Dedicação e estímulo

Sabemos, por nossos estudos, que a pessoa convicta se impõe pela firmeza de seus atos e pela dignidade de suas deliberações, adquirindo paulatinamente maior acuidade, rigor e critério, libertando-se da ingenuidade de querer buscar seu espaço na sociedade sem antes encontrar-se consigo mesma no imo de seu ser. Procuraremos demonstrar nesta reflexão que o ser humano, uma vez convencido de sua força interior, aprende, graças a seu esforço, o imenso valor da autoanálise e da circunspecção, da dedicação e do estímulo, dando-se conta da explosão de saberes que brota espontânea do processo de amadurecimento espiritual. 

Uma comunidade está fundamentada em valores sólidos e imperecíveis quando objetiva o bem comum, quando promove o ser humano em sua forma integral, contemplando suas dimensões física e psíquica. Nesse sentido, crescem vigorosos os sentimentos de dedicação ao próximo, de desprendimento à materialidade, de disponibilidade interior e de estímulo à prática do bem. Afirmamos, portanto, que é na capacidade de empenhar-se e dedicar-se às disciplinas construtivas da vida e na prática constante e desinteressada do bem que se encontra a chave para a edificação de uma vida mais saudável e estável, de uma sociedade mais justa e fraterna. 

A rejeição das distorções acerca do sentido da vida e a consciência dos objetivos que realmente merecem dedicação, esforço e abnegação levam a pessoa à constatação de que é inseparável o nexo entre o empenho e a realização de projetos. De fato, o empenho sustentado pela força de vontade é um poderoso antídoto contra a inércia, a pusilanimidade, a preguiça e o fracasso. É ele que permitirá a superação de quaisquer meios impeditivos, possibilitando o estabelecimento e a manutenção do equilíbrio e da harmonia. 

Há que destacar a importância de cultivar o amor espiritual, que não discrimina e não faz juízo de valor. É ele que nos permite enxergar o próximo como uma extensão de nós mesmos, e não como um mero adversário ou um indivíduo sem valor, como esclarece o Racionalismo Cristão. Profundamente diferente da dedicação interesseira, tão disseminada na atualidade, o amor espiritual não conhece nem o sentimento angustiante da perda nem a desgastante pretensão de domínio. Empenhemo-nos em cultivá-lo de forma cada vez mais intensa, para o nosso próprio benefício e para o benefício daqueles com quem convivemos. Todos nós, cada qual com suas características e peculiaridades – em casa, no exercício de sua profissão, na expressão de sua cidadania, na busca de seus direitos e no cumprimento de seus deveres –, devemos, estimulados pelo amor espiritual, dedicar-nos a fazer o bem de maneira prática e efetiva. 

A paz interior é uma conquista pessoal, um corolário da dedicação, da vontade de acertar, do esmero, do compromisso e do respeito próprio e para com os demais. A expressão enfática que orbita a paz interior traduz-se de forma inevitável em sentimentos que são subjetivamente autênticos e objetivamente elevados, que atestam maturidade por parte de quem já compreendeu que o fundamento da paz é a ausência de conflito. Essa consciência se traduz em poderoso estímulo para quem aprendeu a contemplar a vida pela perspectiva da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão. 

Esforcemo-nos, pois, sempre e cada vez mais, no sentido de vivenciar momentos de plenitude e felicidade, cônscios, porém, de que para isso é necessário dedicar-nos no sentido de superar nossas contradições e dificuldades internas, nosso egoísmo e prepotência. 

Neste desfecho, queremos relembrar que o caráter do ser humano é solidamente estruturado quando tende para a promoção dos valores e qualidades que dignificam e ampliam a experiência humana. Contudo, sua formação depende de duas variáveis: estímulo e dedicação. O estímulo é processado internamente e se relaciona aos atributos e faculdades do espírito; a dedicação, por sua vez, assume um aspecto exterior e objetivo. Assim estimulados pela inteligência, pela criatividade, pela sensibilidade, pelo raciocínio e pelo amor, que são parte integrante de nós, enxergamos o mundo exterior com outros olhos e passamos a nos dedicar à família, ao trabalho e ao próximo em consonância com as virtudes da solidariedade e da fraternidade, da humildade e do benquerer. 

Muito Obrigado!