Discurso da professora Maria Luiza de Medeiros Brito, atualmente lecionando em Brasília, na cerimônia da formatura dos Cursos Clássicos e Científico, no Colégio Santa Rosa de Lima, desta capital guanabarina. É curioso o contraste dos conceitos, amadurecidos pela cultura do espírito, com a juventude da oradora, quase da idade de suas alunas. Vamos lê-las:
Se é certo que raras profissões exigem tanto do indivíduo quanto o magistério, sabem os professores que bem poucas encerram fontes tão inesgotáveis de alegria e renovamento interior.
Se ensinar crianças é cultivar botões ainda entrefechados, lidar com adolescentes é como lidar com flores; recém-desabrochadas, sedentas de calor e de vida, sabem espargir em torno um perfume singular, que se condiciona à pureza dos sentimentos e às perspectivas, sempre risonhas, do futuro que as espera. Se por vezes nos fazem sentir espinhos pontiagudos, não são mais que inconscientes reflexos da pujança de vida e da espontaneidade que as caracteriza. Nesta época de desajustamentos são facilmente curáveis com infalível terapêutica da compreensão e do amor.
E ensinar é amar. À transmissão de conhecimentos teóricos se confunde o anseio pela felicidade do aluno, pela realização total da personalidade em formação.
Cada turma nova é um mundo novo que se oferece à nossa observação, como um capítulo diferente que se ajusta à nossa experiência, ao mesmo tempo que nos infunde alento pela febre do entusiasmo juvenil que aquece e contagia.
Quando uma turma se vai deixa sempre um vácuo na alma do professor; ali, naquela sala, em contato quase diário, ele procurou dar o melhor de si mesmo, vibrou em uníssono com aquelas almas, conheceu-lhes os problemas, acompanhou-as de perto a fim de tornar agradável um estudo árduo ou uma pesquisa aparentemente sem atrativo.
Mas há turmas que deixam um vácuo ainda maior; são aquelas que se caracterizam pela homogeneidade e por um cunho peculiar, em que a um perfeito entendimento se alia o necessário interesse pelos problemas vitais.
É como se toda a classe se fundisse numa só aluna, pois os diferentes temperamentos se mesclam numa estrutura harmônica, como aspectos diversos de uma individualidade única.
E assim é que se torna impossível esquecermos a acolhida simpática que sempre tivemos, nessas horas que se passaram, deixando um pouco de cada uma de vocês impregnado em nossa alma.
E nesta hora de despedida e de bons augúrios para os dias que hão de vir, posso dizer que de antemão pressinto o futuro auspicioso que as aguarda; sabem vocês que ao falar em dias felizes não me refiro às amenidades fictícias da vida, mas à alegria suprema do dever cumprido.
Qualquer que seja o setor em que cada uma se empenhe na batalha da vida, sei que terão como armas os princípios sólidos hauridos em seus lares e continuados na orientação sadia que nesta Casa receberam. Estou certa de que os ideais que as empolgam são elevados e justos.
O essencial na vida é traçar um caminho e tudo fazer para segui-lo. Diversos são eles, pois diversas são as metas da vida e diferente a têmpera dos viandantes.
Alguns são tortuosos e áridos, com penosos estirões de espinhos, onde as flores são raras, dada a escabrosidade do terreno.
Outros são floridos, suaves; a luminosidade das paisagens guarda em seus matizes secretas magias que destilam doçura e encantamento.
Mas o júbilo interior não dependerá dessas circunstâncias externas, pois quase sempre é o resultado de um fim de estrada árdua, após medirmos, exultantes, as proporções dos obstáculos vencidos. A ausência de declives e a amenidade da jornada podem levar o viajante a esquecer o alvo estabelecido.
Publicado em 15 de janeiro de 1961.