A relação entre o ser humano e o meio ambiente constitui, desde os primórdios do pensamento filosófico, assunto de grande perplexidade e interesse. Contudo procuraremos concentrar nossa atenção na análise espiritualista do tema, que nos remete a uma visão mais ampliada e integradora.
Defendemos a ideia de que os ensinamentos espiritualistas devem ser aplicados ao concretismo da vida humana como um veículo eficaz na promoção da saúde integral e um valioso instrumento de autopreservação frente os mais conturbados ambientes em que o ser humano eventualmente tenha de transitar.
Entre os diversos dramas vivenciados pelo ser humano ao longo de sua trajetória por este planeta, assume excepcional relevo a perda do equilíbrio, que gera um sentimento capaz de anular as manifestações de espontaneidade e criatividade, inibindo a possibilidade de construir uma vida harmônica. É nesse contexto que o esclarecimento espiritual, que nos incita a proceder com ponderação, moderação e valor, bem como a gerir nossos sentimentos, aprimorando nossos atributos espirituais latentes e o senso crítico da realidade, impõe-se como condição fundamental para a manutenção da vitalidade, como nos ensina o Racionalismo Cristão.
À medida que a mente se desenvolve como consequência do processo de entendimento da realidade espiritual, o ser humano torna-se forte o bastante para não se abalar diante dos mais variados estímulos externos e internos. Sua consciência amplia-se – e com ela, o autêntico sentido da vida, em todas as suas formas de manifestação. Ademais, o senso de isolamento, tão característico da mentalidade moderna, perde seu sentido por completo.
Flui para o ser humano consciente de sua essência espiritual a alegria revigorante que produz harmonia e satisfação. Aquelas situações desagradáveis, aqueles males que tanto causticam e estigmatizam os seres humanos despreparados perdem intensidade onde impera a espiritualidade.
Qualquer menção ao papel da espiritualidade na preservação da saúde psíquica seria incompleta se não se destacasse o valor da disciplina. Uma vida que não contemple o método, a organização e a disciplina tende à desordem e, consequentemente, ao abatimento das energias físicas e mentais. Nesse sentido, mesmo quando a pessoa esclarecida espiritualmente é exposta a um ambiente demasiadamente estressante e desorganizado, ela não se deixa desequilibrar, pois internamente mantém ordenado o fluxo de suas ideias e pensamentos. Seu juízo agudo e altaneiro, edificado pelo hábito da disciplina, aprimorado pela inteligência e sedimentado pela atitude metódica, não se deixa influenciar pelos ruídos dissonantes e hostis, pelas opiniões aviltantes e pelas pressões cotidianas, inevitáveis no mundo moderno.
A partir do momento em que o ser humano compreende a necessidade de viver disciplinadamente, desenvolvendo uma consciência que pode florescer da simples observação de que todas as manifestações da natureza se dão de forma ordenada, experimenta uma profunda sensação de paz, afastando de si, naturalmente, a tensão e a ansiedade, fatores predisponentes ao surgimento das doenças.
É imprescindível mencionar que, do ponto de vista filosófico-espiritualista, a causa dos conflitos humanos, das distonias e do desequilíbrio psíquico não se deve, exclusivamente, a fatores externos. A história demonstra que há inúmeros casos de pessoas que nasceram e se desenvolveram em ambientes conturbados, desorganizados, sem referências positivas e estímulos producentes e ainda assim deram lições de honestidade e equilíbrio que emocionaram o mundo com sua magnificência.
Realmente, não é a convivência em um círculo elevado que torna a pessoa mais espiritualizada, solidária ou compassiva, e sim o direcionamento de sua força de vontade à ampliação de suas capacidades e ao combate de seus vícios. Há incontáveis casos de pessoas que conviveram em ambientes favoráveis e infelizmente acabaram por descambar na desonra e no desprezo às virtudes.
Temos de concordar que o ambiente, quando desprovido de organização e de consideração à dignidade humana, potencializa e intensifica os mais distintos complexos e instintos, nutrindo certos vícios e impulsos internos; porém, a realidade inconteste e inelutável é que toda pessoa possui, além da força de vontade, que já citamos, incontáveis outros atributos e faculdades espirituais para assumir o protagonismo de sua própria existência, independentemente do meio em que vive.
Por tudo o que aqui abordamos, fica evidente que o ser humano, por meio do desenvolvimento consciente de seus atributos espirituais – o domínio próprio, a inteligência, o raciocínio, a consciência de si mesmo, entre outros –, tanto pode afastar de si influências malfazejas advindas de ambientes de alto estresse, como interferir positivamente nesses cenários, elevando-os e transformando-os com o vigor de seu pensamento, com a nobreza de seus sentimentos e sobretudo com a força de seu exemplo.
O conceito de espiritualidade sintetiza de maneira admirável o próprio entendimento de unidade, conexão, e interdependência entre os seres. Do ponto de vista da espiritualidade, ninguém está sozinho. Todos integramos uma mesma e única família. Apoiados nessa constatação, somos capazes de expandi-la para a nossa realidade particular, compreendendo que não somente devemos buscar a autopreservação diante de situações adversas, impróprias e inadequadas, mas também esforçar-nos para estimular revisões de conceitos a partir de nossa conduta, sempre alinhada com as ideias e conceitos divulgados e defendidos pelo Racionalismo Cristão. Não menos importante é o propósito de diminuir em nossos semelhantes a tensão entre a sensibilidade e o ambiente, orientando-os sobre a relação direta entre os pensamentos e a saúde psíquica.
O ambiente social jamais foi e jamais será um bloco estático e uniforme; logo, este se nos apresenta dinâmico e pródigo de possibilidades e cenários, cada qual com uma função específica e não raro com influência direta uns sobre os outros. Depreende-se daí a complexidade e ao mesmo tempo o fascínio e a beleza da vida humana. Sem dúvida, o convívio entre os seres humanos não deve prescindir do respeito e da tolerância, valores que transcendem, trespassam e excedem a ética situacional e os condicionalismos mesquinhos e interesseiros.
É um postulado inquestionável da espiritualidade a busca da vivência fraterna e igualitária. Essa consciência é capaz de estimular os ânimos e atirá-los à ação concreta, arrojada e benfazeja, ensejando o desenvolvimento dos mecanismos psíquicos que resistirão às eventuais influências deletérias dos ambientes hostis e conturbados.
Por fim, é necessário destacar novamente a dificuldade, e talvez mesmo a impossibilidade, de manter uma postura sossegada, moderada e firme em meio a um ambiente árido, desabrido e estressante sem o concurso da disciplina. Na verdade, amigos, a solução dos problemas mais complexos e obscuros repousa na vivência cotidiana de conceitos simples e claros: disciplina, valor, dignidade, respeito, boa vontade, discernimento e bom senso. Eis as alavancas que retiram os seres humanos do pântano da ilusão e das atitudes grosseiras e os projeta ao nível da sublime serenidade e saudável harmonia, como nos ensina a nossa filosofia de vida, o Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!