A função do trabalho, seu ritmo adequado, sua importância cultural e essência moral, bem assim sua relação com a sociedade são temas desta reflexão.
Trabalho é atividade que possui íntima relação com a espiritualidade. Exaltamos o trabalho honesto e honrado, não como uma possibilidade, mas como necessidade que permite ao ser humano ampliar continuamente os limites de sua experiência evolutiva.
Como fato social e histórico, o trabalho tem múltiplas formas e assume as mais distintas significações. Contudo, é seguro que, apesar das transformações que se sucederam no tempo, reverenciamos o trabalho como realidade insuperável para o desenvolvimento das capacidades e dos talentos humanos.
As qualidades pessoais podem e devem fortalecer-se continuamente. O trabalho infunde novo impulso à realização do ser humano, desenvolvendo atributos e faculdades espirituais, dentre eles o raciocínio, a força de vontade, a lógica, a capacidade criativa e o livre-arbítrio.
É sempre importante ressaltar a relação harmônica entre o trabalho digno e honesto e o aprimoramento do caráter e da moral no ser humano. Essa dimensão transcendente do trabalho enseja a edificação de uma vida cheia de sentido, plenitude e bem-estar.
À luz dessa verdade, ele amadurece progressivamente, até atingir a compreensão de que a atividade e o dinamismo representam necessidades existenciais, e obrigação, que pretenda ou não seguir.
Ao longo dos últimos anos, novas tecnologias provocaram profunda mudança na visão humana sobre o trabalho. A exploração do universo digital colocou a sociedade em contato com diferente e inesperada realidade.
No entanto, na essência espiritual, o trabalho continua a ser importantíssimo instrumento de crescimento. Aliás, para reagir de forma adequada aos inúmeros desafios atuais, a sociedade deve recorrer ao trabalho, pois é por meio dele que se aprimoram a criatividade e a capacidade de resposta a desafios.
Trabalho é realidade espiritual de extraordinário valor. Dessa forma, o espírito em evolução, tem que se reconhecer como um ser trabalhador, transformador e construtor de culturas. Superando desânimos, a inércia e a ociosidade.
O Universo é uma imensurável oficina de trabalho, e isso se constata pela simples observação da Natureza. Assim, o ser humano é chamado a unir-se à ação dinâmica da Inteligência Universal, e faz isso mediante trabalho metódico e disciplinado, que proporciona indizível satisfação e bem-estar.
Nada mais equivocado do que se reduzir o conceito de trabalho a uma forma de exploração humana, ou explicá-lo segundo critérios puramente materialistas. Claro, houve historicamente equívocos e distorções acerca de sua função como instrumento de dignidade.
Porém, a magnitude do trabalho não permite circunscrevê-lo a análises desta ou daquela quadra histórica. Sim, constataram-se espécies inadequadas de trabalho ao longo do tempo. Nesses casos, podem as espécies suplantarem o gênero? Evidentemente que não.
Não há pobreza na vida das pessoas que têm aspirações sinceras de crescimento espiritual e realização íntima. Os problemas financeiros, na imensa maioria das vezes, são contornáveis, desde que elas não negligenciem a saúde integral, se empenhem por superar as adversidades mediante criatividade, disciplina, parcimônia e organização de suas vidas.
As que realmente podem ser consideradas pobres são aquelas que voluntariamente desprezam seus atributos e suas potencialidades, entregando-se ao vício, à ociosidade e à artificialidade.
Vocações e talentos partem do espírito e encontram sua expressão prática no exercício da vontade e da ação dos seres humanos. Há, todavia, algo que diz respeito a cada um: a capacidade de decidir entre a humildade, que dignifica e eleva, e a vaidade, que rebaixa e deslustra o caráter.
Se a pessoa gosta do que faz, procura sempre aprimorar a execução do seu trabalho, não se preocupa com reconhecimentos e aplausos. Assim, livre das amarras do culto à personalidade, põe-se em melhor condição para dilatar a criatividade e a sensibilidade.
O ser humano progride e atrai o respeito e a consideração dos semelhantes por meio do trabalho honesto e honrado. Esse entendimento tem raízes na espiritualidade. O ser humano esclarecido é convicto dessa realidade e opta por pautar-se pelo conceito ampliado de trabalho, encarando-o como alavanca de progresso moral e psíquico, e não como pura e simples moeda de troca, ainda que o trabalho criteriosamente realizado deva ser remunerado de forma justa, fato que ninguém deve negar.
