Onde vivemos, aqui ou acolá?

Tanta atenção deram as mídias no Brasil à eleição presidencial nos Estados Unidos que quase nos esquecíamos,  aqui, que também atravessávamos um período pré-eleitoral.

Quem é mais importante para o assalariado, morador na periferia, que implora por uma vaga para o filho numa escola pública e está ora na fila de um serviço de saúde do governo desde a madrugada aguardando atendimento, ora na fila da Caixa esperando o salva-covid: o prefeito de sua cidade ou o presidente dos EUA? Dá para pensar e talvez até as próximas eleições, lá e cá, ainda não se tenha chegado a uma resposta ao menos satisfatória.

Vejamos alguns aspectos do dia a dia do brasileiro urbano pós pleito. Afora a ameaça do coronavírus, a estúpida e injustificável elevação dos preços dos alimentos e dos produtos de limpeza e higiene, a má qualidade dos transportes coletivos, a desconfiança sobre a pureza da água distribuída pela Cedae, o temor de nos tornarmos vítimas de assalto ou de bala perdida, nossa vida vai bem, obrigado.

Há mais a declarar, porém, neste singelo depoimento: as eleições municipais não apagaram ou anularam temas que vinham ocupando lugar de destaque nas preocupações do povo, incluída aí a massa de envolvidos e diretamente interessados no resultado de processos judiciais em que figuram com destaque. Segue o trabalho investigativo da Polícia Federal; permanecem atuando os procuradores estaduais e federais; lentes especializadas e treinadas vasculham contas e movimentações bancárias de figurões da República e de figurinhas carimbadas. O mote é corrupção, mas a cada caso levantado ela aparece ligada a práticas igualmente criminosas, como a lavagem de dinheiro.

Se para nada tiver prestado a “festa da democracia”, ao menos sua passagem nos livrou das falsas promessas e sorrisos cretinos. Candidatos prometiam fazer e acontecer, mas não explicavam de onde apareceria o dinheiro para atender a tanta despesa. Era tamanha a acusação aos adversários que se tudo fosse verdade nenhum candidato deveria eleger-se.

Estamos atravessando, agora, o período de acertos para que a partir de janeiro estejam todos acomodados, entregando-se de corpo e alma ao trabalho, ou ao descanso – “pernas pro ar, que ninguém é de ferro”.