A organização das ideias é um tema fascinante pelas várias vertentes em que pode ser considerado. Para nós, é um marco de referência, que motiva a percepção de que sem uma conceituação sólida, disciplina e método, o ser humano não obtém o equilíbrio emocional, tão importante para a superação dos desafios e para a conquista de uma experiência de vida harmônica e produtiva.
No início de mais um ano, é comum que surjam na mente de muitas pessoas pensamentos relativos à manutenção da saúde, ao futuro profissional, ao sucesso nos relacionamentos, à estabilidade financeira etc. Na verdade, as atuais condições do mundo tornam tais questões ainda mais prementes. Contudo, faz-se necessário recordar que, antes de tomar qualquer decisão ou traçar metas para o longo do ano que se inicia, a pessoa que se orienta pelos conteúdos da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão deve estabelecer como roteiro seguro de sua vida uma ordem racional dos valores do espírito, que podem não estar circunscritos ao campo dos objetivos imediatos, mas que representam um enorme potencial transformador, e que devem ocupar a primazia da atenção do ser espiritualista.
Ao falarmos sobre valores do espírito, referimo-nos a seus atributos, que devem ser desenvolvidos com atenção e apreço, sem nenhum pendor ao improviso ou à indisciplina.
Rememorando conceitos importantes e aperfeiçoando cada vez mais suas atitudes, o ser humano conseguirá estabelecer a coordenação de seus pensamentos, intuições e inspirações, atingindo a maturidade espiritual e, com ela, a serenidade, a ponderação e o equilíbrio.
É comum ouvirmos dizer que a materialidade reinante na atualidade subverte a conhecida frase do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão” passa a ser “Ter ou não ter, eis a questão”. Não se deve exagerar nem minimizar a importância de prosperar materialmente, pois faz todo sentido buscar melhores condições de vida. Claro está, porém, que esta busca deve ser estabelecida dentro dos limites de um projeto maior e mais amplo, que é o do desenvolvimento constante das faculdades e talentos do espírito.
Quando criticamos o materialismo, não incentivamos uma atitude de desprezo aos bens materiais, mas buscamos uma ampliação de perspectivas no sentido de indicar que os recursos terrenos, apesar de serem úteis e importantes, não representam um fim em si mesmos.
A pessoa que busca constantemente seu aprimoramento moral e ético estabelece sempre uma hierarquia no campo de seus projetos e ideais. Não se satisfaz com superficialidades e sensações efêmeras, mas procura apreender o sentido íntimo aos fatos mais simples da vida cotidiana. O início de mais um ano acentua a necessidade de relembrarmos conceitos coerentes e legítimos, sobretudo neste período histórico marcado por uma pandemia que, para além de sua dramaticidade, desenha os esboços de uma nova percepção da realidade, ensejando possibilidades inéditas de crescimento espiritual para aqueles que estiverem suficientemente esclarecidos e livres dos condicionalismos que amesquinham a percepção e a sensibilidade humanas.
Ignorar o valor da ordenação dos pensamentos e ideias em nome de um estilo de vida mais despojado implica a redução expressiva do panorama existencial humano. A ação prática e a organização mental não se anulam, mas se complementam reciprocamente. Tenha-se presente: se as ações humanas não são consubstanciadas por princípios racionais que transcendem ao imediatismo e ao improviso, desestabilizam a saúde emocional de seus autores.
Assim, lembramos nossos leitores para a necessidade de coordenação dos pensamentos e ideias e que se encham de esperanças de que 2022 será um ano de grandes e positivas transformações em suas vidas, mas, para que elas sejam positivas e elevadas, é importante que se orientem pelos valiosíssimos ensinamentos espiritualistas obtidos através do Racionalismo Cristão, nossa filosofia de vida.
Como aqui já dissemos, janeiro é um mês de muitas datas significativas para o Racionalismo Cristão e, além da data de sua fundação, 26 de janeiro, destacamos apenas mais duas, que nos são muito gratas: dia 3, nascimento de Luiz de Mattos, no ano de 1860, em Portugal; 15, seu falecimento, no Rio de Janeiro, em 1926. Mas janeiro é também o mês em que renovamos nossas esperanças em dias melhores. Esperança de que tragam dias bem mais satisfatórios dos que vivenciamos em 2021, embora tenham deixado muito aprendizado à humanidade, mas ainda com muitas perdas de vidas físicas, em todo o mundo.