“A terceira volta ao mundo já tinha sido decidida desde o retorno da segunda, mas pensar é uma coisa, e sair mar afora é outra. Muita gente pensa, passa a vida pensando e nunca sai do lugar. Para sair, você tem que juntar uma certa quantidade de energia, um bocado de vontade, talvez um mundo de vontade, a ponto de vencer os obstáculos, romper as amarras e partir.”
Grande Aleixo Belov. Nascido Alexey Dimitrievitch Belov em 9 de janeiro de 1943, na cidade de Merefa, na Ucrânia, ele é um empresário, engenheiro, navegador e escritor radicado na Bahia. Segunda Grande Guerra em curso, seus pais emigraram, primeiro, para Polônia, Alemanha, Itália e, depois, vieram para o Brasil, onde descobriram que, por aqui, não existia Alexey. Daí, o nome foi aportuguesado para Aleixo. Ele tinha seis anos.
Conhecido como o Senhor dos Oceanos, Aleixo, hoje com 79 anos, recebeu da nossa Marinha o reconhecimento por ter sido o primeiro navegador a dar a volta ao mundo, sozinho, a bordo de um veleiro com a bandeira brasileira. A embarcação foi batizada de Três Marias, e isso foi na década de 80.
De lá pra cá, já foram mais três voltas ao mundo, incluindo uma expedição ao Alasca em um veleiro-escola, que recebeu jovens estudantes de várias áreas e que puderam embarcar no Fraternidade junto com o experiente navegador. Nessa empreitada, Aleixo mostrou toda sua generosidade para ensinar o muito que aprendeu e continua aprendendo. Pensa que ele está aposentado? Que nada! Está no mar novamente.
E isso nos diz muita coisa. Nos diz sobre sonhos, sobre ter bons pensamentos (realizar), sobre colocá-los em prática, sobre estudar um assunto, sobre se esforçar, sobre não desistir, sobre compartilhar, sobre aproveitar o que o mundo tem a oferecer. Sendo sempre uma pessoa bem-humorada, criativa, ‘resolvedora’ de problemas, amiga dos outros, disposta a viver da maneira mais honesta possível.
Em um depoimento ao site da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a oceanógrafa Anita Oliveira, uma das integrantes da expedição com o Fraternidade, escreveu que os dias no mar são iguais e diferentes ao mesmo tempo. “O aprendizado é intenso. Começa uma busca incessante pelo conhecimento da arte de velejar, como as velas se chamam, como elas funcionam, quais velas usar em cada condição de vento, como elas devem estar posicionadas para aumentar a velocidade do barco, como monitorar a direção e a intensidade do vento, como saber a hora de rizar as velas e esperar aquela ventania diminuir, como interpretar os sinais da natureza, quando ligar o motor, quando desligá-lo etc.” Ela disse que o que Aleixo ensinou a todos os jovens participantes do projeto foi viver sobre as águas por um tempo desconhecido. E não é fácil.
O trecho que abre este texto é para se ler mais de dez vezes. Cem. Volte a ele. Ainda bem que eu o pesquei em uma das placas disponibilizadas no Museu do Mar, que funciona no charmoso bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, para abrigar o acervo do velejador. É um lugar incrível. Um antigo casarão reformado e, dentro dele, o Três Marias. Sim, o veleiro. O imóvel foi adaptado para receber a embarcação e é onde podemos ler as várias histórias que cercam esse navegador baiano-ucraniano. Dá também para apreciar as fotos de lugares inimagináveis, os objetos de navegação, os suvenires que Aleixo trouxe dos locais por onde passou, fotos da família (ele tem cinco filhos), frases e mais frases motivadoras. Dá gosto de visitar.
Para ser alguém de verdade, que se sinta realizado e que dê orgulho aos demais, não é necessário dar voltas ao mundo. Veja bem. Esse está sendo o sonho de Aleixo. O meu, o seu sonho é outro. Tão grande quanto. Vamos precisar do mesmo estudo, do mesmo esforço e da mesma dedicação que podemos aprender com esse personagem que apresentamos aqui. Temos todos os recursos que ele teve e outros mais dentro de nós e que nos ajudarão a tocar o barco. Pra frente, sempre!