Medo e fobia: origens, causas e efeitos

Medo e fobia vêm sendo alvo de uma série de pesquisas científicas e estudos, dentro de um espectro amplo das áreas da saúde, e têm inúmeras definições, segundo as visões psicanalítica, comportamental e médica.

O leitor deve estar perguntando-se: “o que leva o ser humano a ter tantos medos?” Há muitos medos que nos são incutidos, implementados de uma forma absolutamente desnecessária e desproporcional. Eles estão relacionados à nossa história de vida, nesta e/ou anteriores existências, especialmente à nossa infância.

Abordagem repressiva. A abordagem educativa, de maneira geral, é repressiva e recheada de implementos de medo, quando deveria ser abordagem encorajadora. Muitos pais ou responsáveis educam as crianças usando mecanismos repressivos do medo. Ameaçam-nas dizendo-lhes “olhe, se você não fizer isso ou aquilo, dessa ou daquela forma, vai acontecer-lhe algo ruim, algo assustador, terrível”. A criança passa a fazer exatamente o que e como mandam, simplesmente, por estar ansiosa, insegura e com medo.

Abordagem encorajadora. Deveriam é explicar de forma lógica, racional, clara, franca e inteligível à faixa etária da criança o motivo de não fazer aquilo que vai colocá-la em situação de risco, ferir sua integridade física e psíquica. Buscar motivar e estimular a criança a raciocinar e utilizar corretamente seus atributos e faculdades desde tenra idade. Esses medos que são colocados nas diversas fases da vida, principalmente na infância, vão ficando dentro de seu inconsciente, desenvolvendo-se e tomando proporções maiores sem ser resolvidos e, com isso, ela vai desenvolvendo e modelando seu caráter demonstrando uma personalidade frágil e insegura.

Más influências. Crianças que vivem em ambientes onde a todo o momento sofrem agressões que ferem sua integridade física e psíquica, tendo que conviver com pessoas portadoras de maus hábitos e de vícios, como o alcoolismo ou outros tipos de drogas; filhos de pais que não se respeitam e se agridem; crianças violentadas no seu direito de ser criança e que são agredidas com castigos desproporcionais, cruéis, às vezes com pancadas, são mais propensas a sentir medo. São manifestações agressivas com elas ou que são obrigadas a presenciar, criando toda uma estrutura de insegurança que as impedirão de conseguir estruturar um ego para compreender e saber enfrentar com coragem e determinação as dificuldades postas diante delas. Crianças criadas em sistema de abandono ficam inseguras, medrosas e passam a precisar de um sistema de proteção mínima para poderem sentir-se confortáveis. Crianças que são abandonadas ou desprezadas, vão estruturando um conteúdo de estima precário. Mais tarde, a baixa autoestima será a matéria prima para modelar o adolescente, naturalmente inseguro, às vezes manifestando essa insegurança por meio de revoltas, desvios de conduta, que vão moldar uma personalidade insegura, fraca, medrosa e covarde.

Há, porém, medos que são estabelecidos em existências anteriores, através de experiências traumáticas, que hoje comparecem como medos absurdos, insegurança e fobias diversas como a social, em que o ser tem medo de enfrentar o público e de conviver em sociedade; e sabemos que para evoluir precisamos desenvolver o relacionamento interpessoal para podermos compartilhar conhecimento. Quando o medo é superdimensionado por quem o sente, acaba transformando-se em um transtorno patológico, uma enfermidade da mente, culminando na chamada “fobia”, causadora de muitos prejuízos às pessoas atingindo, inclusive, as crianças.

Fobia. É clinicamente classificada tanto no CID (Classificação Internacional de Doenças) quanto no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Segundo esse manual, criado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), fobia é um sentimento exagerado de medo ou aversão por algo ou alguém. Ela pode ser definida como manifestações de ansiedades e medos persistentes, excessivos e irracionais, incontroláveis e paralisantes, desencadeados pela presença ou antecipação de um objeto, situação ou circunstância específicos. A fobia desencadeia um estado de angústia, causa sofrimentos intensos, prejudica a qualidade de vida da pessoa, influenciando diretamente em sua capacidade de realização pessoal, profissional e social.

Vejamos alguns tipos de fobia: fobia escolar (comum em crianças); ergofobia –medo de trabalho; rupofobia – medo exagerado de entrar em contato com sujeira ou objetos sujos; alodoxafobia – medo de opiniões; anemofobia – medo de correntes de ar ou vento; automatonofobia – medo de ventríloquos, bonecos, estátuas de cera; nictofobia ou escotofobia ou acluofobia – medo do escuro ou da noite; oftalmofobia – medo de ser encarado, observado ou vigiado; tanatofobia – medo de morrer ou da morte; xenofobia – medo de estranhos ou estrangeiros; claustrofobia – medo de lugares fechados ou com muitas pessoas. Existem ainda inúmeras outras fobias, algumas delas muito estranhas, como medo de tomar banho, de plantas, da lua, entre outras, ainda consideradas até bizarras e raras.

