Na marca do pênalti

Noutros tempos, falar que algo ou alguém estava na marca do pênalti provocava certo frisson, alastravam-se temores entre os que tinham qualquer tipo de ‘culpa no cartório’, destruíam-se papéis e pastas de documentos que pudessem incriminar suspeitos de alguma coisa; havia até quem viajasse para fora do país para retornar quando a poeira baixasse. Hoje, parece, a vergonha de certos políticos, assessores, empresários e executivos esvaiu-se, levando com ela o medo de punição. Nesse ponto igualam-se a traficantes e assaltantes, que também não temem nem a Polícia nem a Justiça.

Político implicado até o queixo em falcatruas mil é capaz de jurar pela sogra mortinha que jamais se envolveu em qualquer negócio escuso, que jamais conseguiu dinheiro ou outra vantagem indevida em função do cargo que ocupava na estrutura administrativa ou legislativa do país em seus três níveis.

Falar de marca do pênalti em tempo de campeonato mundial de futebol é tão oportuno quanto falar que ainda muitas cabeças vão rolar, como rola a bola nos gramados, recebendo chutes de todos os atores, por extensão, de todos os brasileiros. Eleitores bem que gostariam de chutar algumas cabeças coroadas.

Parece haver mais político brasileiro na marca do pênalti que fora dela. É quase o caso de se indagar: quem é a bola da vez?

Estas são apenas reflexões, que nem passam pelas grandes dúvidas. Por exemplo:

1. Cadê o dinheiro desviado?

2. Quem vai possibilitar a recuperação da que foi a maior empresa do Brasil e hoje tem valor de mercado em queda diária, com um ou outro momento de suspiro, como um afogado que eventualmente põe a cabeça fora d’água. Nesse mergulho levou as economias de milhares e milhares de brasileiros então confiantes em que estavam apostando numa rocha inabalável. Não lhes passava pela cabeça que corruptos praticamente a devastariam.

3. Por que a advogada Adriana Ancelmo precisa “cumprir pena’ de prisão em casa, para cuidar dos filhos que necessitam de sua presença, e as portadoras dos fatídicos três pês, com pencas de filhos, permanecem nos presídios?