Sobre o sentido da vida – I

No presente artigo, que apresentaremos em três etapas, vamos elaborar, com base em conceitos da logoterapia, uma possibilidade de entendimento acerca de um mal psíquico que afeta grande parte da humanidade, a depressão.

Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, chamada de Logoterapia e Análise Existencial, foi o autor de uma obra a que deu o título de Em busca de sentido, na qual aborda as experiências vividas em campos de concentração nos anos de 1942 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. A partir dessas experiências, consolidou o escopo teórico da logoterapia e relatou como a busca do sentido da vida o ajudou a sobreviver às circunstâncias extremamente desfavoráveis por que passou.

O autor tem como fundamento filosófico a compreensão de que o homem é um ser bio-psico-sócio-espiritual, ou seja, um ser que está simultaneamente inserido nas dimensões biológica, psicológica, sociológica e espiritual. O que diferencia sua abordagem das demais é a inclusão da espiritualidade como componente inerente do ser humano e, portanto, como elemento a ser considerado no acompanhamento psicoterápico e na busca da saúde plena.

Para ele, a religião (que aqui vamos chamar de espiritualidade), não é um fenômeno psicológico engendrado e sustentado pela mente como acreditavam – e ainda acreditam – outros estudiosos do comportamento humano e sim algo que tem existência real, ou seja, um campo de fenômenos autênticos e transcendentes no qual o homem está inserido. O princípio estruturante do seu enfoque é a análise do homem como um ser essencialmente espiritual com sua natural capacidade de transcender.

E o que é transcender? É a aptidão de sobrepujar, ultrapassar, suplantar o plano material e buscar o que é elevado, superior, maior, espiritual. Transcendente é, portanto, tudo aquilo que está acima – que ultrapassa, vai além – do mundo físico tal qual o experienciamos.

Em suas concepções, Viktor Frankl acreditava que o homem tem o poder de autodeterminar-se e de se orientar na vida como um ser autônomo capaz de tomar decisões e fazer suas próprias escolhas. Acreditava no potencial que o ser humano tem para manter sua sanidade mental ante os mais difíceis reveses, cujo valor principal é a “decisão”. Frankl defendia a plena liberdade de escolha que o homem tem para tomar decisões frente ao que acontece ao seu redor e tornar-se o que quiser ser a despeito das circunstâncias. Um dos pensadores mais influentes do Século XX, suas teorias são respeitadas nas áreas da psiquiatria, psicologia, filosofia, educação e teologia.

 Tendo as proposições de Viktor Frankl como baliza da presente reflexão, vamos trazer ao debate a depressão – mal que afeta grande parte da humanidade – sob a perspectiva da busca do sentido da vida. Viktor Frankl defende a ideia de que as circunstâncias definem nosso comportamento apenas parcialmente e que todos temos o desejo natural de agir com liberdade como seres responsáveis pelas próprias escolhas, o que significa agir na condição de ser plenamente humanos. Considerava a hereditariedade e o ambiente como elementos com os quais o homem deve relacionar-se com harmonia, mesmo nas condições mais adversas, e que sob a perspectiva baseada estritamente no paradigma científico objetivo e empírico, o homem se aproxima mais de uma “coisa”, como um “programa” – conjunto de ordens e comandos pré determinados, como os atuais aplicativos da web, por exemplo –, do que de uma pessoa que pode autodeterminar-se. Em outras palavras, para Viktor Frankl o paradigma atual da ciência põe o ser humano mais próximo de ser “algo” do que ser “alguém”.

Em termos de conceitos sobre o que propomos no que se refere à depressão, teremos como fonte a Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica a depressão no rol dos transtornos mentais de maior gravidade e que em recentes estudos a considerou O Mal do Século.

Os transtornos mentais, segundo a OMS, são a principal causa de incapacidade no ser humano, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade, ou seja, a cada seis anos vividos, um é marcado pela incapacidade total ou parcial de um indivíduo para se relacionar plenamente com o mundo e com as outras pessoas.

Leia na edição de fevereiro a segunda parte de Sobre o sentido da vida.