Os sonhos
Quando sonhamos temos a impressão da realidade das coisas, como se estivéssemos acordados. Por exemplo: uma pessoa sonha com uma mesa, uma paisagem e tem a impressão de que são reais e visíveis como se fossem materiais. Somente ao despertar e lembrar do sonho é que a pessoa percebe que o que sonhou não era real, mas enquanto sonhava a impressão era de realidade.
Para que se compreenda melhor a formação dos sonhos, e o porquê da sua falta de lógica, faremos uma comparação. Um livro é uma sucessão de folhas escritas e colocadas na devida ordem, para que o leitor interprete devidamente o que o autor escreveu. Pois bem, se desfizermos o livro folha por folha e as baralharmos, colocando-as em qualquer ordem, ao tentarmos ler o livro sairão páginas soltas, mas não em ordem e, portanto, as ideias contidas nele não terão concatenação lógica.
A pessoa em sonhos pensa, sente e quer, julgando e atuando nas situações que se lhe apresentam, de acordo com os conhecimentos e experiências adquiridos em sua vida. Isso indica que a memória e o pensamento não descansam de todo, mas trabalham um pouco. Por isso, cada um sonha, em geral, de acordo com os fatos de seu passado e de acordo com o que existe em seu subconsciente.
Acontece que, como a pessoa não conhece muitas das ideias e imagens de seu subconsciente, quando estas lhe aparecem em sonho, resultam desconhecidas. Diz que sonhou coisas que nunca vira nem pensara, e tem razão, porque desconhecia muitas das ideias ou imagens que desde há anos se iam acumulando em seu subconsciente sem que o percebesse.
Entre o consciente e o subconsciente existe uma comunicação que permanece quase interrompida quando a pessoa está acordada, porque então funcionam os centros superiores do cérebro. Em compensação, durante o sono, quando descansam estes centros superiores, estabelece-se a comunicação e as ideias ou imagens do subconsciente surgem no espírito da pessoa que sonha.
Muitas vezes, ao despertar, a pessoa esquece o que sonhou. Dá-se o caso de querer recordar o sonho, o que não consegue, porque quanto mais se esforça mais depressa desperta e mais se rompe o contato com ele, recordando-o menos. Em compensação, se não fizer grande esforço, a pessoa permanecerá meio adormecida e é mais fácil que surja na memória a lembrança do que sonhou.
Geralmente, no instante de despertar, lembra-se do que sonhou, mas é comum que se apague imediatamente. Isso acontece quando entram em atividade os centros superiores do cérebro e a consciência.
Às vezes sonham-se coisas verdadeiramente esquisitas e fantásticas, sem que causem qualquer estranheza a quem sonhar. Por exemplo, pode-se sonhar que um amigo, advogado, lhe engraxa os sapatos porque é engraxador; que se vai apanhar um automóvel e, logo, este se transforma num avião e voa; que se vive num mundo de anões para os quais se tem que olhar para cima; que alguém se transporta voando por seus próprios meios de um lugar a outro. Embora essas coisas absurdas causem estranheza ao acordar, durante o sonho não se dá o mesmo.
Quando uma pessoa sonha que se aborrece com outra que lhe é desconhecida, esta simboliza as muitas com as quais, na vida real, teve discussões ou brigas. Pode também dar-se o caso contrário, ou seja, sonhar com uma pessoa formosa, amável e cheia de boas qualidades, que lhe é desconhecida. O que acontece é que essa imagem simboliza recordações agradáveis que teve no trato com pessoas na vida real.
Em ambos os casos, o sonho não dá imagem de uma pessoa conhecida em particular, mas sim de um homem ou uma mulher simbólicos.
Alberto Barros
Militante da Filial do Porto