Enxerguemos os nossos erros

Muitos conflitos seriam evitados, se a pessoa se esclarecesse. A falta de esclarecimento é comparável aos óculos de lentes róseas, que só apresentam as formas bonitas de um céu ameaçador. O esclarecimento faz com que o indivíduo procure não só a origem, como a causa de seus próprios pensamentos e ações.

Infelizmente, ainda há muita gente que, teimando em não reconhecer suas falhas e fraquezas, as atribui aos demais ou à natureza das coisas. É a maneira mais cômoda de fugir às responsabilidades e encobrir os defeitos.

Quantas vezes, ao executar mal o trabalho, a criatura descarrega, inteiramente, a culpa em tudo que lhe vem à mente, sendo incapaz de sentir que a deficiência está em si mesma.

A vida cotidiana apresenta os mesmos aspectos: quando alguém pratica o mal ou faz algo errado, a ação é, quase sempre, projetada em qualquer pessoa ou coisa. É tão fácil criticar os erros alheios quanto difícil enxergar os próprios. Mas se projetar aos demais erros e deficiências é tão comum que chega a, tornar-se um ato inconsciente, convém refletir antes de fazer qualquer julgamento.

A projeção condenada por impedir que o homem enxergue seus próprios defeitos pode, entretanto, atingir um útil propósito desde que ele recorra ao raciocínio para fugir ao domínio das emoções.

Um exemplo bem concreto é o do funcionário que, ao ser advertido, vê na atitude do chefe um ato de injustiça, ao invés de reconhecer que a falta está em si. Então, querendo provar capacidade e brio, redobra de esforços e consegue resolver satisfatoriamente a situação. Seria pior se perdesse o interesse pelo progresso no trabalho, o que o levaria ao fracasso.

Quando surgem desejos incompatíveis com a moral do lar, há sempre projeção e aparecem os graves conflitos. O homem, gasto pela orgia, não tendo coragem de enfrentar suas próprias fraquezas, reage, quase sempre, tão erradamente, que chega a culpar a esposa de ações em que ela é inocente.

O fato, porém, de censurar aos demais seus erros e deficiências não significa que a culpa esteja sempre com a própria pessoa. A experiência da vida se encarrega de esclarecer o fato: quem se aproveita da projeção é facilmente reconhecido e suas palavras e atitudes serão sempre recebidas não só com reserva, mas também com o devido desconto.

A crítica exagerada é, de um modo geral, o efeito de uma forte emoção, quer se trate de grandes ou pequenas questões. Mas como as emoções tanto podem conduzir ao mal como ao bem deve ser evitada.

O homem inteligente não perde tempo com críticas vazias, mas preocupa-se somente com tudo que for construtivo. Ação vale mais que palavras.

Publicado em 20 de setembro de 1964.