Morte no exílio

Em 322 a.C. contava Aristóteles 62 anos de idade. A essa altura de sua vida, os atenienses e também o próprio Alexandre, o Grande, de quem Aristóteles fora preceptor e querido amigo, tornaram-se hostis a ele.

Desse modo, ”viu-se o suave filósofo cercado de perigo de ambos os lados”. Os riscos que corria em Atenas não só persistiam como cada vez mais cresciam. Os atenienses passaram a considerar Aristóteles um estrangeiro e persona non grata na cidade. Acusavam-no também de ser espião a favor da vizinha e inimiga Macedônia. Pois sabiam que, apesar de seus desentendimentos com Alexandre, continuava Aristóteles a defender o rei e ditador macedônio, que derrotara e submetera ao seu domínio Atenas e demais cidades gregas.

Pernas, pra que vos quero?. As suspeitas dos atenienses tinham chegado a tal ponto que Aristóteles chegou a ser ameaçado de prisão. Lembrando-se do trágico fim de Sócrates – condenado à morte por envenenamento –, apressou-se a sair da cidade antes que fosse tarde demais. Não quis ele dar aos atenienses, conforme disse, “uma segunda oportunidade de pecarem contra a filosofia”.

Aristóteles, observa o historiador Henry Thomas, escapou dos atenienses que desejavam condená-lo, mas não da morte. Ela o esperava na cidade de Cálcis, onde se refugiou. De fato, poucos meses depois de sua partida de Atenas, adoeceu o filósofo gravemente e morreu, aos 62 anos, no exílio, isolado de todos, em 322 a.C.

Ainda nesse mesmo ano, e com a mesma idade, 62, morreu o famoso orador ateniense Demóstenes – maior inimigo de Alexandre e um dos que tinham clamado pela condenação de Aristóteles.

Um ano depois (323 a.C.), morreria também Alexandre, o Grande, com apenas 32 anos de idade. (Não há consenso, até hoje, entre os historiadores sobre a real causa de sua morte.)

“No espaço de doze meses”, comenta o historiador Will Durant, “a Grécia perdera seu maior soberano, seu maior orador e seu maior filósofo”.

Influência do aristotelismo. No início do século III d.C., os filósofos peripatéticos ortodoxos, continuadores de Aristóteles no Liceu, transferiram a escola para Alexandria, que era, então, a nova capital da inteligência.

Outras correntes filosóficas que, além dos peripatéticos ortodoxos, sofreram também a influência de Aristóteles foram os estoicos (século IV a.C a III d.C.); importantes pensadores muçulmanos árabes (século VIII a XV d.C.); alguns,  também importantes, pensadores judeus, entre os quais o mais notório deles, Moisés Maimônides (século XII d.C); os escolásticos, filósofos cristãos da Idade Média (a partir do século XIII), para os quais, “tirante a ‘revelação divina’, a filosofia de Aristóteles constituía a mais alta verdade que a razão humana pudera atingir”.

O legado aristotélico, declaram os historiadores da filosofia, é, na verdade, inestimável. E é comum afirmarem ser inacreditável que tão vasta, tão abrangente e admirável sistematização do saber humano – desde as ciências naturais às altas cogitações metafísicas, enfim todos os campos do conhecimento – possa ter sido realizada por um só espírito.

Mestre dos sábios. Assim se refere a Aristóteles, em sua sublime e imortal obra-prima – A Divina Comédia –, uma das grandes figuras da Idade Média, o maior poeta italiano, Dante Alighieri (1265-1321).

Essa declaração de Dante bem como mais umas poucas acima registradas – colhidas entre tantas que poderiam ser aqui acrescentadas (se não “estourassem” o espaço concedido a este artigo) – já nos dão uma ideia das honras que os séculos têm prestado ao “Filósofo”, como era chamado Aristóteles, na Idade Média, pelos escolásticos.

Desejo, porém, acrescentar, no espaço que me reste, algumas linhas, pois o que ainda desejo dizer, a seguir, neste último artigo sobre o nosso filósofo, é também muito importante.

Pouco antes de sua morte, escreveu Aristóteles a maior de suas obras: um breve testamento, mas que “fez época”, no qual determinava a libertação de seus escravos, tornando-se, então, o autor da “primeira proclamação de alforria da História”.