Liberdade e responsabilidade são conceitos importantes e, de certa forma, recorrentes em nossos escritos, palestras e alocuções, pois compreendem uma ampla gama de matizes e abordagens. Utilizando-nos de argumentos racionais e legítimos, procuraremos demonstrar ao longo desta reflexão que não há conflito entre a liberdade e a responsabilidade, e sim uma relação de profunda reciprocidade.
A liberdade exterior, que representa a possibilidade de movimentar-se de maneira autônoma e implementar mudanças na vida com base na faculdade do livre-arbítrio, tem sido considerada ao longo da História como um bem precioso, tanto para o ser humano como para as nações. Na Antiguidade, apreciavam-na sobretudo os gregos e os hebreus, para os quais a liberdade constituía uma condição indispensável de sobrevivência cultural.
A liberdade interna, por seu turno, tem fundamento na autodeterminação. Representa a prova cabal da inexistência da predestinação absoluta. A dignidade humana se esteia na possibilidade de decisão livre e voluntária da pessoa. A atitude ética, que tanto valorizamos e a que tanto nos empenhamos em praticar, tem por pressuposto inflexível a liberdade de ação.
A constante luta dos seres humanos por independência e liberdade, seja ela do âmbito da política, da religião, da expressão ou do pensamento, representa o quanto ela é importante, significativa e – diríamos – até mesmo impreterível para o aprimoramento e a evolução da sociedade.
Inúmeros são os argumentos favoráveis à mudança positiva de perspectivas e ao aperfeiçoamento em sentido espiritual. É certo, porém, que toda análise nesse sentido não se deve distanciar de uma interpretação do autêntico sentido de liberdade. Quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade, posto que estas – não nos esqueçamos – são realidades completamente indissociáveis. Sem essa consciência, aliás, abre-se caminho para a indecisão e a controvérsia, a infelicidade e o desatino. Infeliz aquele que confunde liberdade com licenciosidade.
Se tão irrecusável é a importância da liberdade, não menos relevantes são os elementos que lhe dão suporte, quais sejam: a disciplina, a honra, o trabalho, a sinceridade e sobretudo o conhecimento da espiritualidade. Na verdade, a firme determinação de empenhar-se na obtenção dessas virtudes representa sublime manifestação de liberdade e inteligência.
A fecundidade da vida humana, que é possível pela adoção de critérios espiritualistas que transcendem a interesses egoísticos, reflete o bom uso da liberdade ou do livre-arbítrio, que constitui, por sua vez, condição sine qua non para o estabelecimento de um roteiro existencial seguro, que permite que a pessoa avance na direção de sua felicidade sem se desgastar desnecessariamente. É falsa a ideia de que a liberdade se oponha à disciplina, à ordem, à hierarquia, à abertura aos valores ético-morais – apanágio da espiritualidade –, precisamente porque a absorção voluntária desses conteúdos surge espontânea como corolário da liberdade.
Com razão age quem repele o equívoco de pensar que uma vida livre e feliz seja aquela sem preocupações, sem compromisso, sem reflexões profundas, sem uma orientação, sem um propósito definido. Na maior parte das vezes, esconde-se nesse pensamento inadequado, ao invés da liberdade, uma deplorável escravidão, porque a escolha pela indolência, seja ela física ou mental, não liberta, mas aprisiona o ser humano na impotência, na mesquinhez e na tristeza.
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