Situar o nosso leitor de maneira eficaz e direta em um dos temas mais importantes do estudo da espiritualidade foi a principal motivação para a elaboração desta nossa reflexão.
Em todas as épocas e culturas, a liberdade sempre foi tida como um bem de máxima significação pelo conjunto dos seres humanos. É natural que assim seja, pois ela está fundada no livre-arbítrio, faculdade que nos distingue do conjunto dos demais seres. Retomar com certa periodicidade o estudo da liberdade é, pois, um exercício necessário para que a valorizemos e cultivemos cada vez mais intensamente.
A maioria das pessoas que se dedicam à tarefa de refletir e raciocinar sobre os aspectos mais importantes da existência, mormente as sensíveis aos temas metafísicos, reconhece o valor e a magnitude que envolvem o amor pela verdade e a disciplina no viver.
É vão e improdutivo sofismar sobre a possibilidade de uma vida frutuosa e feliz destituída de bases verdadeiras, de organização do pensamento e de ordenação das ações. É muito relevante destacar que, para além de fatores constitutivos de uma existência feliz, o amor à verdade e o cultivo da disciplina são meios que, inteligentemente harmonizados, se mostrarão os mais consistentes e eficazes para o ser humano vivenciar e atualizar a liberdade de que é portador.
Pouco vale discorrer sobre a liberdade se não houver empenho em vivenciar, na experiência cotidiana, as causas que ensejam seu desabrochar e sua realização. Para que sejamos autenticamente livres, é insuficiente trazer à consciência a noção de que a liberdade possui um grande valor. É imensamente mais necessário que amemos a verdade e cultivemos de maneira inteligente a disciplina.
No caminho da conquista por uma liberdade cada vez mais ampla e condizente com sua essência espiritual, o ser humano deve compreender que a existência humana recai em um círculo vicioso quando não contempla a sinceridade, a honestidade, a fidelidade, a probidade, a disciplina, a ordem e o método.
A circunscrição das atividades humanas causada pelos dogmas da materialidade, ou seja, a redução das possibilidades que a vida comporta aos aspectos estritamente sensitivos, afasta as pessoas de sua liberdade, pois estimula os maus hábitos e o desvirtuamento das qualidades.
O materialismo reduz o conceito de liberdade, levando uma quantidade expressiva de pessoas a considerá-la, na contemporaneidade, apenas pela perspectiva comportamental e a crer que tem liberdade aquele que faz o que quer, que se comporta consoante lhe apraz. Isso é um equívoco. Já disse nosso amigo Rafael Mendes: “A liberdade é uma faculdade espiritual, que se manifesta na forma de uma aptidão que permite ao ser humano converter vícios em virtudes, fraquezas em fortalezas. Livre, meus amigos, é quem tem coragem de assumir sua natureza espiritual e desprezar com vigor tudo o que a prejudique ou a rebaixe.”
Quando os seres humanos procuram vivenciar a espiritualidade de forma mais intensa a partir do cultivo das virtudes, da prática do bem e do amor ao próximo, como nos ensina o Racionalismo Cristão, tornam-se livres e conscientes.
A liberdade gera paz, e esta, um silêncio interior que permite ouvirmos a doce voz da consciência tranquila, equilibrada e harmônica. O ser humano autenticamente livre, ou seja, que se desprendeu das amarras do poder e do materialismo, é guiado por seus pensamentos elevados pela senda da justiça e da virtude.
A vivência equilibrada e saudável da liberdade humana é resultado, segundo o ponto de vista da espiritualidade, da imersão e da experiência cotidiana nos valores defendidos pelo Racionalismo Cristão. Eles apontam o caminho seguro que conduz o ser humano à identificação de sua própria essência e, como consequência, da liberdade, a mais sublime das características humanas. Tal é a reflexão sobre a qual gravita uma experiência de vida digna e enobrecedora.
O amor ao próximo, a solidariedade, o respeito, a promoção da paz e a não violência devem estar presentes e inspirar todas as relações humanas pautadas na honestidade, na transparência e na verdadeira liberdade, pois são concepções capazes de transformar completamente o ser humano, na medida em que vão além de visões reducionistas e separatistas. A liberdade, compreendida em sua essência – como uma faculdade inerente ao espírito e comum a todos –, tem o condão de despir os seres humanos de suas exterioridades, a fim de que eles a enxerguem como ela realmente é: luminosa e benfazeja.
Muito Obrigado!