Visão distorcida. Dúvida recorrente, é: “medo é mecanismo de autoproteção?” Algumas áreas do conhecimento, que estudam a mente e o comportamento humano, defendem a ideia de que os medos que as pessoas apresentam são, em certa medida, um mecanismo de autoproteção, de segurança. Porque, se não tivéssemos medo, poríamos em risco a nossa integridade física e psíquica, a nossa vida familiar, profissional, e de outras formas de convivência social, expondo-nos inadequadamente a perigos que desintegrariam o nosso equilíbrio emocional, social, físico e psíquico. Essas áreas chegam a afirmar que o medo não é uma fraqueza, e sim uma característica importante que, se manifestado em determinada proporção, é saudável para o desenvolvimento emocional das crianças, adolescentes e adultos, assim como o medo é um bom mecanismo de garantia da manutenção das espécies. Afirmam essas áreas que o medo nos acompanha desde o início dos tempos e é considerado imprescindível à sobrevivência humana.

Visão racional. A escola filosófico-espiritualista racionalista cristã, nos esclarece que há várias teorias para o medo. Algumas delas dizem que o medo é necessário para a sobrevivência humana, como mecanismo de autoproteção, mas estão fundamentadas em interpretações distorcidas da realidade, pois consideram o medo um contraponto do desejo/vontade. Enquanto essa filosofia afirma que são as faculdades e os atributos do espírito aplicados de forma lógica e racional, como a vontade fortalecida e bem direcionada, o contraponto do desejo, e não o medo. É a vontade fortalecida pelo uso correto da razão, da lógica, do bom senso, da consciência esclarecida e do conhecimento de nossos próprios limites que se opõe ao desejo do tipo agressivo, irrefreável, de fazer o irracional, o ilógico.

Segundo a filosofia racionalista cristã o medo é de “origem psicológica” e de “caráter espiritual”. É de origem psicológica, por ser criado na esfera psicológica, e não física, por se instalar no plano das ideias, da psiquê humana, permanecendo armazenado e ativo no universo psíquico – consciente e inconsciente –das pessoas até ser desenergizado por iniciativa própria. O medo é de caráter espiritual, por achar espaço e condições favoráveis na mente das pessoas que o alimentam a ponto de se desenvolver, progressivamente, pelo mau uso das faculdades e dos atributos nobres do espírito como a inteligência, o raciocínio, o livre-arbítrio, a compreensão, a lógica, a ponderação, a moderação e a vontade fortalecida. É de caráter espiritual, também, porque o ser necessita desses atributos como recursos postos em ação para evitar o medo, e caso este se instale em seu mental e permaneça ativo, vivo em seus pensamentos, poder sobrepujá-lo, desenergizá-lo, definitivamente, varrendo esse lixo da mente.

É preciso vencer a barreira do medo, que embota, paralisa os seres impedindo-os de levar uma vida digna, produtiva e de qualidade. Entre os antídotos eficazes contra o medo estão a busca contínua da autorreflexão para se chegar ao autoconhecimento, e a partir dessa conquista poder aplicar boas autossugestões embasadas em princípios, métodos e abordagens encorajadores como nos ensina a filosofia racionalista cristã.

O medo não é mecanismo de autoproteção, de segurança, jamais. O medo, de qualquer natureza, está balizado por uma construção distorcida de pensamentos a respeito de algo e de tudo de que se tem medo.

O medo, a fobia, a insegurança e as indecisões estão sempre diante dos seres fracos, e as fraquezas são perigosas no caminho do aperfeiçoamento da inteligência, do caráter e da personalidade. A precaução, a cautela, o bom senso, o conhecimento dos próprios limites e o uso adequado dos recursos do intelecto são disposições e maneiras que fazem o ser humano caminhar firme, com confiança, segurança, elevada autoestima, sem precisar escorar-se no sentimento do medo, que não passa de uma fraqueza humana, de uma muleta psíquica.

O estudo sério, atento e contínuo da filosofia racionalista cristã expande nossa consciência e abre um amplo campo de possibilidades de observação, análise, tomadas de decisão, ações e acertos. A mente humana é complexa vista na ótica reducionista do materialismo, mas na perspectiva dessa filosofia espiritualista não é tão complexa assim.