Sonhos e pesadelos
Ao longo dos últimos séculos a sabedoria popular estabeleceu que o dia de 24 horas deve ser dividido em oito horas para o trabalho, oito horas para necessidades diversas, inclusive o lazer, e oito horas para o sono. Este esquema seria o ideal.
Hoje a ciência tem certeza de que dormir faz bem à saúde das pessoas. Então, justificado está que precisamos entender melhor o que se passa, antes, durante e depois de uma noite de sono, sobretudo examinando a natureza dos sonhos e dos pesadelos. Para isso, vamos apresentar e indagar sobre os conhecimentos científicos atuais e sobre a interpretação com nosso olhar voltado para a espiritualidade.
Pesquisas recentes, feitas no Brasil, revelam que seis a cada dez pessoas dormem mal, ou seja, 60% sofrem de algum distúrbio do sono, sendo que a insônia participa com 40%. Não é à toa que prosperam por toda parte os laboratórios de produtos farmacêuticos para distúrbios do sono e os institutos que cuidam desses mesmos distúrbios. É bom lembrar que sono perdido não se recupera dormindo mais nos dias seguintes. As horas de sono perdidas jamais serão recuperadas para corrigir o mal estar de que se ressente o organismo no(s) dia(s) seguinte(s).
Podemos definir os sonhos como ideias e imagens que surgem enquanto dormimos. Qual a razão por que sonhamos? Para a ciência, o sonho é uma experiência natural de imaginação com a participação do inconsciente enquanto dormimos. Por isso mesmo, constata-se uma diminuição natural, periódica e temporária das sensações e pensamentos, o que leva à quase total cessação de vida consciente ou vigília, esta que é o tempo que passamos acordados.
São inúmeros os tipos de sonhos. Daí que, para entendê-los melhor, os pesquisadores classificam esses tipos em grupos. Eis aqui uma classificação típica: sonhos criativos, lúcidos, previsíveis ou premonitórios, repetitivos e sensuais.
Sigmund Freud (1856-1939) definiu, em seu polêmico livro A interpretação dos sonhos, publicado em 1900, o conteúdo do sonho como sendo a “realização dos desejos ocultos” latentes no subconsciente da pessoa. O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) fez uma definição bem abrangente sobre o papel dos sonhos, expressando que eles não seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas também uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Compensação é uma estratégia pela qual um indivíduo esconde, consciente ou inconscientemente, fraquezas, frustrações, desejos, sentimentos de inadequação ou incompetência em uma área da vida através de gratificação ou sucesso noutra área.
Espírito liberto. Segundo o espiritualismo, o sonho é o conteúdo mental que se processa durante todo ou numa parte do sono, um interregno do estado de vigília que serve para recuperar as energias tanto do corpo como do espírito, liberando-o do cuidado direto com o corpo. Dessa forma, o espírito, que é imortal, fica parcialmente liberto durante as horas que dura o seu descanso físico. A grande questão, porém, é por onde “andará” o espírito durante esse tempo? Há um mundo de possibilidades para responder a essa pergunta. Normalmente, a maioria das pessoas preocupadas com os problemas do dia a dia da vida terrena, ao se projetar do corpo físico durante o sono, entra no mundo onírico da atmosfera fluídica da Terra e se deixa influenciar por espíritos desencarnados que perambulam pela mesma atmosfera por ainda sentirem que estão encarnados. Como os sentimentos e emoções predominantes nesse ambiente são de natureza materialista, o espírito em desdobramento espiritual busca aquilo que mais preocupa o seu pensamento, como são os sentimentos de vingança, desforra, competição e, certamente, muito prazer.
Essas condições terminam com fre- quência nos pesadelos. Também as pessoas espiritualizadas, que sabem que não são apenas o corpo físico, cumpridoras de seus reais deveres na Terra, que têm o bem como prática normal em suas vidas, aproveitam esse tempo para adquirir informações espiritualmente orientadoras em seus mundos de origem, como por exemplo conferir se o seu planejamento espiritual está sendo conduzido corretamente ou suas ações nesta encarnação estão afastando-se do mesmo planejamento, tomando novos rumos por mau uso do livre-arbítrio, pois o determinismo nem sempre prevalece.
Antes de falarmos sobre os pesadelos, destacamos a existência de sonhos premonitórios, isto é, pessoas que sonham com cenas que acabam acontecendo posteriormente em suas vidas ou se tornam acontecimentos futuros que vão impactar a humanidade como um todo. Somente no início do século XX, a partir de 1910, com a fundação do Racionalismo Cristão por Luiz de Mattos, surgiram explicações que transcendem os nossos sentidos físicos, mostrando que não existe uma causa única para os sonhos premonitórios, mas todos eles são formas de desdobramento espiritual. Resumidamente, eis aqui as explicações racionalistas cristãs.
Desdobramento. Quando dormimos, o nosso corpo físico repousa para refazer-se fisiologicamente das atividades do dia a dia e, enquanto dormimos, nosso espírito se desprende temporariamente do corpo físico, porém fica a ele energeticamente ligado por um feixe de luz de natureza fluídica (cordões fluídicos). O sonho é, assim, um tipo de desdobramento espiritual. Enquanto o corpo descansa, o espírito, que nunca dorme, continua atuando e suas atividades podem ser registradas em nossa mente ou não, com ou sem as lembranças do que se passou durante o sono. Enquanto desdobramos, o nosso campo de percepção amplia-se consideravelmente, razão pela qual recebemos muitas informações de nosso mundo de origem e de nosso passado (causa), o que nos permite perceber acontecimentos futuros que serão desencadeados (efeito), corroborando assim a lei de causa e efeito. Porém, se houver mudanças nas causas, os efeitos também mudarão. E, como nossa mente é sempre criadora (livre-arbítrio), não existe um determinismo (programação prévia) perfeito que não possa ser mudado. A literatura e a história registram muitos casos de sonhos premonitórios, como o caso de Abraão Lincoln, presidente dos Estados Unidos que, na véspera de sua desencarnação, sonhou que seria assassinado quando iria discursar no Senado.
Os pesadelos são sonhos ruins, tenebrosos, perturbadores e ameaçadores, associados com sentimentos negativos, como o medo e a ansiedade. Os pesadelos começam a ocorrer nos sonhos das crianças de três a seis anos e tendem a diminuir depois dos dez anos. Mas, não raro, adolescentes e adultos podem ter pesadelos ao longo de toda a sua vida. Alguns destes sonhos desagradáveis são comuns a muitas pessoas e retratam tragédias, assassinatos, acidentes, quedas, afogamentos, incêndios, perseguições etc. A regra do desdobramento é válida, também, para os pesadelos que são sonhos ruins, indesejáveis. Por exemplo, uma pessoa que tem medo de espíritos, pode sonhar com figuras horrendas, criadas por espíritos obsessores em sintonia com o estado mental da pessoa que passou o dia experimentando dificuldades não resolvidas e que são acompanhadas de sentimentos de preocupação, medo e ansiedade, enfim, de pensamentos e ações negativas e desordenadas sob o império dos desejos. Assim, sua mente é invadida, imperceptivelmente, por imagens aleatórias que ela não soube repelir com seus próprios pensamentos.
Caruso Samel
Escritor, militante da Filial Butantã (SP)