Nada vem do nada

Este é um artigo que demanda profunda reflexão por parte dos leitores. Inicialmente, perguntamos “por que existe alguma coisa?” Esta é uma pergunta fundamental da Metafísica (estudo do que é transcendente), cuja resposta preocupou grandes filósofos de todos os tempos, notadamente Gottfried Wilheim Leibniz (Julho 1646-novembro 1716), Ludwig Wittgenstein (abril 1989–abril 1951) e Martin Heidegger (setembro 1989– maio 1976).

Vale a pena estender um pouco mais sobre o que é a Metafísica, como ramo da Filosofia que estuda a natureza fundamental da realidade, incluindo os primeiros princípios de ser ou existir, a verdadeira identidade do ser humano, a lei de causa e efeito, as necessidades do ser humano, o espaço e tempo, qual o sentido da vida etc. Ela é um dos quatro ramos da Filosofia; os outros três sendo a Epistemologia, a Lógica e a Ética. Ela inclui muitas questões como, a relação entre matéria e mente, consciência e sua natureza, a relação entre substância e atributo. Enfim, a Metafísica estuda que algo existe e por sua causa existe. No entanto, suas respostas são abstratas e fogem à realidade que premia a convicção.

De outro lado, o nada não existe, ou melhor, pergunta-se por que existe algo em vez de nada? Para existir algo ou alguma coisa tem que haver um observador (ser humano) que observa, registra e pode fazer experiências com o que foi observado. Esse é o princípio da causalidade, um dos fundamentos de todas as ciências. Isso quer dizer que, muitas vezes, a ciência é confrontada com respostas provisórias. A lei de causa e efeito preocupa-se com fenômenos universais, mas parece não se aplicar com o momento (sua causa) em que algo passou a existir. Daí, a dificuldade em explicar a causa de todas as causas, como a que está na seguinte pergunta: “De onde veio ou foi criada e por quem foi criada a Inteligência Universal, o Deus das religiões?”

Definições de Deus.  Existem duas correntes de teístas clássicos: os teístas que não acreditam na existência de um Deus e os que acreditam em sua existência, o que implica diferentes definições para Deus. O teísmo clássico caracteriza Deus como um Ser (no sentido de existir) metafisicamente inicial no sentido de Primeiro Ser, atemporal, perfeito, mas desprovido de qualidades antropomórficas. Ainda assim, a crença desses teístas clássicos é que não acreditavam que Deus pudesse ser definido. As religiões orientais de inclinação panteísta postulam que Deus é uma força contida em todo e qualquer fenômeno que se possa imaginar. Na definição de Baruch Espinoza (1632-1677), filósofo racionalista holandês, e filósofos que o seguiram, Deus é definido como as substâncias e princípios essenciais da natureza.

Diante desse abismo da inteligência, do raciocínio e da logica humana no nosso mundo real reside uma abstração enorme que leva à discussão da existência de Deus. Por exemplo, nessa categoria temos as três religiões predominantes neste nosso mundo-escola que são o catolicismo cristão (que caracteriza Deus como sendo a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espirito Santo), o islamismo (Alá) e o judaísmo (Javé), todas tidas como divindades que habitam o céu (espaço universal).

Argumentos contra a tentativa de responder à pergunta “Deus existe?” Primeiramente, um estado de nada pode ser impossível de existir, segundo o pensador grego pré-socrático Parmênides (530 a.C. – 460 a.C.), um dos primeiros pensadores ocidentais a questionar a possibilidade do “nada”, seguido de muitos outros filósofos famosos que argumentaram que o nada é a ausência de qualquer propriedade ou possibilidade e, portanto, estaríamos diante de uma contradição lógica que algo fosse criado a partir da falta de possibilidade de criação.

O segundo argumento contra a existência de Deus é devido a Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), filósofo grego da antiguidade que argumentou que tudo no Universo deve ter uma causa (princípio da causalidade ou lei de causa e efeito), que por retrocesso temporal culmina com uma “causa primeira sem causa”. Mas David Hume (1711-1776), filósofo inglês, argumentou que uma causa pode não ser necessária no caso da criação de Deus e da formação do Universo porque o momento temporal em que tais eventos ocorreram estão fora de nossa experiência humana, podendo estar sujeita a regras diferentes das necessidades das causas. É famosa a frase de Bertrand Russel (1872-1970), filósofo inglês, que disse: “Eu diria que o Universo simplesmente existe, e isso é tudo.”

Este argumento, na verdade, subentende que a questão está fora da nossa realidade. É o que diz o filósofo Stephen Law (filósofo inglês, nascido em 1960, atualmente com 63 anos), argumentando que a questão pode não precisar de resposta, pois não é possível responder a uma pergunta sobre um evento que está fora do ambiente espaço-tempo a partir de um ambiente terreno. Ele diz que seria a mesma coisa que tentar responder à pergunta “o que fica ao norte do Polo Norte?”. É uma resposta evasiva, mas faz sentido lógico-matemático.

Argumentos ou provas da existência de Deus. As provas mais conhecidas sobre a existência de Deus foram formuladas pelos filósofos teístas Santo Anselmo (1033–1109), Santo Agostinho (354 -430) e São Thomaz de Aquino (1225 –1274), e pelos filósofos citados no início deste artigo. Delas vamos tratar num segundo artigo em abril/24 aqui no Jornal A Razão.

Conclusão. A expressão latina “nihilo ex nihil fit”, que significa “nada vem do nada”, título deste artigo, nos levou a examinar com maior amplitude a lei de causa e efeito e explorar as antecedências das causas por retroatividade até chegarmos à “causa primeira” aplicada à compreensão da existência ou não existência de Deus, que o Racionalismo Cristão denomina Inteligência Universal. Obviamente, como não podemos observar a sequência de causação desde uma “causa primeira”, somos incompetentes para discernir e concluir pela existência de Deus aplicando tão somente a lei de causa e efeito, confirmando a expressão “nada vem do nada”. Outros fatores, fora de nosso conhecimento e experiência, atuando no espaço-tempo universal poderiam ter interferido para criar a causa primeira ou causa de todas as causas.