O Racionalismo Cristão afirma que a prudência está na base das soluções eficazes e sustentáveis, razão pela qual é indispensável não apenas seu estudo, mas sobretudo seu cultivo. Isso se verifica com muita razão na atualidade, marcada por aspectos surpreendentes e contraditórios, cujos inúmeros e desafiadores cenários pedem critério, atenção e prudência, não uma prudência calculista, mas uma que seja autêntica, revalorizada, espiritualizada e profundamente vinculada à sabedoria.
A prudência no contexto greco-romano. Os gregos – Aristóteles, em particular – consideravam a prudência uma qualidade essencial ao exercício e à prática da filosofia, e das atividades relacionadas à política e à administração social. Chamavam-na também de sabedoria prática, visto que, em sua percepção, se tratava de uma virtude moral que permitia às pessoas, por meio da ponderação, avaliar e discernir entre o que é certo e o que é equivocado, o que é justo e o que é injusto. Os romanos, por seu turno, deram ao conceito de prudência um viés estritamente jurídico, considerando-a uma virtude imprescindível ao julgamento jurídico. Fizemos esta digressão histórica a fim de provar que a importância da virtude da prudência advém de tempos remotos.
Como dissemos no início da deste artigo, é necessária uma compreensão ampliada da virtude da prudência que redesenhe seu sentido, permitindo que seu desenvolvimento se dê de modo integrado com outras importantes virtudes, com base no fundamento ético de que todo aprimoramento espiritual conquistado pelo ser humano deve repercutir em favor da coletividade e do bem comum.
A prudência fundamenta o paciente e frutuoso caminho do diálogo, da compreensão, da empatia, da reciprocidade e do entendimento. A pessoa que a cultiva supera tendências e impulsos egoísticos e particularizados, esforçando-se em procurar o equilíbrio, que reconhece ser o pressuposto para uma vida digna e pacífica.
Agir com prudência amplia o olhar, fazendo com que a pessoa concentre sua atenção no que realmente interessa e vale a pena. Essa virtude lança luz sobre as questões ambíguas e difíceis, retirando de assuntos e contextos demasiadamente confusos a repugnante capa do exagero que os obscurece.
Ao fazer referência à necessidade de reflexão antes da tomada de decisões, insistindo sobre o valor do equilíbrio no comparar das inúmeras possibilidades com que o ser humano se depara no dia a dia, o Racionalismo Cristão aponta a importância da prudência, sem, contudo, deixar de observar que ela não deve servir de pano de fundo para a procrastinação, isto é, de desculpa para o adiamento de decisões. Há que ter atenção: não se deve confundir prudência com imobilismo.
Atualmente, quase tudo conspira para levar o ser humano a um estado de constante inquietação. Vive-se de maneira acelerada, o tempo geralmente é pequeno. O imediatismo reina e, com ele, a frustração e a ansiedade.
A pessoa espiritualmente esclarecida não se deve subtrair à responsabilidade de manter um critério moral como fundamento de suas decisões. É ilusão imaginar que o ser humano que age imprudentemente, indiferente à necessidade de equilíbrio – que, por seu turno, é intuitiva e universal –, não colherá os frutos amargos de sua irresponsabilidade.
Dignidade e eficácia. Quase todas as pessoas conhecem, de certa forma, os efeitos práticos e sociais de um estilo de vida imprudente, pouco criterioso, refratário ao bom senso, tendente ao exagero e sumamente parcial. Nessa visão, o tema que ora analisamos nos chama à realidade da vida, conscientizando-nos de que proceder com prudência, vigilância e atenção é o melhor caminho para que possamos conquistar nossos ideais e cumprir com dignidade e eficácia as tarefas e compromissos que assumimos.
No contexto da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, prudência e sabedoria são duas realidades de tal forma interpenetradas e conexas que formam, sem dúvida, uma unidade indissociável. Tamanha é a relevância desse conjunto harmonioso que não há exagero em afirmar que ele constitui a sede de inúmeras virtudes. Vejamos: em que se fundamentam o comedimento nas ações, a fortaleza de espírito e a tão almejada felicidade senão na prudência mesclada pela sabedoria, que, ao motivar a calma e a reflexão, estimulam o equilíbrio psíquico e o fortalecimento espiritual?
Afirmamos convictamente que a autêntica prudência compõe o veículo privilegiado do autocontrole e, nesse sentido, deve ocupar posição de destaque em nossa vida. Esta é a razão por que lhe dedicamos o presente artigo, que, como esperamos, será de grande utilidade aos estudiosos da espiritualidade difundida pelo Racionalismo Cristão e a todos que nos acompanham, com o objetivo de esclarecer-se e fortalecer-se cada vez mais.