Marclei Barbosa Santiago
Militante da Filial Patrocínio (BH) e professor universitário
Medo e fobia vêm sendo alvo de uma série de pesquisas científicas e estudos, dentro de um espectro amplo das áreas da saúde, e têm inúmeras definições, segundo as visões psicanalítica, comportamental e médica. Devemos investigar o que leva o ser humano a ter tantos medos. Há muitos medos que nos são incutidos, implementados de uma forma absolutamente desnecessária e desproporcional.
Eles estão relacionados à nossa história de vida, nesta e/ou anteriores encarnações, especialmente à nossa infância. Muitos pais ou responsáveis educam as crianças usando mecanismos repressivos do medo. Ameaçam-nas dizendo-lhes “olhe, se você não fizer isso ou aquilo, dessa ou daquela forma, vai acontecer-lhe algo ruim, algo assustador, terrível”, e a criança passa a fazer exatamente o que e como mandam, simplesmente, por estar insegura, com medo. Deveriam é explicar de forma clara e franca, inteligível à faixa etária da criança, o motivo de não fazer aquilo que vai colocá-la em situação de risco, ferir sua integridade física e psíquica, estimulando a criança a raciocinar e utilizar corretamente seus instrumentos do intelecto desde idade tenra.
Nossa abordagem educativa, de maneira geral, é recheada de implementos de medo, quando deveria ser abordagem encorajadora. Esses medos que são colocados nas diversas fases da vida, principalmente na infância, vão ficando dentro do ser, desenvolvendo-se e tomando proporções maiores sem ser resolvidos, e com isto o ser vai desenvolvendo e modelando seu caráter demonstrando uma personalidade frágil e insegura.
Más influências.
Crianças que vivem em ambientes onde a todo o momento sofrem agressões que ferem sua integridade física e psíquica, tendo que conviver com pessoas portadoras de maus hábitos e de vícios, como o alcoolismo ou outros tipos de drogas, filhos de pais que não se respeitam e que se agridem, crianças violentadas no seu direito de ser crianças e que são agredidas com castigos desproporcionais, cruéis, às vezes com pancadas, são mais propensas a sentir medo. São manifestações agressivas com elas ou que são obrigadas a presenciar, criando toda uma estrutura de insegurança do espírito que encarnou e que não vai conseguir estruturar um ego para compreender e saber enfrentar com coragem e determinação as dificuldades postas diante de si.
Crianças criadas em sistema de abandono ficam inseguras, medrosas e passam a precisar de um sistema de proteção mínima para poderem sentir-se confortáveis. Crianças que são abandonadas ou desprezadas vão estruturando um conteúdo de estima precário. Mais tarde a baixa autoestima será a matéria prima para modelar o adolescente, naturalmente inseguro, às vezes manifestando essa insegurança por meio de revoltas, desvios de conduta, que vão moldar uma personalidade insegura, um ser medroso, covarde.
Quando alguém pergunta por que ele é portador de medo, de fobia, nem sabe responder. O medo pode começar e se estruturar dentro da sua história infantil ou em outras fases da vida.
Há medos, porém, que são estabelecidos além desta vida, e o estudo contínuo do espiritualismo nos abre um campo amplo de observação e possibilidades de análise, espetacular, ampliando nossa consciência. São medos originados em outras existências, experiências traumáticas que vivemos em anteriores encarnações e que hoje comparecem como medos absurdos, insegurança e fobias diversas como a social, em que o ser tem medo de enfrentar o público e de conviver em sociedade. Há medos cujas origens estão em momentos anteriores desta vida e há os que se reportam a situações pregressas, de vidas anteriores. Quando o medo é hiperdimensionado por quem o sente, acaba transformando-se em um transtorno patológico, uma enfermidade da mente, culminando na chamada fobia, causadora de muitos prejuízos, atingindo, inclusive, as crianças.
Visão distorcida.
Alguns segmentos da psiquiatria, psicologia e neurociência e de outras áreas afins como, também, algumas linhas filosóficas defendem a ideia de que os medos que todos nós apresentamos são, em certa medida, um mecanismo de autoproteção, de segurança, porque, se não tivéssemos medo, poríamos em risco a nossa integridade física e psíquica, a nossa vida familiar, profissional, e de outras formas de convivência social, já que nos exporíamos inadequadamente a perigos que desintegrariam o nosso equilíbrio emocional, social, físico e psíquico. Para essas áreas do conhecimento, o medo, até certa medida, é um mecanismo de autoproteção do ego, pois, ao sentirmos medo, contrabalançamos pelo natural instinto de preservação e conservação o desejo/vontade de fazer alguma coisa que às vezes colide com o razoável, com o lógico, com o racional. Nesta visão distorcida, o medo é o contraponto do desejo/vontade. Ao ponderarmos medo versus desejo/ vontade, buscando a melhor relação, chegaremos a uma equação que nos possibilita a solução satisfatória, que é o equilíbrio entre ambos. Isto é uma visão equivocada da realidade.
