Natureza espiritual da maternidade: mudanças que o papel de ser mãe traz para a vida

O tema desta reflexão, sem dúvida alguma, é extremamente rico, já que pelo próprio enunciado ficamos sabendo de duas importantes informações: que a maternidade tem uma natureza que transcende os laços biológicos e que ela implica em mudanças objetivas e subjetivas para a mãe.

Para maior parte da humanidade os filhos representam a continuidade da vida, no tempo e no espaço. Esse entendimento tem raízes históricas. Na Antiguidade, quando os conhecimentos espiritualistas que apontam para a imortalidade da alma ainda não eram nítidos, os gregos e romanos eram cultores da ideia de que os filhos representavam a esperança do futuro, uma visão que, de certo modo, exprime um senso de espiritualidade.

A maternidade humana, embora seja biologicamente análoga à de outros seres da natureza, distingue-se de modo fundamental e exclusivo por sua natureza espiritual, sobre a qual se funda sua eminente dignidade. Aqueles que negam essa realidade estão cristalizados na visão empírica da vida e, por conseguinte, desprezam a perspectiva espiritual, que é, por seu turno, o suporte de todas as realizações.

Assim, o corpo físico gerado no ventre materno não pode ser considerado isoladamente, uma vez que ele é a materialização de um projeto espiritual que excede, muitas vezes, a acanhada percepção humana. A partir do conjunto formado por essas duas dimensões – a física e a espiritual –, compreende-se nitidamente o valor irrenunciável do ser humano: este possui uma propensão natural à espiritualidade e é estimulado, durante toda a vida, a replicar o amor espiritual que recebeu de sua genitora.

De fato, a renúncia à própria afetividade produz consequências negativas no campo emocional das pessoas. O desejo de ter filhos reproduz a afetividade inata do ser humano que deseja compartilhar de seu amor. Sabemos que não é exclusivamente por meio da maternidade que a mulher se realiza. Contudo, a partir desse preâmbulo, queremos fazer referência à necessidade humana de estabelecer relações, orientar, educar e amar.

A função precípua dos nossos estudos em torno da espiritualidade é ampliar horizontes, e é nessa perspectiva que conduziremos esta reflexão. Tal função é extremamente importante, na medida em que a espiritualidade dá validade a todos os fatos e acontecimentos que vivenciamos. Assim, devemos sempre e com muita humildade pesquisar seu verdadeiro alcance, a fim de meditar sobre sua abrangência. Como regra fundamental, lembramos que onde não existe dúvida e interesse sincero pelo conhecimento a experiência evolutiva se torna estéril.

A natureza espiritual da maternidade é um tema que nos solicita, profundamente, uma reflexão. Para bem ver sua importância, é condição sine qua non que o estudioso esteja despojado de preconceitos e parâmetros alicerçados no senso comum.

Por que afirmamos que a maternidade possui natureza espiritual? É simples: ela não é um processo que se inicia na concepção e se conclui no parto. A maternidade é uma missão de amor – um amor profundo, desinteressado, abnegado, verdadeiro. A plenitude desse sentimento encontra fundamento nos valores transcendentes do espírito. Reafirmamos, com base nesse fato, a natureza espiritual da maternidade.

Há que considerar o fim elevado ao qual a maternidade se destina, pois do reconhecimento desse valor depende o posicionamento de todos os espíritos envolvidos no processo.

É inquestionável que a maternidade implica em profundas transformações na mulher. Os eventos da gestação, parto e puerpério promovem alterações físicas e emocionais. Porém, destacamos que, quando se torna mãe, ativa-se na mulher um sentido que ela antes desconhecia – a partir do momento em que ela assumir um novo ser como parte integrante de sua vida, jamais será a mesma. A fecundidade de sua existência atinge, por meio da maternidade, a plenitude, e os sentimentos muitas vezes contraditórios que passarão a ser constantes em sua vida só estimularão ainda mais essa fecundidade.

Uma vez que somos todos filhos, sabemos que a sublime missão de ser mãe é tarefa das mais difíceis e ao mesmo tempo fundamental para a humanidade. Historicamente árduo e desafiador, o desempenho da função materna sempre se traduziu em incomensurável benefício espiritual, intenso bem-querer, acentuado estímulo à prática do bem e considerável progresso no campo ético-moral.

