Falácias e sofismas

As falácias são erros de raciocínio induzidos por alguém quando escreve ou quando fala, geralmente com o objetivo de transmitir conhecimentos que não se sustentam à luz do bom senso e da lógica. Por isso mesmo resultam em falsos conhecimentos ou verdades. Usando o bom senso e a lógica, sabemos que só há três possibilidades de errarmos: (1) erramos raciocinando mal com dados corretos; (2) podemos errar raciocinando bem com dados falsos; e, (3) erramos raciocinando mal com dados falsos. Assim, o erro pode resultar de um vício de forma – raciocinar mal com dados corretos ou vício de matéria – raciocinar bem com dados falsos. Muitas pessoas desconhecem as “regras invisíveis” que estão por detrás de uma argumentação. Conhecer essas regras invisíveis é muito importante para não fazermos o papel de “idiota” ou “anjinho” frente a uma discussão, qualquer que seja o assunto ou o ambiente. Neste tema vamos falar de falácias e sofismas, diferenciando um do outro.

Silogismo. Porém, antes de compreendermos e aprendermos a identificar as falácias e sofismas precisamos conhecer o que é um silogismo. A palavra silogismo deriva do grego e tem o significado de “conclusão” ou “inferência”. Enquanto o filósofo Platão (428 a.C.-347 a.C.) desenvolveu o mundo das ideias e nos legou o conhecimento abstrato, seu aluno e sucessor na Academia, Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), mestre da Retórica, ensinou e desenvolveu o raciocínio lógico e é o pai da Lógica Discursiva ou aristotélica, criando o que a Filosofia estuda sob a ótica da argumentação através do silogismo, que por sua vez se fundamenta na dedução. Essa técnica foi apresentada por ele em sua obra “Analytica Priora” (Primeiros Analíticos). A finalidade da argumentação é persuadir quem nos ouve ou quem nos lê. Daí a importancia de se construir silogismos, sempre verdadeiros, e não argumentar com falácias.

Um silogismo compõe-se de três proposições chamadas, nessa ordem: premissa maior, premissa menor e conclusão. Eis o exemplo clássico de silogismo:

Todo homem é mortal. (premissa maior)

Sócrates é homem. (premissa menor)

Logo, Sócrates é mortal. (conclusão)

Falácias. Agora, voltemos nossa atenção para as falácias. Afinal o que são falácias? Como já exposto na introdução, na Lógica e na Retórica, falácias são erros lógicos, conscientes ou inconscientes, enganadores que servem para ludibriar e formar juízos equivocados sobre os mais variados assuntos, principalmente nas afirmações religiosas, nos discursos dos políticos e através da mídia televisiva. Quando apoiados nelas, tendemos a viciar nosso raciocínio, conduzindo-nos às formulações de conceitos ilegítimos ou de estereótipos que nos levam às más decisões. Precisamos levar em conta que muitos argumentos que se destinam a persuadir alguém podem parecer convincentes para grande parte das pessoas apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Nem sempre é fácil reconhecer uma falácia já que os argumentos falaciosos podem conter apelos emocionais e psicológicos que emaranham as ideias e conceitos das pessoas incautas. Portanto, é muito importante reconhecer essas artimanhas de raciocínio na própria argumentação para analisarmos a argumentação alheia e não cairmos em erro.

Outro aspecto importante a observar é que o simples fato de alguém cometer uma falácia nem sempre invalida toda a sua argumentação. A parte falaciosa não invalida o todo. Ou seja, a falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela está inserida, o que significa que só esse argumento específico precisa ser descartado da argumentação, não anulando outros argumentos que estejam corretos.

Inconsistências lógicas. As falácias são, portanto, inconsistências lógicas muito comuns no viver nosso de cada dia, em todos os estratos sociais e nas mais diversas culturas, muito usadas por políticos demagogos, jornalistas opinativos etc. em seus pronunciamentos e reportagens escritas ou faladas. Através de seus pronunciamentos divulgam argumentos e induzem os ouvintes a tirarem conclusões ou resultados que não se sustentam quando submetidos a uma análise mais profunda, não resistindo às críticas inteligentes. Aos mais argutos e atentos essas pseudoverdades são difíceis de “engolir”. Os propagadores de falácias quase sempre se desviam de dar explicações porque sabem que se embaraçarão com elas por falta de apresentarem fundamentos lógicos e bem embasados.

