Disponibilizar conhecimentos espiritualistas, não como forma de erudição, mas como instrumento indispensável à vida prática, é uma das finalidades a que aspiram nossos encontros e reflexões. A espiritualidade deve ser compreendida numa dinâmica interpretativa, não contemplativa ou abstrata. Nesse sentido, ao falar sobre esmero e polidez, abordaremos tais conteúdos não somente em seus aspectos conceituais ou teóricos, mas sobretudo a partir de sua importância objetiva.
Ao longo de seu percurso espiritual, o ser humano que se deixou penetrar pelas luzes da transcendência percebe nitidamente a alta significação das tarefas executadas com esmero, capricho e dedicação, bem como as gratificantes consequências de tratar com deferência e elevação o semelhante. Ao meditar sobre essa realidade, podemos verificar – e também compreender – que, além do esmero, que se relaciona, no mais das vezes, ao exercício de uma função, também a autêntica polidez, que demonstra apreço pelas relações humanas.
A polidez é, em essência, uma qualidade espiritual, cujo desenvolvimento projeta e singulariza o ser humano não apenas do ponto de vista objetivo, mas acima de tudo espiritual. A pessoa perde a dignidade quando não é capaz de reconhecer o valor destes dois atributos: esmero e polidez. Tal pessoa encara seu trabalho de forma leviana, deselegante e descompromissada, enxergando o trato gentil, atencioso, invulgar e cavalheiresco como uma excentricidade sem sentido.
O esmero com o qual se desempenha uma tarefa reflete uma consciência ordenada, uma mente disciplinada e um espírito vigoroso. Muitos fatores concorrem, mormente na atualidade, para que a pessoa seja displicente em suas atividades. Com certeza, cumprem bem seus deveres aqueles que aprenderam a nutrir bons sentimentos, elevar os pensamentos e cultivar a virtude da humildade, sem a qual não podemos reconhecer nossas grandes limitações nem romper com a tendência ao individualismo irresponsável, que se mostra tão flagrante em nossa sociedade.
Sendo considerável a eficácia da atitude esmerada para o aperfeiçoamento da personalidade, causa, todavia, admiração a impressionante força que ela adquire quando se liga à polidez. O ser humano que consegue articular harmonicamente essas expressões de bom caráter atrai muitas oportunidades, pois comunica confiança e honradez. Sempre atento em dar o melhor de si nos empreendimentos que assume e elevar o nível dos relacionamentos, empenha-se com notável porfia em ser sempre diligente e aplicado, honesto e íntegro; verifica na experiência cotidiana o quanto é honroso cumprir as obrigações com zelo, escrúpulo, dedicação e distinção, procedendo condignamente no trato social.
O aprimoramento espiritual demanda uma constante superação de desafios. As conquistas em todos os campos só são viáveis com esforço e dedicação, honestidade e sinceridade. Nessa perspectiva, todo impulso por comodidade e bem-estar sem compromisso com as disciplinas construtivas da vida reverte-se em desleixo e indolência, e estes, por sua vez, acabam levando à degradação intelectual, emocional e, sobretudo, moral da pessoa. A indolência e o desleixo devem ser avaliados ainda em sua capacidade de aniquilamento das relações interpessoais, uma vez que nenhuma pessoa equilibrada se sente bem ao lado de alguém que seja desleixado e indolente, mal-educado e grosseiro.
No início, afirmamos que os conceitos a ser discorridos ao longo desta reflexão não se cingiriam apenas ao campo teórico. Com muito mais razão, reafirmamos nosso propósito nesta conclusão. Sem dúvida, a mais coerente interpretação dos princípios Racionalismo Cristão se revela na atitude prática, de modo que é preciso reconhecer que, embora os conceitos de esmero e polidez comportem múltiplas abordagens, é em sua expressão objetiva, ou seja, na realidade factual, que eles se revestem de valor e magnitude.
A vida cotidiana, em que pesem as manifestações de ambiguidade que ela comporta, representa o espaço próprio e o momento privilegiado para nos esforçarmos em ser mais zelosos, comprometidos e atentos em nosso labor. Do mesmo modo, é preciso despertar a consciência de que não devemos esperar uma ocasião especial para agir com civilidade e diplomacia. Apuro, brio, nobreza, serenidade e sabedoria são virtudes que devem ser cultivadas constantemente, pois precisamos de seus frutos em nossa vida diária.
Muito Obrigado!