Vigiai e orai é uma das mais importantes advertências de Jesus Cristo. Narrada por um de seus melhores amigos e seguidores de seus ensinamentos, Mateus, e séculos depois compilada e inserta num conjunto de narrativas da história do povo judeu, referia-se aos riscos da fraqueza humana face aos prazeres materiais, mas, pela sabedoria que ela encerra, podemos trazê-la aos tempos atuais e aplicá-la ao dia a dia da sociedade moderna com seus constantes conflitos e confrontos com os políticos e suas políticas.
A sorte está lançada, mas é certo que a gestão da coisa pública e as práticas de um governo jamais terão a concordância da unanimidade de seu povo. Não importa se olham a bombordo ou a boreste, não importam as preferências cromáticas que tenham, falamos de Brasil, cujo rumo tem que ser em frente e as cores que o representam serão sempre o verde e o amarelo. É certo também que a inteligência deste mesmo povo aceita o sábio conselho: vigiai e orai. Como acabamos de nos referir, estamos em outros tempos, e não faz parte do proceder do racionalista cristão orar, no sentido nem de suplicar nem de agradecer alguma graça, aquele sentido bíblico. Podemos então interpretar o conselho de Cristo, não somente os racionalistas cristãos, mas todo o povo brasileiro, numa linguagem bem popular, como “olho vivo; se cochilar o cachimbo cai”.
Nada melhor que a gíria e o ditado para que uma mensagem chegue a todos os ouvidos e seja prontamente entendida. Tudo que atravesse o conduto auditivo – é fácil, porque ele não tem barreiras que ofereçam resistência, permite a passagem até do que não devia – deve ser analisado, interpretado, digerido, avaliado. Se não tiver valor, deve ser descartado rapidamente para não ocupar espaço e não estimular pensamentos deletérios, mas se contiver algo que mereça atenção deve ser aproveitado.
No caso em questão, o aconselhamento vale para a nossa atenção com os atos e tendências do novo próximo presidente da República e seus atos. Era do conhecimento geral o currículo dos candidatos finalistas da eleição presidencial de 2022. Daí acreditar-se que a opção da maioria se deu pelo que eles ofereceram e prometeram. Na verdade ofereceram e prometeram muito pouco, não passou de mais do mesmo e de utopias. Ainda assim, a atenção deve ser total, para que se possam impedir desvios.
Temos 513 representantes para exercer essa fiscalização, mas é preciso que nós os fiscalizemos, para que não escorreguem em suas funções e não façam vista grossa a desmandos administrativos e financeiros. Temos o poder, e isto nos confere a força, de fiscalizar esses 513; somos mais de 200 milhões de brasileiros, mais de 150 milhões de eleitores cuja maioria confiou e elegeu um nome, entre tantos. Temos todos que estar de olhos abertos para impedir “acidentes de percurso”.
No universo de eleitores, a diferença de número de votos de um para outro candidato indica que a população brasileira estava dividida em suas preferências, mas certamente após a proclamação da vitória de um deles todos o ajudarão a governar certos de que ele governará para todos.
Falamos em “olho vivo; se cochilar o cachimbo cai”, linguagem que alguns podem considerar chula, mas se chegarem a esse ponto é porque entenderam o significado de cada palavra e, melhor que isso, o significado de seu conjunto. Este foi o modo de alcançar do iletrado ao culto intelectual, verdadeiro ou simples pretencioso, com a mensagem cristã. Irmãos brasileiros, nesses tempos de incertezas, vigiai e orai! Não poderemos viver de mentiras e de promessas. Esta advertência é universal, não se dirige a A ou B, é um apelo a que os brasileiros cobrem dos dirigentes seus direitos, cobrem a eficiência dos serviços públicos, cobrem empregos com justa remuneração, estejam alertas para a distribuição e aplicação de verbas públicas, reclamem a prestação de contas a prazos curtos, através dos canais de comunicação dos governos. Mantenham-se próximos aos eleitos para que não se esqueçam de que foi o povo que os elevou aos cargos que estão exercendo, e que este poder deve ser praticado em benefício do povo.