiência de vida autêntica e benfazeja. A retidão de caráter e a dignidade da atitude são virtudes primordiais a serem alcançadas pelo ser humano, que muito avança nesse sentido quando busca fortalecer-se para auxiliar. 

A conclusão a que chegamos não se encaixa exatamente nos moldes de uma resposta taxativa ao enunciado desta reflexão, pois ela se acha distribuída ao longo de todo o texto. Porém, importa deixar nítido que a dimensão espiritual é um elemento-chave na compreensão do valor da amizade, da família, dos relacionamentos e do verdadeiro sentido do amor.  

Queremos reafirmar a importância de se cultivar o amor espiritual, que não discrimina, não faz juízo de valor e tudo supera admiravelmente. É o amor espiritual que nos permite enxergar o próximo como uma extensão de nós mesmos, e não como um mero adversário ou ser sem valor. Profundamente diferente da dedicação interesseira tão disseminada na atualidade, que denota praticamente sua viva antítese, o amor espiritual não conhece nem o sentimento angustiante da perda nem a desgastante pretensão de domínio, mas possui o condão de nos fazer lúcidos frente as necessidades dos semelhantes e a amplitude da vida. Cultivemo-lo de forma cada vez mais intensa, para o nosso próprio benefício e para o benefício daqueles com quem convivemos.  

Todos nós, cada qual seguindo sua própria vocação – em casa, no exercício de sua profissão, na expressão de sua cidadania, na busca de seus direitos e no cumprimento de seus deveres –, devemos partilhar a atitude de benquerer, que é, em última análise, a razão de nossa existência. 

Muito Obrigado!