Uma das consequências evidentes da falta de zelo no desempenho de qualquer função é o descrédito profissional, que fere o caráter e deslustra o ser humano. A pessoa esclarecida compreende o trabalho bem feito como exigência moral, porque o conecta aos seus compromissos evolutivos. Essa conexão com a espiritualidade é que torna a atividade laboral um critério orientador da sua conduta. Logo, o trabalho humano não se deve limitar apenas à sua dimensão econômica e material. Deve suscitar valores, pois, mesmo que pareça isolado, é de cooperação mútua, diz respeito à humanidade.
Na educação de crianças e jovens, é preciso que os pais se conscientizem do aforisma “ninguém pode dar o que não possui”. Assim, devem se preparar para ministrar as lições necessárias à boa educação dos filhos, entre as quais se inclui a importância do trabalho como parte fundamental ao honrado desenvolvimento do ser humano.
Mas é preciso que iniciem a transmissão desses valores desde tenra idade, quando as crianças possuem subconsciente amoldável e são receptivas e sensíveis às influências das boas lições e exemplos e não quando elas já adultas, ingressaram no mercado de trabalho, o que torna bem difícil o entendimento e a aceitação de novos conceitos.
O trabalho individual bem feito expressa capacidades e o acervo espiritual obtido com as experiências vivenciadas. Já o trabalho em equipe é marcado pela multiplicidade de talentos. Assim, é nessa pluralidade de ideias que reside a beleza das atividades em conjunto, minimizando, consideravelmente, as possibilidades de erros que levam ao fracasso.
As principais lições que se absorvem do trabalho coletivo honesto e produtivo agregam valor às pessoas nele envolvidas, tais como os exemplos de tolerância e união, de respeito à hierarquia e aos entendimentos alheios, entre tantos outros.
À medida que o ser humano consolida o caráter no rigor do trabalho cotidiano e no desempenho da prática do bem, sente-se cada vez mais motivado a empreender o seu valor, de modo que os resultados correspondam aos esforços empregados.
Além de demonstração de elevado cunho espiritual, o trabalho voluntário expressa compromisso social e contribui para afirmação de princípios que levam às boas práticas de cidadania e formação humana, como fraternidade, solidariedade, responsabilidade, tolerância e renúncia, como exemplificam os militantes racionalistas cristãos em todo o mundo.
O trabalho na velhice constitui uma importante atividade laboral, pois nessa fase o ser humano experimenta a experiência e sabedoria que conquistou ao longo da vida. O estudo do Racionalismo Cristão possibilita concluir que o espírito não envelhece, e sim o corpo físico. A velhice se acentua quando o ser humano se considera inútil, quando experimenta o preconceito de uma sociedade que elaborou formulações de vida materialistas e ultrapassadas.
À medida em que o desenvolvimento humano se acentua e as condições de vida se ampliam, cresce o número de trabalhadores na última fase da existência. O trabalho deve ser considerado como necessidade humana imperiosa para a produção do bem-estar tanto físico quanto espiritual. Logo, o natural acúmulo de anos da vida física deve ser encarado como adaptação e não limitação ao exercício do labor.
A ociosidade pode ser entendida como um descompasso com o mundo, se contrapondo à ordem universal. O pensamento do ocioso tende a filiar-se a outros de igual natureza por força da lei de atração, fortalecendo os vínculos de afinidade entre si, causa de provável desequilíbrio psíquico.
Por sua vez, a normalização psíquica pode ser alcançada com mudanças de hábitos e, nesse tocante, o trabalho é importante meio de reação à preguiça, contribuindo enormemente para a substituição de pensamentos doentios por outros produtivos.
A mentalidade atual introduziu maior respeito ao conceito de trabalho o que denota avanço no nível de compreensão da essência moral ligada à atividade laborativa. É nesse sentido que o trabalho deve ser compreendido, para que ele possa gerar frutos positivos na vida social, servindo como meio de aperfeiçoamento evolutivo e instrumento de equilíbrio, justiça e paz, segundo a visão espiritualista defendida pelo Racionalismo Cristão.
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