A ideia de união, que nos inspira ultrapassa sua significação etimológica mais provável, penetrando no campo do respeito às diferenças, da tolerância e do convívio harmônico. Ao falar de união, referimo-nos à associação, à fusão, à concentração de pensamentos e propósitos que visam estabelecer um paradigma segundo o qual é inconcebível a coexistência entre seres humanos sem o respeito, a estima, a consideração e a tolerância.
Mas será esse entendimento aplicável à vida prática? É compreensível a dúvida. A humanidade está habituada a aplicar a atenção, no mais das vezes, às formas exteriores, àquilo que sobressai na superfície, considerando de pouca monta os aspectos transcendentes. Procuraremos a importância de despertar em nós um senso de unidade, união e fraternidade.
Embora achemos razoável – e mais do que isso, verdadeiro – o sólido argumento de que a vida social nunca é estática, de que a heterogeneidade cultural e a diversidade de pontos de vista abrangem um espectro muito amplo da sociedade, dando suporte, por conseguinte, a um incontável número de posicionamentos humanos que tendem a ser divergentes e não raro até antagônicos, queremos ressaltar que a equanimidade, a tolerabilidade e a moderação devem estar acima das divisões tolas, às conclusões precipitadas e às ideias preconcebidas.
A multiplicidade de aspectos e enfoques, a pluralidade em todos os níveis, a enorme gama de variáveis e perspectivas com as quais se depara o ser humano atualmente, imerso em um contexto de velozes e vertiginosas mudanças cuja diversidade de interesses gera processos tensos e conflituosos, ensejam um sentimento de desunião e separatividade, uma sensação de incerteza e ansiedade que só se poderá contornar à medida que a sociedade se entregue, paulatinamente, à abertura para o transcendente ou seja, para a vida espiritual.
Nessa visão, a atenção minuciosa se concentra não nas divergências e diferenças existentes nas mais diversas expressões culturais, mas sobretudo no muito que nos une enquanto seres humanos universalmente propensos à busca da felicidade e do aperfeiçoamento.
Vivemos um período em que dificilmente nos damos conta da necessidade de renúncia ao inveterado costume de achar que a união deve representar a anulação da própria personalidade, que o ser humano, para se unir a determinado grupo, deve pensar e agir como os membros desse grupo, em flagrante violação da própria identidade. Reiteramos que não é este o conceito racionalista cristão de união. A verdadeira união tem um sentido mais amplo e mais significativo, requerendo a suspensão de juízos de valor prévios e a consideração de que é possível articular a convergência de propósitos que visem o bem comum dentro de uma realidade social caracterizada pela diversidade.
Quando nos unirmos em pensamentos de benquerença, estaremos nos elevando acima das aparências externas. O princípio de toda desunião é o desconhecimento da espiritualidade, sendo esta, por sua vez, o sustentáculo de uma vida frutífera e nobre, digna e valorosa. O único denominador comum capaz de permitir a superação do preconceito é aquele que repousa na consciência da origem comum que nos interliga e conecta de forma irrenunciável. Encontramo-lo no momento em que, ao pôr em ação nosso livre-arbítrio para o bem, vencemos a nós mesmos e removemos o véu do desconhecimento acerca de nossa essência espiritual comum.
Fraternidade, conciliação e partilha são hábitos comportamentais saudáveis e sublimes, emanados da consciência virtuosa, íntegra e digna. Consistem na expressão soberana do espírito consciente de sua origem e não alheio a sua responsabilidade.
O esclarecimento espiritual, que advém do propósito de autossuperação, do esforço em acertar e da determinada vontade de praticar o bem, impele o ser humano a despertar em si, de maneira inequívoca, o entusiasmo pela vida – não somente pela sua, mas também pela de seu semelhante, a quem passa a respeitar como uma extensão de si mesmo.
A finalidade fundamental da divulgação do Racionalismo Cristão, que perpassa, por seu turno, a consciência da unidade entre todos os seres, é oferecer princípios e fundamentos que deem sustentação e dignidade à experiência humana. Devemos, com razão, deixar de lado aquelas visões exclusivamente interessadas nos aspectos exteriores e comportamentais dos seres humanos, a fim de que nos preocupemos sobretudo com o desenvolvimento integral da pessoa, revalidando o espírito de boa vontade, união e solidariedade. Isso permitirá a construção de uma sociedade mais equilibrada e menos conflituosa, consciente de sua união, que não é aparente nem nunca será, mas é, sem dúvida, essencial.
Muito Obrigado!