Falta de humanidade

Diante dos fatos que ocorrem diariamente no mundo em que vivemos, ninguém poderá afirmar, com segurança, para onde caminhamos, nem definir qual a solução para resolver os problemas que se mutiplicam em função do procedimento humano.

O homem não é mais do que uma das engrenagens dentro do contexto social, a qual não está evidentemente ajustada aos princípios fundamentais da boa conduta.

A lei da necessidade jamais foi observada,  por isso os distúrbios sociais são frequentes, e o que impera, de certo modo, é uma estrutura arcaica em que o interesse econômico está colocado em primeiro plano, com as forças da brutalidade e da violência em ascensão, não se sabendo até onde chegarão, se um jato de luz não surgir para dominar a loucura e a incompreensão e repor as coisas nos seus devidos lugares.

Por outro lado expande-se a materialidade, o senso da moralidade desaparece e tomam lugar as normas ditadas pelo instinto  animal. Nem as religiões, seitas e filosofias, dentro dos sistemas racionais ou empíricos, têm força para conter a barbárie e a pirataria que se instalaram agora em terra, sem limites, não havendo mais segurança para ninguém. É a lei do mais forte e audacioso que impera; a lei do trabuco, do bacamarte e outros processos modernos de render e dominar as criaturas.

A vida, na verdade, tornou-se dificil, mas não é destruindo e matando que se poderá dar solução aos problemas sociais do século. É pensando melhor, é raciocinando com acerto, que poderemos encontrar soluções ou, pelo menos, amenizar as coisas que não têm solução.

Um dos males da sociedade industrialista é visar unicamente ao lucro, sem pensar no bem-estar dos demais membros da sociedade em geral. Ao contrário, certas indústrias são até nocivas e fontes e envenenamento, mas a fiscalização fecha os olhos àquilo que prejudica a saúde do povo, porque também o Estado tem interesses. Noutros tempos os gêneros alimentícios mereciam maior confiança. Os refrigerantes que são postos à venda são verdadeiros tóxicos, que nunca deveriam ser vendidos ao público, porque, além de não alimentarem, eliminam as proteinas dos alimentos ingeridos. A propaganda faz a eles os maiores elogios. Há certos produtos industrializados que não possuem qualidade que se recomende, mas a fiscalização – repito – fecha os olhos e os aprova como alimentos bons para o consumo do público. Quem quiser verificar isso compare com o que eram certos produtos  antigamente, e notará a diferença. Além de tudo são mais caros  e sem possuir nenhuma qualidade nutritiva.

Não vemos remédio para livrar o consumidor de tais embustes. As doenças surgem em decorrência do uso de produtos nocivos à saúde. Os médicos recomendam o uso de drogas para contemporizar a situação. O enfraquecimento da saúde é notório, principalmente da criança que necessita de cuidados especiais e sofre, portanto, os efeitos de uma época de falta de sensibilidade humana. Este é o quadro que se nos apresenta, fruto de uma sociedade que só vê o lucro e nada mais.

Publicado em 19 de outubro de 1980