Marco Aurélio — o imperador-filósofo, autor de uma autobiografia, que se perdeu, e de Meditações, obra lida até hoje — viveu no século II de nossa era. De família proveniente da Bética (atual Andaluzia), ele nasceu em Roma, no ano 121, e foi ainda na infância, aos 11 anos, que resolveu ser filósofo.
Tendo perdido os pais, também ainda na infância, Marco Aurélio ficou sob a tutela do avô e algum tempo depois foi adotado por seu tio, Antonino Pio (86-161). Este, por sua vez, seria, mais tarde, aos 52 anos, adotado e associado ao poder pelo imperador Adriano, com direito a sucedê-lo, desde que também adotasse Lúcio Cômodo, um garoto cujo pai, amigo de Adriano, morrera.
A excelente educação que recebeu proporcionou a Marco Aurélio acurados estudos de gramática e literatura da língua latina (falada pelos antigos romanos), bem como grego, filosofia, ciências jurídicas, eloquência e pintura. Antonino Pio, ao assumir o trono, com a morte de Adriano, em 138, não só associou ao poder seu sobrinho e filho adotivo, como também o nomeou como seu sucessor.
Uns tais senhores. Ao mesmo tempo, Marco Aurélio, já com 17 anos, passara a se interessar pela doutrina e a vida de uns tais senhores conhecidos como estoicos que, havia pouco tempo, tinham chegado à Roma imperial. Conta-se que adotou, então, andrajoso manto, passou a se alimentar de comida simples e a dormir sobre dura enxerga. É escusado dizer que tal comportamento, inédito na história das cortes romanas, não seria admitido pela família imperial, que logo chamaria à ordem o príncipe adolescente e futuro imperador do mais poderoso império do mundo antigo.
Em 139, Antonino conferiu a Marco Aurélio o título de “césar” e, em 140, o de “cônsul”. Cinco anos depois, em 145, além de conceder a Marco Aurélio o título de “augusto”, ainda lhe daria em casamento sua filha Faustina, a Jovem.
Fato único. Com a morte de Antonino Pio, em 161, Marco Aurélio tornou-se, aos 40 anos, o novo ocupante do trono de Roma. O império tinha agora um governante-filósofo – fato único na história de Roma, se não do mundo.
Quando o imperador Antonino Pio nomeara Marco Aurélio como seu sucessor, não fizera qualquer menção a seu outro filho adotivo, Lúcio Cômodo. No entanto, tão logo se tornou imperador, Marco Aurélio baixou uma lei nomeando o irmão como coimperador. Em razão dessa lei, Lúcio Cômodo dividiria o poder com Marco Aurélio e passaria a chamar-se Lúcio Aurélio Vero.
Marco Aurélio tinha um filho também chamado Cômodo e o associou ao poder ao conferir-lhe, em 166, o título de “césar”. Em 177, concedeu-lhe o de “augusto” e não só chegou a nomeá-lo como “coimperador”, no lugar de Lúcio Vero, que morrera em 169, aos 38 anos, atingido pela peste, como também o declarou herdeiro do trono, decisão infeliz, diga-se, a bem da verdade. O filho herdaria o trono, sim, mas não a honradez, a dignidade, a grandeza moral do pai. E o reinado de Cômodo marcaria o início da decadência do Império Romano.
O início do reinado de Marco Aurélio foi, porém, marcado por grandes calamidades – na Itália, terríveis inundações; na Ásia Menor, terremotos; e invasões dos bárbaros. Mas isso de invasões de bárbaros era só o começo. Apesar de sua índole pacífica e de sua dedicação às letras e à reflexão filosófica, o imperador Marco Aurélio haveria de passar todo o seu reinado, ou seja, de 161 a 180, em incessantes guerras contra os bárbaros, que, como dito anteriormente, passaram a invadir territórios do império. Se tal não bastasse, a partir de 166 ainda teve de enfrentar outro grave problema, a chamada “Peste Antonina”, que se espalharia por todo o império.
Morte de Marco Aurélio. Os bárbaros não davam trégua aos exércitos romanos. E as guerras continuaram. Em 180, após comandar e ganhar mais uma, para ele a última, Marco Aurélio perdeu a vida, não em combate, e sim vítima de fatal ataque da peste.
Morria assim, em Vindobona (atual Viena, Áustria), aos 59 anos de idade, Marco Aurélio, o imperador-filósofo, personificação, talvez não tão ao pé da letra, do “filósofo-rei” idealizado vários séculos antes por Platão.