Tolerância e simpatia

O ambiente social jamais foi e jamais será um bloco estático e uniforme; com certeza, este se nos apresenta dinâmico e pródigo de possibilidades e cenários, cada qual com uma função específica e, não raro, com influência direta sobre os demais. Depreende-se daí a complexidade, o fascínio e a beleza da vida humana. Procuraremos demonstrar nesta reflexão que o convívio saudável e amistoso entre os seres humanos não deve prescindir do respeito, da simpatia e da tolerância, valores que transcendem, trespassam e excedem a ética situacional e os condicionalismos mesquinhos e interesseiros. 

A equanimidade e a paz social não devem ser entendidas como a anulação das diferenças e o simples afastamento da violência, o que se pode dar, em verdade, por intermédio de imposições que visam silenciar as reivindicações e os anseios mais legítimos por meio de processos ardilosos e não menos nocivos. O diálogo é o veículo privilegiado que conduz à harmonia, à equanimidade e à paz e, nesse sentido, sustenta as relações dignas e duradouras. Contudo, para que o diálogo, no contexto assinalado, atinja o propósito a que se destina, deve estar interpenetrado pela tolerância e pela simpatia. 

Em virtude de uma série de fatores e circunstâncias, o convívio representa um poderosíssimo recurso para a concentração e a ressonância de movimentos que permitem o desenvolvimento de nossas faculdades e atributos. Como é possível, por exemplo, desenvolver a tolerância sem conviver com as mais diferentes formas de pensamento e expressão que existem, inclusive, em nossas famílias? Como refinar o amor e a simpatia dirigidos ao próximo sem penetrar na fragilidade humana, tão perceptível em todas as camadas do estrato social? 

A atitude antipática e intolerante, embora sutil e imperceptível em um primeiro momento, produz um vazio afetivo que se preenche, na maioria das vezes, com pensamentos e sentimentos inadequados. É precisamente contra essa possibilidade que todos devemos lutar. Com essa luta, reafirmamos, uma vez mais, nosso apreço pelas relações humanas sustentadas pela capacidade de voltar a atenção aos sentimentos do próximo. 

Diante de tantos conflitos, agressões e hostilidades, diante de tamanho desequilíbrio, homens e mulheres comprometidos com o bem comum e com a expansão da espiritualidade podem e devem construir uma sociedade mais pacífica e igualitária por meio da ação diária criteriosa, do envolvimento responsável com os preceitos da cidadania, do respeito e da tolerância aos diferentes pontos de vista, enfim, da expressão sincera do benquerer, que pode despertar no semelhante sentimentos elevados capazes de conduzi-lo a uma reflexão sobre a verdadeira finalidade da vida. 

Diante da complexidade do atual contexto social, a pessoa esclarecida, que busca aprimorar seu comportamento, selecionar seus pensamentos e sublimar seus sentimentos, orientará sua ação pelos princípios racionalistas cristãos do benquerer, da tolerância, da não violência, do respeito à natureza e da prática constante e desinteressada do bem. Impõe-se que ditos princípios sejam divisados em todas as circunstâncias, pois são sempre cabíveis, oportunos, adequados e, mais do que isso, necessários para a harmonia da vida, quer no âmbito individual, quer no coletivo. 

As concepções filosófico-espiritualistas, apoiadas nos ensinamentos do Racionalismo Cristão, que permeiam esta reflexão possuem uma clara dimensão crítica em relação às distorções morais que, em matéria de convivência, substituem os compromissos de fraternidade pela incessante busca de realização interna e egoística. Tais concepções, embora ultrapassem os imperativos materiais, não constituem um mero conjunto de noções abstratas que estão distantes e à margem dos problemas sociais, mas, ao revés, significam um precioso instrumento prático que permite vislumbrar com acerto outras possibilidades de coexistência, fundamentadas na tolerância e na sensibilidade. 

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