O presente apanhado biográfico sobre os filósofos gregos Antístenes de Atenas e Diógenes de Sinope baseia-se, essencialmente, em informações colhidas por estudiosos em escritos do historiador e biógrafo, também de origem grega, Diógenes Laércio (200-250 d.C.), que não deve ser confundido com Diógenes de Sinope.
Antístenes de Atenas (444-365 a.C.), iniciador da escola cínica, era filho de pai ateniense, também chamado Antístenes, e de uma escrava natural da Trácia – razão por que lhe eram negados, apesar de nascido em Atenas, o título e o direito de cidadão ateniense.
O jovem Antístenes estudou primeiro com o famoso retórico e filósofo sofista Górgias de Leontinos, tornando-se também mestre em retórica. A seguir, “passou a frequentar assiduamente” Sócrates, somando-se assim à sua roda de amigos e discípulos.
Posteriormente Antístenes se juntaria a um grupo de outros discípulos que deturpariam o sentido da crítica que o Mestre fazia às “falsas certezas baseadas na opinião”, o que os levaria a defender que todo conhecimento é impossível. Equívoco, aliás, que abriria caminho para o cinismo, iniciado por Antístenes.
Conforme o citado historiador grego, o pai da doutrina cínica ensinou no templo de Cinosarges e, além de Sócrates, relacionou-se também com grandes sofistas de seu tempo, como o já mencionado Górgias, Hípias de Élis, Pródico de Ceos e Protágoras de Abdera.
A despeito da guerra. Consta que Antístenes chegou a participar, nos idos tempos da mocidade, de uma batalha, que pode ter sido a de Tanagra, em 426 a.C, ou a de Délion, em 424 ou 423. No entanto, a despeito da guerra, Antístenes não haveria de morrer em combate, e sim de doença, mas na velhice, por volta dos 80 anos, talvez em 365 a.C.
Quanto a Diógenes de Sinope (413-327 a.C.), discípulo e continuador de Antístenes, muitas são as incertezas relativas aos dados biográficos desse lendário e mais famoso dos cínicos. Isso porque, em se tratando de Diógenes, é maior a dificuldade de dissociar o que é histórico do que é lenda em sua vida.
No que tange, porém, às suas origens, é ponto pacífico que era natural da cidade grega de Sinope. Seu pai, um banqueiro, foi acusado, ainda de acordo com o historiador grego, de falsificação da moeda.
É de crer que, talvez por isso, tenha Diógenes achado por bem deixar para trás a cidade onde nascera, partindo então para Atenas. Nessa cidade, ligou-se ao filósofo Antístenes – o qual, no entanto, “de início o expulsara a pauladas”.
Para demonstrar publicamente seu desprezo por convenções sociais, Diógenes assumiu a condição de morador de rua. Passou a vestir trapos e fez de um barril sua “casa”. Em plena luz do dia saía pela cidade ou pelos campos com sua famosa lamparina, dizendo, “de modo sarcástico”, andar à procura de “um verdadeiro homem“.
Presente impossível. Certo dia, Alexandre, o Grande, que admirava Diógenes, encontrou o famoso cínico numa rua de Atenas, tomando sol ao lado de seu barril. Teria o monarca, então, lhe dito: “Sou o imperador Alexandre. Pede-me o que quiseres que te darei”. Como Alexandre lhe fazia sombra, Diógenes, apontando para o Sol, respondeu: “Que não me tires, ó senhor, o que não me podes dar”.
Acredita-se que a conhecida declaração de Alexandre – “Se eu não fosse Alexandre, eu queria ser Diógenes” – tenha sido feita em seguida a esse encontro do imperador com “o filósofo do barril”.
Por volta dos 60 ou 70 anos, Diógenes caiu em poder de piratas quando fazia uma viagem marítima. Foi, então, vendido por eles a Xeníades, rico cidadão grego da cidade de Corinto, em cuja casa Diógenes passou a desempenhar a função de preceptor dos filhos de seu senhor e a morar pelo restante de seus dias.
Ele teria morrido – beirando os 90 – na mesma data em que morreu Alexandre (13 de junho de 323 a.C.), coincidência essa também suspeita de que se trate de mais uma das lendas da lendária vida de Diógenes.