Podemos considerar o problema do alcoolismo no Brasil como um dos mais carentes de um combate sistematizado e educativo.
O alcoolismo não é apenas um problema de polícia e medicina; é, sobretudo, de educação, porque os adolescentes aprendem a beber no próprio lar e no meio ambiente em que vivem, habituando-se ao vício pelo uso constante e imoderado de bebidas alcoólicas.
O vício do álcool em nossa terra constitui verdadeira calamidade pública, que atinge todas as classes sociais, e o pior de tudo é que a sociedade e os poderes públicos silenciam ante tão angustiante desgraça, pois alcoolizar-se na época presente já não é um ato de desdouro e sim uma coisa comum que se incorpora aos nossos costumes, para infelicidade do povo brasileiro.
Não obstante o indiferentismo governamental pelos problemas do alcoolismo, há associações de combate ao álcool que funcionam eficientemente e entre elas cumpre-nos ressaltar a Associação Antialcoólica de São Paulo, que é uma entidade reconhecida de utilidade pública, cujos dirigentes foram todos alcoólatras e que agora, recuperados e libertos do etilismo, alçaram uma bandeira de esclarecimento e de combate ao alcoolismo, o maior inimigo do gênero humano.
Os componentes da Associação Antialcoólica de São Paulo, com o seu magnífico exemplo de abjuração às bebidas alcoólicas, procuram encorajar e estimular os que se debatem, para deixar o vício, e, assim, inúmeras criaturas se têm restabelecido física e moralmente e voltam ao trabalho e ao seio da família.
Muitos recuperados ingressam na associação num gesto de agradecimento e de amor ao próximo.
Não é mais admissível que o álcool continue como senhor absoluto da humanidade na época presente em que o espiritualismo, a técnica, a ciência e os costumes têm evoluído para tirar-nos das garras da ignorância e dos vícios.
Os pais e educadores, bem como as associações de benemerência, devem incutir na mente da juventude a abstenção ao alcoolismo, a fim de que se forme uma mentalidade antialcoólica nas escolas e nos lares.
Pondo a vontade em ação para o Bem, dentro do bom senso e da perspicácia, qualquer pessoa pode libertar-se do vício das bebidas alcoólicas.
Praticando-se uma higiene mental, pelo revigoramento da vontade com pensamentos impregnados de ponderação, pureza e altruísmo, portanto, contrários ao vício, que é uma decorrência da dubiedade moral, que se apodera do indivíduo enleado de pensamentos de fraqueza, pode-se evitar o hábito do álcool.
Como vemos, o segredo da vitória e da derrota do alcoólatra está no pensamento e, consequentemente, no poder da sua vontade de livrar-se desse terrível tóxico, que enferma o corpo e obseda a alma.
Os presídios e os hospitais de todo o mundo estão superlotados de criminosos e doentes, na sua grande maioria, vítimas do alcoolismo.
São irmãos que se trucidam! São amigos que se matam! São lares que desmoronam! São crianças que ficam na orfandade e no abandono! São mulheres que entram para a viuvez e para a miséria! São pais que choram a desgraça dos seus filhos!
Existe essa chaga moral, mais danosa do que o câncer, porque a maioria da coletividade humana ainda vive dominada pelos preconceitos e por maus costumes, não vacilando, por interesses escusos, lançar os seus semelhantes na degradação.
O combate ao alcoolismo é, realmente, uma obra de sã moral e de elevado patriotismo, para que o nosso povo se torne cada vez mais forte e varonil. Precisamos de mais escolas e de menos estabelecimentos de bebidas alcoólicas.
Publicado em 20 de agosto de 1965.