Essas áreas que estudam a mente e o comportamento humano chegam a afirmar que o medo não é uma fraqueza, e sim uma característica importante que, se manifestado em determinada proporção, é saudável para o desenvolvimento emocional da criança, adolescente e adulto, assim como é um bom mecanismo de garantia da manutenção da espécie. Afirmam essas áreas que o medo nos acompanha desde o início dos tempos e é considerado imprescindível à sobrevivência humana.
Visão racional.
As ideias sobre o medo defendidas por essas áreas do conhecimento e linhas filosóficas representam uma visão distorcida da realidade, pois consideram o medo um contraponto do desejo/vontade, enquanto a doutrina racionalista cristã afirma que são as faculdades e os atributos do espírito aplicados de forma lógica e racional, como a vontade fortalecida e bem direcionada, o contraponto do desejo, e não o medo. É a vontade fortalecida pelo uso correto da razão, da lógica, do bom senso e da consciência esclarecida, que se opõe ao desejo do tipo agressivo, irrefreável, de fazer o irracional, o ilógico.
Ainda segundo essas áreas do conhecimento, o medo é uma circunstância instintiva que faz parte da nossa história evolutiva. Afirmam que o medo vem de nossas origens enquanto seres que emergem num processo evolutivo, saindo de uma caminhada evolutiva de estado ainda pouco desenvolvido de vida para um estado de maior expressão, maior racionalidade, maior contexto no campo da intelectualidade, maior expressão da emoção.
Esta é também uma interpretação distorcida sobre o medo, demonstrando essas linhas filosóficas, outra vez, uma visão incoerente com a realidade, pois confundem o medo com o instinto – natural necessidade de sobrevivência ou de perpetuação das espécies –, instinto este presente na parcela da Força em evolução em todas as suas diferentes fases do processo evolutivo, inclusive na fase em que a parcela conquista a condição de espírito.
A doutrina racionalista cristã, escola filosófico-espiritualista, nos esclarece que há várias teorias para o medo. Algumas delas dizem que o medo é necessário para a sobrevivência humana, como mecanismo de autoproteção, mas estão fundamentadas em interpretações distorcidas da realidade.
A realidade é que o medo é de origem psicológica e de caráter espiritual. É de origem psicológica por ser criado na esfera psicológica, e não física, por se instalar no plano das ideias, da psiqué humana – universo psíquico do ser. O medo é de caráter espiritual por achar espaço e condições favoráveis na mente dos seres que o alimentam a ponto de se desenvolver, progressivamente, pelo mau uso das faculdades e dos atributos nobres do espírito, como a inteligência, o raciocínio, o livre-arbítrio, a consciência esclarecida, a compreensão, a lógica, a ponderação, a moderação e a vontade fortalecida para executar ações dignificantes. É de caráter espiritual, porque o ser necessita desses atributos nobres como recursos postos em ação para evitar o medo, e caso este se instale em seu mental e permaneça ativo, vivo em seus pensamentos, poder extirpá -lo, desenergizá-lo, definitivamente, varrendo esse lixo da mente.
É preciso vencer a barreira do medo que embota, paralisa os seres impedindo-os de levar uma vida digna, produtiva e de qualidade. Entre os antídotos eficazes contra o medo estão a busca contínua da autorreflexão para se chegar ao autoconhecimento, e a partir dessa conquista poder aplicar boas autossugestões embasadas em métodos e abordagens encorajadoras.
O medo não é mecanismo de autoproteção, de segurança, jamais. O medo, de qualquer natureza, está balizado por uma construção distorcida de pensamentos a respeito de algo e de tudo de que se tem medo. O medo, a fobia, a insegurança e as indecisões estão sempre diante dos seres fracos, e as fraquezas são perigosas no caminho do aperfeiçoamento da inteligência, do caráter e da personalidade.
A precaução, a cautela, o bom senso, o conhecimento dos próprios limites e o uso adequado dos recursos do intelecto, são disposições e maneiras que fazem o ser humano caminhar firme, com confiança, segurança, elevada autoestima, sem precisar escorar-se no sentimento do medo, que não passa de uma fraqueza humana, de uma muleta psíquica.
A mente humana é complexa vista na ótica do materialismo, mas numa perspectiva espiritualista não é tão complexa assim. O estudo sério da espiritualidade integrado à Ciência Experimental dilata o campo de observação e análise, amplia a consciência e facilita a compreensão holística, ou seja, integral do homem – espírito, corpo fluídico e corpo físico –, e o entendimento da fenomenologia que envolve seu universo psíquico.