Consequências da vaidade

Não existe prioridade maior para a pessoa esclarecida espiritualmente pelo Racionalismo Cristão do que esta: eliminar de sua estrutura psíquica todo impulso à tola vaidade. Somente assim poderá exteriorizar plenamente suas qualidades e talentos, possibilitando um intercâmbio produtivo com seus semelhantes. À luz de uma concepção abrangente e consciente, apoiada em valores racionalistas cristãos, procuraremos estabelecer um referencial seguro para as reflexões acerca das infelizes consequências do comportamento vaidoso e de como evitá-las. 

A vaidade desmedida representa, sem dúvida nenhuma, uma fragilidade moral, que emerge amiúde nos seres talentosos e competentes, lançando sobre eles uma mácula que empana suas potencialidades e muito de seu brilhantismo. A vaidade também se encontra presente nas personalidades das pessoas cuja inconstância, preguiça e egoísmo exercem predominância, apresentando-se como um fator a mais para o insucesso e a infelicidade que experimentam na vida. 

Entre a vaidade exacerbada e a negação dos próprios valores, a pessoa moralmente sã deve optar pela desejável equidistância, que se reflete naquilo que poderíamos chamar de humildade autêntica – expressão desafetada de quem conhece seu valor e não espera louvores excessivos e artificiosos, quando muito, aprecia o justo e discreto reconhecimento por seus feitos. Tal pessoa compreende, antes de tudo, suas limitações e o muito que lhe falta aprender. Convém, portanto, que as pessoas que cumprem bem seus deveres e obrigações não se exaltem nem se tornem orgulhosas com os elogios a si dirigidos, pois com exagerado apego aos aplausos podem encher-se de vaidade e, por conseguinte, tornar-se displicentes. Assim como as plantas se alimentam com a medida certa de nutrientes, mas se asfixiam com o excesso, da mesma forma o ser humano cresce moralmente com o justo reconhecimento de sua obra, mas se afoga no mar tempestuoso da vaidade quando o elogio é demasiado. 

Um grande aprendizado podemos obter do aforismo délfico “conhece-te a ti mesmo”, pois se trata de uma mensagem eivada de profunda sabedoria. A partir de sua correta interpretação, podemos dar um passo significativo na direção da virtude da humildade, que representa o oposto da vaidade e o bálsamo restaurador dos efeitos desta. 

A virtude da humildade desperta em seus praticantes a autoaceitação e impele o ser humano humilde a construir, com base em suas características próprias, a obra-prima de sua vida, sem necessitar nesse processo dos estímulos doentios da vaidade. A humildade contribui enormemente no estabelecimento de relacionamentos saudáveis, pois permite não somente a aceitação das diferenças, mas também sua valorização. 

“Certamente, acredito nos malefícios da vaidade e suas deploráveis decorrências; creio, todavia, que em uma comunidade onde se valorizam a humildade e a equanimidade, as oportunidades são mais bem distribuídas e a paz social deixa de ser uma quimera para tornar-se um bem possível de ser alcançado”. Ora, a pessoa que dissesse tais palavras e, concomitantemente, humilhasse seu semelhante e se deixasse dominar pelos grilhões da vaidade sobressairia por sua conduta falsa e contraditória. 

Da mesma forma, uma pessoa que aparenta entender as verdades aqui enunciadas e não se empenha em observar as orientações e diretrizes nele apresentadas, ignorando a necessidade de cultivo da humildade, de valorização da dignidade humana e de respeito à vida, será absolutamente desleal consigo mesma, e improdutiva será sua trajetória. 

Aqueles que dissimulam a verdadeira atitude de humildade para encobrir suas vaidosas, disparatadas e arrogantes personalidades, por muito empenho que nisso ponham e por mais habilidade que demonstrem, jamais hão de enganar os autenticamente humildes e esclarecidos, e muito menos enganarão a si próprios. Mais cedo ou mais tarde, suas consciências apontarão suas falhas. 

Entendemos que, para as pessoas serem beneficiadas pelos sublimes conceitos e princípios filosóficos apresentados pelo Racionalismo Cristão e entendidos pelo viés da espiritualidade, é necessário que se conscientizem a respeito da importância de transmitir aos semelhantes as ideias de valor com que tiveram contato, tendo em mente que seus exemplos marcarão todos aqueles com que convivem.  

Assim, assumem excepcional importância a humildade e a simplicidade, virtudes imprescindíveis na caminhada rumo ao desenvolvimento espiritual. Não desconsideramos, todavia, a dificuldade de tal empreitada. Estamos convictos de que a consequência de tão apurado esforço de aprimoramento moral será o mais primoroso legado que os estudiosos do Racionalismo Cristão, praticantes do bem e do amor ao próximo, terão deixado à família e à sociedade, que necessitam, cada vez mais, de seres humanos capazes de reunir em si qualidades éticas e morais, que sejam dinâmicos, produtivos e, sobretudo, espiritualizados. 

Muito Obrigado!