Sinto-me como se estivesse em meio a uma operação Bio Condor, global, orquestrada pela Big Tech latu senso. Incubados, explodem – junto com a tristeza e a fragilidade do mundo– várias formas de violência, fraude, usurpação. O de sempre. Estima a ONU que só a corrupção custa US$2,6 trilhões em perdas por ano.
Praza o Bem que ainda aconchegamos em nosso interior! No rumo da evolução, nem assim tão de repente, nem assim tão novas, mil e uma tecnologias tentam levar um hausto ao infortúnio. Mas, como qualquer tecnologia em uso, trazem benefícios, ameaças potenciais e males.
A Big Tech parece apoiar-se no tripé da briga pela liderança entre os ‘grandes’ (países e corporações): inteligência artificial, algoritmos e chips. Em rápida disseminação e uso abusivo, a IA augura progresso a longo prazo, mas é também um instrumento de repressão e controle. Seu conceito ainda carece de exatidão. Ficamos com o simplista “tornar as máquinas inteligentes”. Seus efeitos práticos? Steven Feldstein, pesquisador americano, aposta no aumento de massivas bases de dados, de fontes públicas e privadas (big data), e no avanço da capacidade de processamento computacional (machine learning).
De tudo um pouco (às vezes até muito), se associada a IA às técnicas de comunicação. Efeitos alarmantes na biometria avançada, hacking cibernético, sofisticada distorção da informação – já uma realidade virtual – mas bastante real. Como a deep-fake, junção de deep learning (processamento de dados) e fake (falsificação). Em vídeos e áudio, um verdadeiro estrago.
O primeiro trabalho relevante em IA deve-se ao expert britânico em lógica e computação Alan Mathison Turing: conceito de armazenamento de memória ou programa, sob a forma de símbolos. Em 1950, chegaria ao Teste Turing, que define a inteligência do computador. E, logo, se concederia à IA a habilidade de um computador digital, ou controlado por robô, de executar tarefas comumente associadas a seres humanos inteligentes. Mas, por trás da IA, está quem a controla.
Medicina de precisão. Entre aplicações da IA nos mercados financeiros e uma série de indústrias, sobressai uma preocupação premente: o paciente e seu meio ambiente. É por aí que se desenvolve a medicina personalizada, não só para identificar doenças, mas antecipar, adiar ou prevenir. O perfil do genoma dá a partida, depois essa maquilagem genética é associada ao ambiente, conduta, condições sociais. E pronto!
A computação quantum, já quinta fase da Revolução Industrial, G5, é a promessa da medicina. Passa do nível molecular (físico, biológico, digital) para a escala atômica. Contamos, porém, com apenas um punhado de algoritmos quantum e permanece em aberto a questão: se os computadores quantum, de fato, ofuscarão seus pares clássicos.
Autor de O Poder dos Algoritmos, um best-seller de 2015, Pedro Domingos (entrevista ao Der Spiegel) entende que “os melhores algoritmos são os baseados em rede neural, inspirados em humanos e animais”. Muito acurados, pois podem entender o mundo e capturar a complexidade total da realidade. Nem mesmo um especialista como ele próprio, admite Domingos, sabe como executam sua tarefa; apenas que a executam, e em nível muito mais complexo do que o humano.
O cérebro humano é o melhor inspirador da máquina. Suas células, ao todo 100 bilhões (um terço de neurônios) são o equivalente a um programa de computador – o computador mais sofisticado da natureza. (Um neurônio está para o cérebro como um transistor para um chip de computador). Pelas células cerebrais criam-se algoritmos artificiais que imitam os processos naturais – e ajudam a entendê-los. A neurociência agradece.
Já existem até algoritmos capazes de distinguir, entre sorrisos, o que expressa frustração ou prazer. O computador é treinado para reconhecê-los, a partir de um montão de amostras de sorrisos espontâneos, e interpretar as expressões. Uso positivo para tratamento de autismo.
Tridimensional. Inevitável, inesgotável e sempre de interesse, a medicina chega a outra Big Tech – a fabricação cumulativa impressa em 3D. Uma revolução em design e produção. A bioimpressão de órgãos humanos, com fins de transplante, projeta-se na necessidade de preservar órgãos por meios mais confiáveis. Até a criar tecido capaz de, eventualmente, formar órgãos com células dos próprios receptores. AA 3D implica produção em grande quantidade, com impressoras cada vez mais imprevisíveis. Inclui-se na lista das tecnologias com lado mau, muito acessíveis via internet. Assim, se quiser matar o seu chefe, a equipe CSI não recomenda a arma impressa, que neutralizou em apenas um episódio.
Tema segurança também evoca a AM, sigla para Adittive Manufacturing (fabricação cumulativa), ganhando vapor desde 1980. Tem aplicações em quase tudo– vestuário, eletrônica, alimentos, peças para armas (inclusive nucleares) e produtos militares, solas para sapatos Adidas. Se proliferar (é cara, visa indústrias de fins múltiplos), adotará a tônica da simplicidade e custos em queda. Tem bons candidatos potenciais, porquanto adeptos de produtos personalizados: sapatos, joias, dispositivos médicos e farmacêuticos. “Os militares americanos exploram uma gama de aplicações para incorporar AM, desde logística e rápidas cadeias de suprimento até protótipos para uso em campo”, alerta relatório da Rand Corporation, 2017. A fusão com outras técnicas de ruptura (AI e robótica) complementa o cenário.
Mais dez anos e comumente veremos homens biônicos com pequenos chips no corpo, para enviar e receber informações sobre sua saúde. O mesmo para roupas, já em 2022, quando 10% da população mundial assim poderão transmitir informação, via Internet, a partir de celular. Chips para tudo fazem a vida da IoT – Internet das coisas ou objetos. Um verdadeiro parque de diversões para os hackers.
A computar: custos, tempo, aprendizado pela vida afora, perícia e experiência. Sem esquecer um glossário em constante atualização. Eu, modestamente, passo…