Uma cena do filme Benzinho, produção nacional dirigida por Gustavo Pizzi, chama a atenção. Sobrecarregada com as tarefas domésticas, sendo mãe de quatro filhos, e abrigando a irmã, que sofre com a violência do marido, a personagem Irene, vivida pela atriz Karine Teles, também roteirista do longa, simplesmente deita no chão depois de reclamar com o marido e o filho mais velho que chegam da farra.
Ela está às voltas com um dos gêmeos com febre, a casa desarrumada, voltando da busca por um emprego fixo, quando chega em casa e encontra os filhos menores sem tomar banho, um deles ardendo em febre, sem ter jantado etc. Ela briga com o filho adolescente, que ficou de tomar conta dos irmãos menores e, depois, briga com o marido e o mais velho, que chegam tarde.
E simplesmente deita no chão e chora. É um desses momentos de desespero em que a gente pensa ou diz “Não quero mais”, “Não aguento fazer tudo sozinha”, “Estou cansada”, “Está puxado”. É cena de filme, mas perfeitamente real.
Com a crise que nos assola – moral e econômica –, os dizeres de Maria Cottas estão mais atuais do que nunca. Ela já escreveu que a labuta, muitas vezes, é mais dura e sofrida quando se é pobre, quando não há recursos. O cotidiano fica, então, difícil de ser suportado. É o que retrata o filme: a porta da casa emperra, e as pessoas têm de entrar e sair pela janela, com a ajuda de uma escada; a torneira da cozinha quebra, e a água jorra horrores; o negócio do marido – uma papelaria – vai de mal a pior. Não sobra dinheiro para terminar a construção da casa própria.
Quando não se tem recursos, a força para suportar as adversidades deve ser redobrada. Jogar-se no chão é um ato de desespero, descontrole, cansaço… Melhor parar, respirar, começar de novo, organizar as coisas, as ideias, pedir ajuda e ter esperança.
Caruso Samel, em Reflexões sobre os sentimentos, define o desespero como um sentimento de frustração de quem é infeliz, sendo, portanto, um estado aflitivo muito negativo. “O desespero ou desesperança é a morte em vida de quem despreza a simpatia, o amor e a amizade dos seus semelhantes”. Seu contrário é, pois, a esperança.
Ainda falando do filme, que estreou em agosto e foi vendido para mais de 20 países, o aspecto positivo é o entendimento do casal, que se ama, e a união entre pais e filhos e entre os irmãos. Apesar dos problemas, eles passeiam, gargalham, ajudam um ao outro, são solidários, torcem pelo sucesso do outro.
Não é à toa que o filme se chama Benzinho e foi renomeado, em inglês, de Loveling e, em espanhol, Siempre juntos. É um resgate ao amor, à simpatia e à esperança, que devem reinar na nossa vida diária.
O melhor, então, é levantar-se, buscar apoio uns nos outros, lutar por dias melhores, entender o limite de cada um, tentando uma vida mais amena e menos turbulenta. Com dinheiro ou sem dinheiro, desesperar não leva a nada. Passado esse momento, cuide bem dos outros tantos momentos felizes que ocorrerão se procedermos bem.