Sustentabilidade nas relações humanas

Verifica-se atualmente um interesse cada vez mais acentuado, oriundo de panoramas os mais diversos, pela ideia de sustentabilidade. A análise desse conceito à luz da espiritualidade não se caracteriza tão somente como um conjunto de soluções que visem a salvaguardar a ecologia, mas que considera também o ser humano em suas múltiplas dimensões.

Cumpre-nos enunciar desde já uma observação: a preocupação de preservação dos ecossistemas e da natureza em geral não impede, de modo algum, a legitimidade das atitudes que dignificam e elevam o ser humano; ao contrário, é a valorização das relações sociais que deve fundamentar toda ação racional em favor do meio-ambiente.

Na curta extensão deste artigo, decerto não se conseguirá alcançar uma compreensão total do tema. De âmbito mais circunscrito, a presente reflexão visa a apresentar ideias para o entendimento de uma sustentabilidade integral, que impulsione as pessoas a comprometer-se, firme e desprendidamente, com o bem comum, abandonando visões egoísticas.

A influência dos paradigmas tecnocráticos e mecanicistas na sociedade contemporânea se reflete tanto na busca constante por especializações, sobretudo no campo tecnológico, quanto no método científico, tão enraizado na cultura ocidental, que sugere a redução de fenômenos complexos a seus componentes básicos para entender seus mecanismos de interação. Os fatores supramencionados ensejam a fragmentação do saber e a pulverização do conhecimento, criando uma situação que traz como resultado, na maioria das vezes, a perda do sentido de conjunto, de integralidade e de unidade, e a desorganização psíquica dos indivíduos, que são induzidos a adotar estilos de vida cada vez mais doentios e a desenvolver visões extremamente compartimentadas.

Sem penetrar no campo da espiritualidade, o conceito de atitude sustentável, influenciado pela cultura atual, permanece confinado em um âmbito muito reduzido e limitado. É o que se verifica quando se ouve falar de economia sustentável, empresa sustentável, cidade sustentável, meio-ambiente sustentável etc. E no concernente às relações sociais? Não devem essas ser estabelecidas de maneira sustentável? Claro que sim. Para tanto, é imperioso buscar subsídios na ética, na moral, no diálogo e, acima de tudo, na espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão.

A pessoa que busca ter atitudes sustentáveis – tomando-se o conceito em uma acepção mais ampla – é a que se propõe como objetivo primacial o bem-comum. Para alcançá-lo, porém, é imprescindível que ela amplie seu olhar e se deixe penetrar pelos valores da espiritualidade.

O ser humano se realiza e se torna pleno interagindo respeitosa e amistosamente com seus semelhantes. Esse é um de seus mais profundos, legítimos e substanciais anseios, uma das principais razões de sua existência. Quando o empenho pelo bem social é nutrido pelos valores da espiritualidade, passa a valer mais que a atenção dirigida aos aspectos estritamente ecológicos – sem dúvida muito importantes, mas que não devem sobrepor-se em importância ao ser humano, cuja alma é imortal.

Atitudes mais sustentáveis – não apenas em relação à natureza, mas extensivas à sociedade – são mormente possíveis quando se percebe que o ser humano e o meio-ambiente não existem desvinculados da transcendência. Atitudes sustentáveis pressupõem um mergulho consciente no oceano da espiritualidade, no qual se dissolvem as ilusões egoísticas, as presunções descabidas e a materialidade utilitarista.

Certamente, nulo será o fruto colhido por aqueles que canalizam suas energias unicamente para os aspectos materiais da existência, lançando-se afoitamente às ações de preservação da natureza ou qualquer outra campanha do gênero não tanto seduzidos pela beleza da virtude, mas pelo desejo de alçar-se a grandes honrarias e admiração social, alerta a filosofia racionalista cristã.

Aponta-se, enfim, que nenhuma atitude sustentável deve ser considerada como tal se não contemplar a ampliação dos predicados espirituais e a aquisição das virtudes, o que se alcança com honestidade de propósitos, retidão de caráter, generosidade, prudência, tolerância, amor à verdade e ao próximo.

Quando o ser humano renuncia a seu poder de fazer algo de útil em prol de si mesmo e do próximo, desconecta-se de sua própria essência; todos podem ter atitudes mais significativas e profundas à medida que assumem um posicionamento mais integrador perante a vida. Certamente, em uma sociedade em que as pessoas se empenhem em ser mais equilibradas e éticas e se abram ao diálogo, o meio-ambiente, a comunidade, as famílias serão mais saudáveis.

Se a absorção e a vivência dos valores transcendentes da fraternidade e da solidariedade possibilitam uma vida feliz e fecunda, esta só poderá o ser humano assegurar na condição de viver equilibrada e flexivelmente, isto é, adaptando-se às circunstâncias sem se afastar de suas convicções, porquanto as situações malfazejas se manifestam de múltiplas formas, mas sempre fomentando a ruptura da unidade e o individualismo irresponsável.

É vencendo o egoísmo e a preguiça espiritual que o indivíduo expande suas atitudes e as ordena em benefício da coletividade. Só quem despreza as ações mesquinhas, as ideias compartimentadas e os conceitos particularizados, quem contempla seu semelhante como uma extensão de si mesmo, dando a devida importância ao enriquecedor convívio social, pode investir seu tempo e colocar seu amor no campo do absoluto, do supremo, do transcendente. Os outros só podem amar o que é relativo, efêmero, transitório.

Boa Leitura!