Sobre o sentido da vida – III

O paradigma baseado no “Para quê?” nos dá a oportunidade de superar os obstáculos que eventualmente surjam em nosso caminho e implica necessariamente na responsabilidade de “construir o próprio futuro”, evitando, na manutenção da saúde plena fundamentada no equilíbrio psíquico, as reações negativas características da posição de “vítima da vida”. O paradigma baseado no “Para quê?” está fundamentado no esforço para implementar o que pode vir a acontecer. Está posicionado no presente, sustentado pelo estudo e reflexão e direcionado ao futuro, não a um passado obscuro.

O “Para que estamos aqui?” nos coloca à frente – não no passado –, no comando de nossas ações e decisões. Livres para agir. Faz com que abandonemos o estado de prostração, de inércia, contaminados por pensamentos ligados à doença – a depressão – e nos impulsiona a agir. 

O “Para quê” é o elo entre o presente e o futuro. É o hoje. É a ação. Representa atitudes vinculadas à pró-atividade, à assertividade, à firmeza de propósitos. “Para quê…?” “O que posso fazer para me livrar dessa situação em que me encontro?”, “O que posso fazer para afastar ou superar isso que me aflige?”, “O que devo aprender estando sob essas adversidades?”, “Como posso vencer isso?”, “Que recursos tenho? Quais devo buscar?” “Para que isso está acontecendo?” “Para quê…?    As reflexões sobre essas atitudes mentais foram propostas por Viktor Frankl.

 Em relação com os ensinamentos espiritualistas oferecidos pelo Racionalismo Cristão, sabemos que estamos no planeta Terra, mundo de escolaridade que é, para nos relacionarmos, ou de outra forma, para promovermos nossa evolução através de relacionamentos interpessoais e que é pelas diferentes maneiras de ver e interpretar o mundo devido às diversas classes ou gradações evolutivas espirituais que se misturam em heterogênea vinculação, que experimentamos a condição humana em suas limitações e potencialidades, cujo objetivo é aprender a direcionar pensamentos, efetivar ações, alimentar a vontade, instruir o livre-arbítrio, exercitar o domínio próprio – o império de si mesmo -, trabalhar a capacidade criativa e tantos outros atributos, faculdades e virtudes que, quando bem utilizados, nos proporcionam crescimento pessoal e desenvolvimento espiritual.

O mundo nos oferece elementos para experimentar, treinar e praticar em nós mesmos a humanidade – a condição humana -, não em termos abstratos, mas na compreensão do que significa ser humano na concretude do agir. Ato contínuo, os relacionamentos nos capacitam a conhecermos a nós mesmos. Os relacionamentos são, portanto, o veículo por meio do qual desenvolvemos nossos predicados espirituais com base nas possibilidades e oportunidades que o mundo nos apresenta. Em termos de oportunidades e possibilidades, uma mudança de paradigma – que é alterar o “programa” baseado no “Por quê?” para o estado mental respaldado no “Para quê?” – se apresenta como segura e proveitosa alternativa quanto ao modo de encarar as situações com as quais estivermos envolvidos.

Ao usarmos a depressão como exemplo de possibilidade de mudança de paradigma, estamos trazendo à tona a mudança de estado mental não só para essa situação específica, mas também como opção que é válida para quaisquer eventos – sociais, morais, emocionais – que possam diminuir nossa vitalidade, nossa vontade de viver. Não obstante a mudança de estado mental ser fundamental, devemos reconhecer que respeitamos e incentivamos o tratamento médico e psicoterápico para as enfermidades mentais, pois a Ciência tem apresentado grandes avanços tanto na teoria quanto na prática médica. A própria OMS já reconhece a espiritualidade como elemento essencial à saúde plena. Mas, ainda que reconheçamos que alterações fisiológicas, químicas, bioquímicas ou neurais envolvidas na depressão não podem ser negligenciadas, afirmamos, em consonância com o que orienta a Organização Mundial da Saúde, com o que aprendemos através do Racionalismo Cristão e também com o que foi elaborado por Viktor Frankl, que a dimensão espiritual não pode ser posta de lado. A propósito disso e não por acaso, tal a importância da saúde mental sob o prisma da espiritualidade, a obra essencial da filosofia racionalista cristã dedica ao tema dois capítulos: Equilíbrio psíquico e Desequilíbrio psíquico.

Ao final, podemos ilustrar nossa explanação com uma citação de Viktor Frankl: “Se não está em suas mãos mudar uma situação que te causa dor, sempre poderá escolher a atitude com que encara esse sofrimento.” Para quê? Para cumprirmos a irrevogável lei da evolução na busca da autonomia, da autodeterminação, da plena consciência de nós mesmos, do bem-estar físico, mental e social, enfim, para vivermos a plena saúde e vigor que possamos alcançar, com respaldo na espiritualidade.