A maior parte da humanidade tem a percepção de que os jovens representam a continuação da vida, no tempo e no espaço. Esse entendimento possui raízes históricas e exprime, de certa forma, um senso de espiritualidade.
Em face das modernas transformações por que passa a família, é necessário admitir que sua missão de acolher, amar, educar e guiar continua inalterada. Na verdade, ela representa um valor que não pode se submeter aos imperativos da conceituação, do modismo ou da ética situacional.
Para combater os desafios cruciais de nosso tempo, preconceitos e reducionismos são de nula utilidade. Portanto, o horizonte do intercâmbio familiar deve ser mais amplo que a simples preocupação em transmitir costumes e tradições.
Todos são afetados, direta ou indiretamente, pela vida em um mundo onde as fronteiras do que é certo ou errado se modificam em ritmo acelerado, desencadeando relações cada vez mais complexas. Contudo, o impacto dessas transformações tem maior peso entre os jovens, que muitas vezes se veem perplexos e inseguros na elaboração e realização da própria identidade, precisamente porque necessitam de pontos de referência sólidos e estáveis.
É nessa perspectiva que destacamos eloquentemente o valor insubstituível da família como unidade de intercâmbio e cooperação mútua, fundamentada em laços afetivos que ultrapassam os vínculos da consanguinidade.
O amor pelo trabalho e pela liberdade, as noções de tolerância e de solidariedade e a consciência do próprio valor devem ser transmitidos aos jovens por pais e responsáveis, por meio do exemplo, da palavra amiga e, sobretudo, da convivência afetuosa, cuja influência benéfica proporciona aos mais novos a consolidação de uma personalidade psíquica apta a enfrentar os desafios da vida com dignidade e altivez.
Frequentemente, identificamos, com certo pesar, a existência de pais que tranquilizam suas consciências brindando os filhos com regalias meramente materiais. Ademais, agem como se a eles bastassem a alimentação, a moradia, a educação e a saúde. Sem dúvida, esses cuidados são importantíssimos e constituem uma verdadeira obrigação dos preceptores, mas não são suficientes para a formação integral do ser humano, a que convém, além das necessidades biológicas, realizar-se no campo afetivo, emocional, profissional e moral.
Insistimos na relevância do diálogo elevado entre os membros da família. É imprescindível que haja, por parte dos pais, habilidade e sinceridade para que os jovens confiem absolutamente neles, de modo que estes se sintam confortáveis para lhes contar suas aspirações, os problemas cotidianos que estão afetando sua estrutura emocional, suas angústias e suas conquistas.
Dessa forma, nesse convívio respeitoso, apoiado em valores espirituais autênticos, os pais devem mostrar-se sempre abertos e observadores, não fazendo nenhum elogio sem fundamentá-lo, tampouco nenhuma censura sem base racional e lógica. É preciso entender que, de outro modo, essa trajetória tão importante e suave de percorrer acaba por converter-se em uma estrada sinuosa e incerta, em que o que era insignificante no início pode assumir consequências alarmantes e imprevisíveis.
É importante ressaltar que todos os integrantes da família, ao perceber que algo não está certo no comportamento dos jovens, que houve alguma alteração injustificável de seus hábitos, podem e devem prestar-lhe auxílio espiritual. Trata-se de uma clara manifestação de bom senso. Não devem ter espaço no lar as inibições e omissões por parte daqueles que são mais experientes e que muito auxílio podem prestar aos mais novos ao compartilhar com eles parte de sua vivência.
Se não faltar o apoio familiar aos jovens, os desapontamentos e fracassos na vida – úteis, aliás, como aprendizado – nunca ensejarão a fugas da realidade, depressão ou qualquer outra expressão negativista. Por outro lado, aos jovens também compete o esforço de não se envergonharem em expor seus sentimentos, suas angústias, suas tendências e suas escolhas. Há que lembrá-los de que vivenciam uma fase de descobertas e de que o desenvolvimento da sua maturidade depende, em grande parte, dos ensinamentos e orientações que só aqueles que já passaram por essa fase da vida e que estão ligados a eles pelos vínculos do amor têm condições de ministrar.
As grandes decepções, os grandes desatinos que produzem graves traumas e profundas marcas na personalidade procedem quase sempre do pensamento de autossuficiência dos filhos em relação aos pais ou responsáveis, da incapacidade de demonstrar suas fraquezas justamente a quem se encontra em condições de auxiliá-los.
Os estudos e abordagens nas áreas das ciências humanas e biológicas experimentaram, nos últimos anos, um estímulo notadamente multidisciplinar, reconhecendo-se a importância dos aspectos espiritualistas na estruturação da subjetividade dos seres humanos e em sua normalização psíquica. Esse avanço inegavelmente positivo traz, por outro lado, a ideia de que sempre é preciso buscar soluções inovadoras e originais para o estabelecimento de resultados concretos.
Na vanguarda das transformações por que passam os jovens, é preciso reconhecer, com lucidez e sinceridade, que os desafios atuais, embora assumam outras terminologias, tais como bullying, drogadição, distimia etc., representam problemas antigos, fundamentados na dúvida, na baixa autoestima, na necessidade de autoafirmação, na dificuldade de reagir frente às pressões sociais e institucionais e na carência afetiva.
Assim, quando abordamos o tema da importância da família na estruturação psíquica dos jovens, requer-se de nossa parte um certo esforço para superarmos esse elã por ideias novas e soluções sempre prontas. Temos de tomar consciência de que é no lar, na fecundidade do convívio familiar, onde o benquerer deve imperar e o amor transpassa as inevitáveis limitações humanas, que os jovens devem ser acolhidos, amados, fortalecidos e instruídos de que seu caminho, como o de qualquer pessoa, não é fácil; de que viver é enfrentar desafios, sentir alegrias e tristezas; de que é na família – e em nenhum outro lugar – que ele deve apoiar-se para desenvolver-se e adquirir maturidade e consistência moral.
Muito Obrigado!