Como suportar a pressão da vida?

Há pessoas – e não são poucas – que acreditam que as pressões da vida, geradas pelos mais diversos fatores, não são passíveis de uma compreensão transcendente, sendo preciso suportar irremediavelmente seus efeitos desagradáveis e cáusticos, uma vez que nenhuma resposta mais ampliada, segundo pensam, seria capaz de ultrapassar o desconforto que sentem.  

Realmente, interpretações superficiais, frases descontextualizadas, ideias vazias e clichês desgastados não permitem a tessitura de reflexões construtivas e consoladoras. Contudo, quando alguém está imerso em profunda angústia, mas consegue manter-se lúcido, busca compreender as razões de tal situação. Por que vivo tão fatigado emocionalmente? Como suportar as pressões da vida? Que farei agora? 

Procuraremos demonstrar no transcurso desta reflexão que a essência do bem viver neste planeta consiste na fidelidade e no dever que o ser humano tem de procurar o autoaperfeiçoamento de forma progressiva e dentro de um estilo de vida que respeite a si mesmo, mas também a família, as relações de amizade, as diferenças humanas e a natureza. 

Qualquer menção ao papel da espiritualidade para uma melhor administração das pressões cotidianas seria incompleta se não destacasse o valor da disciplina. Uma vida que não contemple o método e a organização tende à desordem e, consequentemente, ao exaurimento das energias físicas e mentais. Nesse sentido, mesmo quando o ser disciplinado e espiritualizado é exposto a um ambiente demasiado estressante e desorganizado, cujas pressões se fazem sentir por todos os lados, não se deixa desequilibrar, pois mantém ordenado dentro de si o fluxo de suas ideias e pensamentos. Seu juízo agudo e altaneiro, edificado pelo hábito da disciplina, aprimorado pela inteligência e sedimentado pela atitude metódica, não se deixa influenciar pelos ruídos hostis, pelas opiniões aviltantes e pelas cobranças próprias do mundo moderno. 

Se, por um lado, assiste-se de parte de algumas pessoas e grupos a uma espécie de redescoberta do aspecto espiritual e aprofundamento sobre as várias dimensões do ser humano fundamentadas em sentimentos nobres, abala-se, por outro, o conteúdo transcendente desses valores quando não há disposição férrea para um viver disciplinado e ordenado. 

 Quando as pessoas descobrem, sob a influência dos melhores pensamentos e sentimentos, a dimensão espiritual de seu ser e de sua existência, adquirem, por meio de um viver ordenado, condições de libertar-se das imposições e preconceitos, dos condicionamentos e pressões típicos de uma sociedade míope que não contempla a vida em seu sentido mais abrangente.  

Pode-se afirmar – e não é exagero fazê-lo – que, no mais das vezes, os frutos da tão propalada modernidade, por não exaltarem a importância da ordem e da disciplina, em vez de favorecer o desenvolvimento integral do ser humano, acabam por tolher-lhe a sensibilidade e a vocação natural para os valores do espírito.  

O que se evidencia numa vida na qual a espiritualidade é a referência mais importante? Amplia-se a visão da realidade e, por consequência, surge uma personalidade forte e diligente. Paulatinamente, à medida que essa referência se torna parte de nós – esse é um princípio a ser vivenciado – descobrimos a inutilidade da autocobrança e a falta de sentido da não aceitação; passamos a concentrar nossas forças no aperfeiçoamento de nosso caráter, no auxílio a nossos semelhantes, enfim, na prática do bem – tudo de forma espontânea e natural. A cada dia temos a oportunidade de amadurecer espiritualmente. 

A consciência da imortalidade da alma põe por terra todo impulso à não aceitação e à manifestação do complexo de inferioridade tão presentes em nossa sociedade. Imenso é o poder dessa verdade, a qual, uma vez reconhecida, liberta as pessoas das pressões do cotidiano, das pseudopreocupações, das urgências sem sentido e das manipulações doentias, permitindo, ao mesmo tempo, que todas se concentrem no que é, de fato, essencial.  

A multiplicidade de ideias, conceitos e propostas que se encontra à disposição do ser humano contemporâneo influi diretamente em seu comportamento, ensejando, muitas vezes, inquietações de consciência e insegurança quanto à melhor posição a se assumir. Assim, no que se refere ao comportamento ético e virtuoso, honesto e íntegro, o ser humano deve buscar sempre, como pano de fundo para suas análises, os valores espirituais. Nesse campo, que ultrapassa a sensibilidade física e os condicionalismos materiais, achará a inspiração e o vigor necessários para superar os desafios dos tempos atuais e para ampliar a moral.  

O ser humano esclarecido encontra na sociedade, que está sempre a pressioná-lo, o ambiente propício para a ampliação de seus atributos e faculdades. Por essa razão, deve valorizar a vida sempre e cada vez mais como uma oportunidade de crescimento, pois assim procedendo se fortalecerá moral e espiritualmente. Com certeza, esse virtuoso processo de absorção das incontáveis e preciosas lições proporcionadas pela vida, por sua complexidade, requer coragem, renúncia e disciplina, faculdades indispensáveis para que o ser avance na senda do aperfeiçoamento.  

Inegavelmente, há desafios no convívio familiar, na vida em sociedade, no desenvolvimento da profissão etc. A eventual imaturidade dos cônjuges, a falta de alteridade por parte dos colegas de trabalho e as multiformes manifestações de individualismo respondem, entre outros empecilhos, pela quebra de harmonia na vida das pessoas. 

Conforme dissemos, o ser humano, tendo como fonte primacial os valores transcendentes, desembaraça-se das pressões da vida, ao instalar, metaforicamente falando, em sua estrutura psíquica “válvulas de alívio”, representadas pela paciência, disciplina, humildade, prudência, tranquilidade, bom senso e discernimento. Esses recursos, enriquecidos pela inteligência e pela força de vontade, impedem que ele seja paralisado pelas consequências oriundas das pressões da vida, ao mesmo tempo que o impulsionam de forma vigorosa na direção de sua felicidade, como nos ensina o Racionalismo Cristão. 

Muito Obrigado!