Conhecer o nosso sertão é dever de todo aquele que ama sua terra e sua gente, que sente em seu espírito o sentimento de humanidade desenvolvido com o raciocínio. Conhecer de perto sua população, essa gente abandonada que sente fome e frio, tateando nas trevas da ignorância, sem amigos que a protejam.
Lavradores pobres, sem utensílios agrícolas, sem sementes, sem orientação, sem dinheiro, sem crédito, que só em pensar nas dificuldades da vida sentem a tristeza, o desânimo, que atormenta os desprotegidos, os desafortunados da vida.
Os mais fortes conseguem construir uma choupana e lavrar pequena plantação de cereais, que mal chega para lhes matar a fome enquanto esperam o tempo de outra colheita, pois precisam pagar o aforamento da pequena roça e o imposto do produto, que vendem para comprar suas grosseiras vestes. E remédios? Têm a flora do seu Estado que lhes fornece os medicamentos para curar as febres que adquirem no ambiente de miasmas em que vivem, e por terem o físico enfraquecido pela falta de alimento adequado e pelo trabalho extenuante.
Viajar nesses sertões abandonados é bem triste, pois se depara a cada passo com a miséria que não tem fim, porque tudo é primitivo, tudo traz a marca indelével do abandono.
O sertanejo é mesmo um forte, porque enfrenta sempre decidido a sua vida sem nenhum conforto, e sem queixas vai andando com a crença errônea de que “Deus assim o quer”.
É doloroso chegar-se a uma choupana no sertão e desvendar-se o que se passa em seu interior — falta absoluta de tudo quanto possa prodigalizar o menor conforto, ausência das menores coisas que fazem parte de uma casa, e o que mais comove é ver crianças de físico atrofiado — ventre crescido, olhos amortecidos, fraqueza física e moral. A maioria não conhece nem o alfabeto e não tem mesmo esperança de poder um dia romper o véu da ignorância.
— Quantas e quantas vidas se extinguem nesse abandono!…
— E de onde poderá vir uma providência, um justo amparo?
Os poderes municipais é claro que nada poderão fazer sem o auxílio dos dirigentes do país, do Governo Federal.
E esse povo paciente, mergulhado nas trevas da ignorância, no silêncio dos sertões, continua a viver como nos tempos primitivos.
O Brasil é imenso, com suas riquezas naturais, os seus filhos ilustres, mas não há compreensão fraterna para com o irmão sertanejo, dando-lhe os meios de pôr em ação a sua força latente para minorar uma vida tão cheia de sofrimentos.
O sertão é também um pedaço do Brasil! Não devemos somente louvar as belezas naturais, orgulhar-nos com o Amazonas, a Mantiqueira, a Cachoeira de Paulo Afonso, a Guanabara… A terra só é grande pelos feitos de seus filhos, e o sertão na sua rudeza, é abandonado, esquecido…
— Agora, precisamos dar realce à obra dos bandeirantes; voltar os olhos para esse sertão quase ignorado e inculto onde os seus filhos combalidos necessitam do auxílio desinteressado dos homens de valor e justiceiros, que governam agora este colosso que temos por Pátria.
Publicado em 20 de maio de 1964