Bons tempos, quando crianças ficavam afastadas das conversas dos “mais velhos”. Hoje não faz diferença porque a televisão ensina tudo que, na visão dos antigos, presta e que não presta, o que é próprio ou impróprio para os pequenos. Nem adianta tentar evitar isto ou aquilo, porque o importante é que meninos e meninas sejam espertos, saibam tudo, de tudo, por exemplo, conheçam preservativos aos sete/oito anos embora só os devessem usar no mínimo dali a uns sete/oito anos, mas a curiosidade e a facilidade… é o que se tem visto.
Pois é, como resultado dessa insana liberalidade (progresso?) o que se vê? Lá pelos anos 50/60 menino não dizia palavrão em casa nem na escola. Menina? Nem pensar! Havia uma ameaça perene de ovo quente na boca do malcriado. A maldade seria perpetrada pela vovó, tão carinhosa quanto malvada, dependendo da ocasião. Mamãe repreendia, impunha castigos físicos e morais. Com papai não tinha conversa, era na base do cascudo ou cachação. Naquele tempo até palavrão era palavrão. Dizia-se “palavra de baixo calão”, expressão hoje em desuso. Garoto que falava “nomes feios” era chamado de “boca-suja”, xingamento que os pequenos consideravam humilhação.
Em que resultou tanto rigor? Ambientes moralmente mais saudáveis, digamos, mais claros, que foram tornando-se turvos à medida que a TV foi substituindo a figura da vovó na educação (sem ignorar a atuação dos pais). Havia a preocupação de blindar a criança das maldades, hoje aparentemente a preocupação é expô-las.
Todo este blablablá é para situar o comportamento vulgar e indecente do Excelentíssimo Senhor Presidente da República do Brasil frente ao processo educacional das crianças e adolescentes brasileiros (não se trata do processo escolar, aquele da linguagem e aritmética, que isto, já se sabe, vai de mal a pior).
Pelo que temos visto e ouvido nos pronunciamentos do presidente deduz-se que ele foi orientado pela babá eletrônica, sem a prestimosa e indispensável colaboração da vovozinha. Provavelmente também sem a assistência do papai e da mamãe desviados dessa fundamental função por força dos compromissos de ordem material, que não são providos sem contrapartida monetária.
Useiro e vezeiro em dizer uma ou outra impropriedade sobre os ouvintes de seus discursos, desta vez Sua Excelência excedeu-se. Não desrespeitou apenas sua pequena plateia ou os 57,7 milhões de eleitores que lhe deram a preferência no universo de 115,8 milhões, mas ofendeu todos brasileiros, dentro e fora do país. Por certo todos foram alcançados e ofendidos com a sequência de palavrões proferidos pelo ilustre personagem ao fingir defender-se da acusação de haver autorizado gastos absurdos com supérfluos de supermercado.
Esse deplorável episódio deu-se num almoço realizado numa churrascaria, em Brasília, do qual participavam o ministro das Comunicações, o secretário especial da Cultura e artistas. Com a postura tradicional, o presidente atacou a imprensa, que noticiou a compra de leite condensado superfaturado nas contas de 2020. Cada lata, teria custado mais de R$ 160.
Já que as vovós têm sido repetidamente citadas neste artigo, lembremos uma das expressões que costumavam usar: o palavrório desviou a atenção do “xis do problema”, ou seja, o que motivou o desesperada e deseducada reação do presidente: a denúncia de que os brasileiros gastaram 15 milhões de reais em leite condenado para abastecer a despensa presidencial. A denúncia está no ar, sem uma resposta plausível. O povo quer saber: quanto foi realmente gasto, quantas foram as mimosas latinhas, o que o governo pretende fazer com elas?
A direção de A Razão abraça todos os que condenam essa atitude obscena de quem nos governa, e lastima, envergonhada, que o presidente dê tão mau exemplo à nação. É de se acreditar que ele pretende que a humilhada república das bananas, mais tarde desacreditada por um chefe de Estado europeu como país não sério, passe a ser considerada o paraíso dos depravados.