O otimismo, a força de vontade e a consciência da transitoriedade da vida permitem ao ser humano espiritualmente esclarecido pelo Racionalismo Cristão ser paciente na adversidade e perseverante na emissão de pensamentos elevados e positivos. Os conceitos que constantemente estudamos, divulgamos e, na medida de nossas limitações, vivenciamos na vida cotidiana ressoam por toda a história, atestando sua imutabilidade e pujança. Esses mesmos preceitos valer-nos-ão como eficazes instrumentos de orientação diante de todo e qualquer sofrimento, doença e calamidade.
O momento histórico recentemente vivenciado pela humanidade foi marcado por uma ameaça invisível, traiçoeira, insidiosa, que teve sua origem em um vírus. Tal panorama, forçosamente, fez parte de nossas vidas por um certo tempo – e ainda faz -, e muitos de nós passaram a ter seus dias marcados por fobias, angústias, preocupações palpitantes, enfim, sofrimentos físicos e psíquicos difusos.
Com certeza, não nos apraz falar mais do mesmo. Se assim agíssemos, pouco ajudaríamos nossos amigos leitores. Não é recente nossa insistência nas ideias de revisão de conceitos e ampliação de perspectivas; direcionaremos, pois, este sintético comentário nessa mesma direção.
Nesse entendimento, tomando a peito a tarefa que nos incumbe enquanto estudiosos da espiritualidade – alargar racionalmente os horizontes de percepção –, examinaremos o tema das pandemias e catástrofes ambientais com base nas seguintes questões: i) serão as pandemias e catástrofes ambientais castigos?; ii) podemos aprender algo de moralmente útil a partir desses eventos?
Quanto à primeira indagação, uma resposta positiva parecerá a muitos correta. E por quê? Porque a imensa maioria dos seres humanos, infelizmente afetados por uma atmosfera cultural inclinada ao materialismo mecanicista, como sói ser a contemporânea, compreende o vocábulo “castigo” como um mero ato de dantesca justiça retributiva. Estão apegados à ultrapassada mentalidade do “quem com ferro fere com ferro será ferido”. Suas pesadas consciências os impelem a tal raciocínio, e quando se deparam com tragédias de magnitude global, logo expandem equivocadamente esse raciocínio distorcido.
Na verdade, caso fosse correto tal paradigma punitivo, a vida neste planeta se reduziria a um processo de erros e castigos, equívocos e dores. Em sentido diverso, a vida na Terra representa um processo de erros e acertos com vistas ao aprendizado e ao reconhecimento de nossas limitações. As experiências menos felizes associadas a esse processo têm o condão de fazer-nos crescer enquanto seres humanos dotados de inteligência e vontade.
Quanto à segunda indagação, devemos dizer que sim. Embora as pandemias e catástrofes ambientais causem, sem dúvida, inúmeros sofrimentos, são ocasião para que inúmeras pessoas percebam que muitas coisas e atividades às quais estão ligadas são, na realidade, desnecessárias e, às vezes, sem sentido, servindo, inclusive, para que desviem sua atenção das coisas que realmente importam.
Daremos um passo significativo na senda do aprimoramento moral se, coletivamente, ultrapassarmos essa fase, tomando consciência de como são desnecessárias certas atitudes que, de forma irrefletida, tomamos no dia a dia; de como são inapropriados determinados lazeres e afeições a que nos associamos.
Para concluir, desejamos, sinceramente, que as pessoas meditem sobre o atual momento e que se sintam motivadas a revisitar seus pensamentos e sentimentos, filtrando-os pelo crivo da racionalidade mesclada com o amor ao próximo; que deem menos atenção a seus aparelhos eletrônicos, canalizando suas energias para ser humano. Nesse sentido, temos o privilégio de poder nos guiar pelo magnífico exemplo que nos legaram os profissionais de saúde e tantos outros que, expondo-se ao risco de contato com o novo coronavírus, não titubearam na hora de demonstrar o valor de suas vocações e o sublime respeito e amor que nutrem por seus semelhantes. Vamos nos inspirar neles.
Muito Obrigado!