Depois de tantos acontecimentos ruins, como buscar alívio? Para frear a violência, a ignorância e a intolerância, no ambiente familiar ou fora dele, é cada vez mais urgente seguir uma disciplina espiritual. Ela inclui, necessariamente, as irradiações nas horas certas, o estudo sobre o que somos enquanto Força e Matéria e o esforço individual para fazer o bem e pôr em prática o que é certo.
A tragédia em Brumadinho (MG), as chuvas no Rio, o incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo chocam qualquer um. Por que aconteceu? Como se chegou a esse ponto? Por que vidas tão preciosas foram arrastadas pela lama, pela enchente e pelo fogo? Que loucura!… É um choque. Mas o que não tem remédio, remediado está. Que os responsáveis sejam punidos. Que os atingidos, direta ou indiretamente, tenham coragem e serenidade para seguir em frente e encontrem o conforto e o apoio necessários.
“É preciso começar.” Foi o que eu li em um painel de azulejos portugueses no pátio da Igreja de São Francisco de Assis, em um dos passeios pelo Centro Histórico de Salvador (BA). Fora a religião, esses templos guardam a História, pois é possível observar detalhes sobre o Brasil colônia, a arquitetura da época, a marca do trabalho escravo e da cultura portuguesa, o que inclui a espiritualidade…
No local, encontrei dezenas dessas inscrições – uma inspiração para viver. Lições de vida, escritas no azulejo, em latim, e traduzidas, nas placas, para cinco diferentes idiomas. No caso de tragédias como as que vêm ocorrendo, é preciso (re)começar. Incipiendo ali quando. E não só eles, todos nós. De que jeito? “Antes de tudo deve-se cuidar da alma.” É outra inscrição latina. Habenda inprimis animi cura. Viver sem refletir, sem estudar, sem entender o porquê das coisas não é viver. As perguntas sobre a tragédia mineira e carioca são uma forma de expressar a indignação e a dor, mas muitas delas têm respostas, sim. Nada é por acaso.
Além de pensar positivo e fazer o bem, é preciso buscar a virtude – palavra que se repete nas inscrições:
“A virtude é inabalável.”
“A virtude consiste na ação.”
“No meio termo consiste a virtude.”
A gente vai passeando e lendo essas verdades. Quem ousaria questioná-las? Eu até tuitei: “Estarás seguro se viveres com retidão.” “No meio irás mais seguro.” Medio tutissimus ibis.
Quem já não ouviu falar que equilíbrio é fundamental? Nem esquerda, nem direita, nem extremos. No meio.
Não à toa, um dos princípios racionalistas cristãos, reunidos na obra básica dessa filosofia é: “Manter o equilíbrio das emoções na análise dos fatos, para não afetar a serenidade necessária”. No mesmo livro, no capítulo Espírito, afirma-se que um dos principais atributos do ser é o equilíbrio mental, que “provém da apuração dos sentidos, do temperamento bem ajustado às realidades da vida, da serenidade, da compreensão exata das possibilidades e da justa apreciação dos fatos”. “As atitudes ponderadas, a reflexão, o critério e o bom senso são qualidades reveladoras de equilíbrio mental”, continua o livro.
Viram só? “Em qualquer situação da vida é possível filosofar”, dizia outro painel. Inquocum que vito genere philosophari licet. Se tudo isso não fosse tão certo, com certeza não atravessaria o tempo. Busquem a espiritualidade, o equilíbrio e sejam seres virtuosos.