A espiritualidade, que dinamiza e interpenetra o mundo físico, é mais extensa e abrangente, diga-se já, do que toda literatura concernente ao tema, precisamente por estar presente e viva na natureza, na cultura e na essência de todo ser humano. Por essa razão, mostra-se infrutífera – e, até certo ponto, inadequada – qualquer tentativa de avaliar ou compreender os atos humanos isolados da realidade espiritual que os sustenta.
Há, sobretudo nos círculos de estudos sobre a transcendência, a necessidade premente de uma compreensão clara e integrada de duas realidades – Força e Matéria – que se complementam e se interpenetram, de modo que não devem ser tidas como dicotômicas, vividas ou mesmo analisadas separadamente.
É um equívoco pensar que a vivência espiritual elevada e digna seja inconciliável com as atividades do dia a dia. Tampouco é prudente considerar possível a existência de duas vidas paralelas. É partindo dessa falsa percepção da realidade que muitas pessoas procuram estabelecer uma ilusória demarcação entre a vida espiritual e a vida material.
Interpretar a vida apenas com o referencial espiritual é, para o ser humano, tão danoso quanto pretender reduzir tudo ao campo da matéria, desconsiderando as manifestações do espírito. Na verdade, essas polarizações ou radicalizações inadequadas são facetas de um espinhoso flagelo chamado fundamentalismo.
O estudioso do Racionalismo Cristão, que analisa a vida de forma articulada e contextualizada, é guiado pela seguinte convicção: o sentido de sua existência exige que ele se oriente e se mova com base em princípios espiritualistas elevados e benfazejos, mas sempre com os pés firmes no chão e os olhos voltados para a objetividade, enfrentando os desafios do mundo com a coragem de quem sabe que é portador de inúmeros talentos e potencialidades.
Tão nobres e elevados, estáveis e austeros são os princípios espiritualistas do amor ao próximo, do respeito às diferenças, do compromisso com a palavra empenhada, da dedicação ao trabalho, do valor do pensamento e da disciplina racional, que apreendê-los e incorporá-los significa desenvolver competências e habilidades extremamente úteis para o cumprimento dos mais variados objetivos ao longo de toda a vida.
Assiste-se, na contemporaneidade, da parte de algumas pessoas e grupos, a uma espécie de redescoberta do aspecto espiritual e a um intento de aprofundamento em abordagens relacionadas a temas metafísicos, o que é muito bom e desejável. Contudo, tal iniciativa será drasticamente abalada se a busca do conteúdo transcendente desses valores não vier acompanhada da disposição férrea para a contemporização e a harmonização das várias dimensões que compõem o ser humano.
O campo da espiritualidade, meus amigos, é o campo da realidade, composto de princípios que auxiliam diretamente nas situações concretas da vida – aquelas que surgem no cotidiano de todas as pessoas. Mediante o entendimento dessa verdade incontroversa, pode o ser humano ultrapassar as limitadas visões materialistas que pretendem fazer dele um intérprete parcial de uma realidade fantasiosamente fragmentada.
A vida humana é uma unidade que integra espírito e corpo, ou seja, Força e Matéria, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão, e só podemos viver de forma plena quando nos tornamos conscientes desse fato.
Muito Obrigado!