Embora a maioria das pessoas, aparentemente, deseje a paz mundial, este conceito – de fato este desejo supostamente universal de viver em harmonia – parece estranhamente a cada tentativa (falha) de o conseguir mais e mais empobrecido de esperança devido à soma de fracassos históricos e memoráveis em seu processo de obtenção, que, via de regra, parece deixar de lado – em nome de interesses muito pontuais – a união manifestada pelo respeito e apoio mútuo entre as pessoas.
Há um imenso hiato entre a teoria e a prática da paz. Paz parece mais um conceito de gabinete, discutido amplamente entre os intelectuais e políticos, mas nunca praticável. A não existência da paz – ou o ódio reinante – é a pura personificação do modelo de paz que a humanidade vem trabalhando para obter: político, negacionista e excludente. Vazia de sentido, baseada na separação dos seres humanos em categorias classificáveis, o que, segundo o filósofo Emmanuel Levinas, “torna a paz em ódio”.
Em um mundo que divide, ao invés de unir, que constrói muros onde deveriam haver edificadas pontes – e mesmo onde elas existem são rotas e desgastadas –, onde há seres humanos “ilegais” e modernos guetos para alocação dos “indesejáveis”, em sua maioria refugiados, a parte pobre da população de muitos países subdesenvolvidos e negros, o ódio encontra campo fértil para crescer cada vez mais forte e o cenário onde o caminho que deveria levar à paz é manchado de sangue e horrores de guerras fratricidas, é algo que parece ser nada mais do que evidente.
Paz deve ser sinônimo de transcendência e transcendência de paz. Transcender não é ascender ao infinito incompreensível, mas sim o ato de mergulhar no outro, outrem como totalidade da qual eu dependo para existir, não como a representação de mim mesmo, mas como caminho para o infinito que nos escapa, na relação humana onde as pessoas se enxergam face a face umas nas outras como seres que fazem parte um do outro e de um todo. Para tal, a humanidade deverá atingir níveis de unicidade de pensamento e valores, atingindo assim a verdadeira liberdade, que é o uso consciente do livre-arbítrio.
Ainda segundo Levinas, o modelo de relação do “eu e você, você e eu” permite pensar num nível em que se distinguem sociedade e Estado, permitindo uma coletividade sem poder, logo, sem o massacre causado pela guerra de todos contra todos.
Aos olhos egóicos da era pós moderna em que vivemos este estágio de desenvolvimento parece impossível, inatingível e inalcançável. Razão pela qual a perseverança deve estar sempre em pauta para quem realmente quer construir um futuro melhor. Uma perseverança despida de valores absolutos e utopias desmedidas, desnudada de preconceitos e ativa, no sentido de tornar a pessoa disposta a mudança de atitude.
Paz não é um conceito pessoal e customizado, muito embora seja assim manifestado entre as pessoas em sua maioria avassaladora; é universal e necessita de muito estudo e coragem para ser minimamente entendida a responsabilidade intransferível de cada um para com o outro que ela representa e necessita para perpetuar, bem como incorporada no modo de vida das pessoas.