O ponto central desse artigo é o desconhecimento da transitoriedade de tudo que existe no mundo-escola Terra. Em 1913, Sigmund Schlomo Freud (1856–1939), acompanhado de um poeta jovem, passeavam por uma floresta e admiravam o cenário que se descortinava a cada instante, mas o poeta não expressava alegria diante de toda a exuberante beleza porque tudo aquilo um dia iria findar. Sim, em outras circunstâncias, tudo aquilo que o poeta teria amado e admirado naqueles momentos pareceu-lhe despojado de seu valor por estar fadado à transitoriedade. E ali mesmo o poeta expressou a Freud sua inquietude pela finitude ou transitoriedade de tudo que existe.
De outro lado, durante boa parte de sua vida profissional, Carl Gustav Jung (1875–1961), também psicólogo, seguiu as ideias e os trabalhos de Sigmund Freud, que teve por base a libido sexual como a causa de todas as neuroses. Todavia, já nos anos que precederam 1913 começaram a ocorrer desencontros de opiniões entre os dois e, em janeiro de 1913, ocorreu a ruptura da amizade profissional que se havia instalado entre esses dois gigantes da nascente estrutura da psicologia moderna. Essa separação afetou profissionalmente Jung, que ficou devastado, e se demitiu da Universidade de Zurique, também devido ao seu estado de saúde. Afinal, o que houve foi que Jung, daí em diante, estabeleceu e seguiu uma linha de orientação de natureza transcendental, e, diríamos até, de tendência espiritualista, embora eivada de misticismo, ao inverso da linha materialista de Freud, criando a chamada psicologia analítica.
As lições a tirar dessas reflexões. Qual a lição que Freud nos legou de tudo isso? Ele chegou à conclusão da propensão à decadência de tudo que é belo e um dia desaparecerá, o que traz um desalento penoso ou uma reação que leva à revolta quanto ao ato consumado. Isso seria aceitar que um belo dia tudo se acabaria em nada, o que certamente lhe pareceu demasiado insensato. E concluiu que, de alguma forma, essa beleza deveria ser capaz de persistir e de escapar de todos os poderes da destruição. É claro que essa conclusão é puramente materialista, pois a lei de Lavoisier da conservação da matéria já nos dizia que “na natureza nada se perde e nada se cria, tudo se transforma”, cancelando assim as reflexões de incertezas com que abrimos essas considerações.
Vejam que estamos tratando do que é inegavelmente belo, mas de fato a transitoriedade inclui todas as coisas da natureza, inclusive a própria humanidade, dentro de nossa visão puramente espiritualista. Então, o que é imortal é a essência das coisas. Essa essência constitui a força vital atuante sobre a matéria, representando cada uma delas, por toda a natureza do planeta-escola Terra, as parcelas não evoluídas da Inteligência Universal em sua trajetória evolutiva em busca de maior evolução.
O que está em jogo aqui é o valor da coisa em si. Pelo bom senso e pela própria lógica o valor da escassez é o valor da transitoriedade no tempo. Quando aumentamos a possibilidade de uma fruição o valor dessa fruição resulta também incrementado. É o que podemos comprovar quando consideramos, por exemplo, uma bela flor que só dura uma noite, embora sua beleza não nos deixe de encantar, ainda que com limitação temporal. A limitação temporal não cancela o valor do que existe apenas por pouco tempo. O valor apreciativo de uma obra de arte não desaparece quando deixamos de contemplá-la. É importante considerar que a transitoriedade não leva à perda dos valores já adquiridos, mas implica sustentar uma evolução programada.
A expressão nada dura para sempre é uma grande verdade porque o valor de toda essa beleza e perfeição de obras intelectuais ou de obras de arte, ou de uma partitura musical, enfim, de tudo que existe é determinado puramente por sua significação para nossos sentimentos e emoções, que variam de pessoa para pessoa. As impressões adquiridas não precisam sobreviver ao nosso tempo, independendo, portanto, da duração temporal absoluta. Mas também não devemos deixar de incluir nessas reflexões que, nas mentes de Freud e do poeta que com ele caminhava, a fruição de seus sentimentos e emoções, pois o estado emocional interfere no discernimento da alegria e da beleza das coisas da vida, sem alterar a transitoriedade do que é transitório – a matéria de que são feitas todas as coisas, inclusive o nosso corpo humano.
A questão do apego. Basicamente o apego é um sentimento possessivo sobre qualquer coisa, mas também existe o apego emocional, que estabelece vínculos muito fortes e aprisiona a pessoa em seus relacionamentos. O apego emocional sempre nos embaraça, principalmente quando perdemos pessoas da família em casos de morte, comprovando a transitoriedade da vida terrena. O enigma da morte para os materialistas causa situações terríveis e abala profundamente o estado emocional dessas pessoas. Nesse estado de coisas, as pessoas procuram achar um ou mais substitutos para as coisas ou pessoas que perderam. O que é preciso, então, para remediar essas situações de apego é o domínio de si próprio mediante autorreflexão sobre as coisas sérias da vida e procurar conhecer-se como Força e Matéria. Tais recomendações são eficazes.
Neste artigo com dados ainda colhidos de Freud, um ano após, ocorreu o início da Primeira Guerra Mundial, que assombrou o mundo com seus terríveis desdobramentos e afetou profundamente o estado emocional das pessoas. Sobretudo, impactou a esperança quanto a uma civilização mais evoluída e um mundo melhor para nossos descendentes. Para ele, tudo que admirávamos mostrou-se sem sentido por apresentar-se efêmero aos nossos olhos e por considerarmos imutáveis as coisas e os valores humanos.
Conclusão. Neste tema procuramos mostrar o quanto é importante a espiritualização das pessoas principalmente quando diz respeito aos grandes vultos da história humana, como governantes, educadores, escritores, filósofos e psicólogos que poderiam não só evitar, mas também dar o devido exemplo na apreciação verdadeira de temas importantes para a espiritualização em geral das pessoas comuns. Esses conhecimentos espiritualistas são encontrados nos princípios racionalistas cristãos explanados e difundidos pela filosofia Racionalismo Cristão não só através de suas reuniões presenciais e a distância, mas também pelas suas obras e pela mídia digital disponíveis em vídeos no Youtube.