As falácias polulam por toda parte, mas existem algumas áreas em que o discurso falacioso se torna predominante, como na área religiosa, política, nas diferentes mídias, etc. É nesses campos da atividade humana onde mais se cometem tais erros.  Por isso, não é de se admirar que crentes religiosos e eleitores menos instruídos sejam mais influenciados por milagres e falsas promessas, respectivamente. E, como eles são mais numerosos na sociedade, com suas escolhas, acabam retardando a evolução da humanidade em todas as culturas nos mais diversos países do mundo. Nessas áreas, algumas falácias foram repetidas milhares de vezes e estão tão arraigadas nas mentes das pessoas que acabam aceitando-as como verdadeiras. Foi o caso, por exemplo, da propagando de Gobels, Ministro da Propaganda da Alemanha nazista que não cansava de repetir para seus comparsas que “uma mentira, repetida muitas vezes, acaba tornando-se uma verdade”.

Diferenciação. Como se difere a falácia do sofisma? Por princípio, a falácia é involuntária e, repetida tantas vezes acaba sendo tomada como verdade. O sofisma é voluntário, planejado com a intenção de enganar pessoas ou grupos. Mas também, cabe observar que certas falácias são tão tacitamente aceitas, repetidas e consagradas em certos grupos, que acabam sendo aceitas como verdadeiras para alguns, principalmente no meio religioso, mas enganosas para outros. A falácia decorre de uma falha de quem argumenta, enquanto que o sofisma tem por objetivo induzir quem nos ouve ou lê ao engano. Mas, ambas são basicamente raciocínios errados. Aquele que usa falácias simplesmente se engana, acreditando que está certo. Por outro lado, quem usa sofismas o faz de propósito levando-nos para uma conclusão para a qual nosso interlocutor não dispõe de informações para demonstrar ou provar.

Exemplos de falácias

Numerosas são as falácias. Alguns autores enumeram mais de 30 tipos. Vamos repassar de relance alguns exemplos de falácias que ocorrem no cotidiano para fixarmos o nosso entendimento e aprendermos a identificar outras mais. Para isso, precisamos ficar atentos ao discurso ou à escrita de seus formuladores.

  1. Falácia da ignorância. Essa consiste em discutir o que ficou de fora da pauta, muito comum em Direito, entre os políticos e na mídia televisiva, que usam e abusam dela. Aqui, se uma asserção não puder ser reconhecida como comprovadamente falsa, então, afirma-se que ela é verdadeira, erradamente; ou então, o contrário. É usada quando a prova que se apresenta para uma pretensão não é diretamente relevante para ela. Nesses casos, normalmente se apela para uma autoridade para fugir do problema ou apela-se para a compaixão etc. É necessário argúcia para identificar essa falácia.
  2. Falácia do meio-termo. Aqui alguém declara ou insinua que uma proposição central entre duas extremas deve ser verdadeira. De fato, em alguns casos, “meia-verdade” realmente pode encontrar-se entre dois pontos extremos, mas isso pode ser exceção e turbar nosso pensamento. Veja:

Todos os anos o Ministério da Saúde oferece vacinação contra a gripe. Algumas pessoas alegam que não tomam a vacina porque não é seguro. A grande maioria da população vacinada afirma que nunca teve qualquer problema.

A proposição mediana não é crível porque o Ministério da Saúde é uma instituição de grande prestígio e as vacinas passam por exaustivos testes antes de serem liberadas para uso.

  1. Falácia do apelo à emoção. Uma resposta emocional não deve ser manipulada; prefira usar argumentação válida. Saibam todos que os apelos à emoção são relacionados ao medo, inveja, ódio, pena, orgulho, entre outros. Apelos à emoção são uma tática de argumentação muito comum e eficiente, mas são falhos e desonestos: Joãozinho não gosta de carne de porco, mas sua mãe lembrou-lhe que as crianças famintas da Etiópia passam fome por não terem o que comer.
  2. Falácia de ataque pessoal ou “ad hominen”. Essa, do tipo autoritário, é muito usada para fazer críticas a alguém:

“O senhor não tem autoridade para criticar nossa política educacional, pois nunca concluiu uma faculdade”.