O estoicismo na Roma imperial – 3

Como viver uma vida plena, uma vida feliz? Como ser uma pessoa com boas qualidades morais?” Responder a essas duas perguntas fundamentais foi, segundo um de seus biógrafos, a única paixão de Epícteto.

Um historiador do pensamento greco-romano destaca como principais objetivos da doutrina de Epícteto a busca da felicidade, a valorização da razão e do conhecimento. As chamadas “representações sociais”, um dos ramos do saber, tido, por sua vez, como um dos principais objetivos da filosofia, merecem especial atenção do mestre.

Definidas como ”formas de conhecimento socialmente elaboradas e partilhadas, com uma finalidade prática, e que contribuem para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”, as representações sociais levaram, com efeito, Epícteto a afirmar, de modo categórico, a real necessidade de o ser humano conhecê-las, sem o que não poderá ter condições de fazer boas escolhas na vida.

Cosmo racional. A visão do filósofo em causa a respeito do Universo é a de um Cosmo racional, organizado e harmônico, em que tudo, incluindo o ente humano, tem uma função. O homem, ou a mulher, não é feliz senão quando cumpre sua função, única maneira de viver em harmonia com as leis naturais do Universo.

Uma das causas da infelicidade humana, diz  Epícteto, é, sem dúvida, o desejo. “A felicidade e o desejo não podem viver juntos”. Segundo ele, realização pessoal e felicidade são decorrência natural de um viver correto. Na verdade, “vida virtuosa e vida feliz são sinônimos”, reitera nosso filósofo, fazendo coro com os epicuristas e com o próprio Zenão, fundador do estoicismo.

Existem dois tipos de coisas, considera Epícteto; algumas são encargos nossos; outras, não. O juízo, o impulso, o desejo, a repulsa, em suma, tudo que seja ação nossa é encargo nosso. Já o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos, enfim, tudo que não seja ação nossa não é encargo nosso.

O que, por natureza, constitui encargo nosso “é livre, desobstruído, sem entraves”. “São, porém, débeis, escravas, obstruídas, de outrem” as coisas que não são encargos nossos.

Aceitar a realidade. Se o ser humano pretende alcançar a liberdade, afirma Epícteto, deve desprezar tudo que não depende dele, pois não há outra maneira de tornar-se livre. E, se quer ser feliz, tem de aceitar a realidade. Ou seja, as coisas que não podem ser mudadas devem ser aceitas como elas são. Procuremos mudar apenas o que pode ser mudado.

Ademais, devemos distinguir aquilo que é útil daquilo que é inútil. “O que é útil a gente segue; o que é inútil a gente descarta.”

Para Nietzsche, Epícteto é ligado ao individualismo. O filósofo alemão vê, portanto, na doutrina desse estoico romano “um contraste com a moralidade atual concernente ao coletivo e ao social”.

 

Frases de Epícteto

Não dá para citar todas, porque são muitas. Vamos, porém, brindar o leitor/a com pelo menos algumas:

l  Se alguém lhe disser que certa pessoa fala mal de você, não se irrite com o que essa pessoa diz a seu respeito, e sim responda: ela ignora minhas outras falhas, senão não teria mencionado só essas.

l  Os homens não são perturbados por coisas, e sim pela visão que possuem dessas coisas.

l  Não tenha medo da pobreza, do exílio, da prisão ou da morte. Devemos ter medo é do próprio medo.

l  O homem sábio não é o que se entristece com as coisas que não tem, e sim o que se alegra com as que tem.

l  A felicidade só pode ser encontrada no interior do ser humano.