No percurso de um casal, cuja união se fundamenta no amor recíproco e na capacidade de partilhar, a figura do filho é fundamental. Sem esse fruto, que é um ponto de referência, o caminho para a maturidade espiritual se ressente da experiência positiva de doação plena e desinteressada, que marca a relação entre pais e filhos. Entretanto, certo é que, quando a maternidade não pode ter espaço pela via biológica, a possibilidade de adotar uma criança deve ser considerada, porque precisamente aí emerge exuberante a natureza espiritual da maternidade.

A adoção expressa a subjetividade do amor e dá início a um dinamismo de altruísmo e solidariedade entre realidades sociais muitas vezes completamente distintas. É imperioso exaltar, sobretudo em uma época marcada pelo egoísmo e pelo consumismo, o valor humano da adoção. A vida do casal que adota uma ou mais crianças se completa e se realiza, porque a partir desse convívio não deixarão de sentir a importantíssima presença filial em suas existências e sua participação na existência filial. Portanto, a adoção criteriosa e responsável representa um gesto de generoso acolhimento e deve ser incentivado.

A gravidez na adolescência é uma questão que sempre suscita preocupação e costuma promover divisões familiares de difícil solução. Entretanto, ocorrendo a gravidez nessa fase da vida, não devem os pais se valer de sua autoridade para reprimir a jovem – muito pelo contrário: devem conduzir a questão com equilíbrio e sensatez, a fim de poder dar um direcionamento positivo e elevado a essa circunstância, meditando principalmente sobre sua parcela de responsabilidade diante do ocorrido.

Muitas pessoas acreditam que o problema da gravidez na adolescência reside exclusivamente no fato de que muitas mães nessa idade não apresentam maturidade e renda suficientes para criar uma criança. Entretanto, os problemas vão além do fator etário e da questão econômica.

A mulher que engravida precocemente pode apresentar sérios problemas psíquicos antes e depois do parto. A maternidade vivenciada em um contexto de pressão e cobrança desvia a atenção da jovem em relação a sua realidade específica, podendo tornar o evento ainda mais traumático. Portanto, a necessidade de diálogo permanente entre pais e filhos assume excepcional relevo nesse momento.

É preciso ressaltar o valor da família, pois ela contribui de modo especial para a elevação da sociedade. Entretanto, por mais dedicação que os pais tenham em relação a seus filhos, não se devem utilizar desse fato para tentar mantê-los em estado de perpétua dependência, uma vez que os filhos não são propriedades dos pais. Nem a maternidade nem a paternidade estabelecem direitos sobre os filhos; com efeito, são os filhos que têm o direito de ser bem encaminhados pelos pais.

O esforço dos pais na criação dos filhos não deve ser invocado para justificar a dominação e o egoísmo – que isso fique claro. As motivações que devem estimular os pais e responsáveis no desempenho de suas atribuições se fundam no reconhecimento de suas próprias responsabilidades perante a consciência, a família e a sociedade, buscando sempre o equilíbrio hierárquico desses valores.

Nesta conclusão, devemos abordar mais uma faceta da questão. Falar de maternidade sem falar de dor é descambar no terreno da fantasia. A maternidade implica em restrições e dores físicas. A entrega de si mesma à experiência da maternidade é sublime – faz que a mulher seja tocada pela dor, mas também que ela sinta o declinar dessa dor diante da felicidade de ser mãe.

É muito bonito ver aquelas imagens de mães junto de seus bebês tranquilos dormindo em seus braços, como também desperta grande sentimento a beleza que envolve a cena da mãe que amamenta seu filho. Essas representações, na verdade, têm muito a nos ensinar. Elas simbolizam superação, mas também despertam em nós um sentimento elevado que nos revela que as verdadeiras relações humanas são marcadas pelo amor.

E por que as mães são tão corajosas e hábeis em sublimar a dor? A resposta está na apresentação do tema. Com efeito, a natureza espiritual da maternidade promove a coragem e a habilidade nas mães de encarar as situações mais difíceis com os olhos fitos no futuro, pois são capazes de imensos sacrifícios pessoais para que sua prole se projete e se realize na vida.

Aprendamos, portanto, com as mães e sejamos-lhes gratos, porque todas as vezes que nos superamos na vida, fazemo-lo apoiados nos ensinamentos e exemplos de nossas abnegadas mães. Parabéns a todas as mães!

Muito Obrigado!