Timidez e interação humana

Segundo a Enciclopédia de Psicologia (Encyclopedia of Psychology) americana, a timidez é a tendência que muitas pessoas têm de sentirem-se recatadas, retraídas ou envergonhadas durante encontros sociais, especialmente com pessoas desconhecidas. Frequentemente, pessoas tímidas podem apresentar sintomas físicos como enrubescimento facial, suor, aceleração cardíaca, problemas estomacais, bem como baixa autoestima e preocupações sobre como os outros as veem; daí, terem tendência de se afastar das interações sociais. A maioria das pessoas apresenta timidez pelo menos ocasionalmente. Contudo, a timidez de algumas pessoas é tão intensa que pode mantê-las afastadas e incapazes de reagirem com outras pessoas mesmo quando elas querem ou precisam fazê-lo, causando problemas no relacionamento interpessoal e no trabalho.  Entre os adjetivos mais comuns relacionados à timidez, encontramos: retraído, acanhado, envergonhado, desconfiado, pudoroso, esquivo, relutante, reservado, medroso, reticente, hesitante, frouxo, intimidado, assustadiço, cauteloso, timorato, temeroso, constrangido e pusilânime.

Vemos, assim, que o sentimento da timidez pode ser definido como uma forma de desconforto que se apresenta como inibição nas relações interpessoais, interferindo diretamente com a realização dos objetivos interpessoais e profissionais da pessoa. É uma forma exagerada que a pessoa tem de colocar o foco das atenções em si mesma, uma espécie de preocupação dirigida aos seus próprios pensamentos, sentimentos e reações físicas. A timidez pode variar, assumindo a forma de uma inferioridade socialmente leve até uma fobia social totalmente inibitória. A timidez pode ser crônica e disposicional, atuando como uma caraterística da personalidade que se assenta na própria definição do seu self ou “eu”. Temos, ainda, a considerar a timidez situacional que envolve conhecer os sintomas da timidez em situações específicas no âmbito social, mas sem levar em conta o conceito do próprio self. As reações da timidez podem ocorrer em qualquer dos seguintes níveis: cognitivo, afetivo, fisiológico e comportamental, e podem ser disparadas por uma larga variedade de fatores atuantes. Entre os fatores mais típicos estão as condições autoritárias, a interação entre pessoas de sexo oposto, o grau de intimidade, a presença de pessoas estranhas, levando à adoção de ações individualizadas num dado grupo em um ambiente desestruturado em que ocorrerem comportamentos espontâneos. Metaforicamente falando, a timidez é um “encolhimento” na forma de viver que enfraquece as interações nos relacionamentos humanos.

Temores. Analisando a timidez do ponto de vista das pessoas tímidas, podemos dizer que elas, muitas vezes, acreditam que são inferiores, que poderiam ser agredidas no contato com os seus semelhantes porque carregam experiências traumáticas que, no passado, sofreram com o contato social. E, assim, se recusam a exporem-se a tais desconfortos que refletem situações semelhantes às anteriores pelas quais passaram. Entre as situações traumatizantes situam-se o bullying na escola, as agressões sofridas durante sua infância e na adolescência, e as críticas desnecessárias e pressões por parte de pais e educadores que não sabem orientar aqueles que estão aos seus cuidados. Crianças castigadas normalmente se tornam, quando adultas, ou muito agressivas ou assumem a condição de tímidas, reprimidas, inseguras e ansiosas. Daí, a necessidade de ajudarem-nas a tornarem-se mais assertivas e empáticas. E isso é possível, já que foi afastada cientificamente a ideia de que a timidez pudesse ter origem genética.

No primeiro parágrafo, mencionamos alguns sintomas que aparecem nas pessoas tímidas, não sendo difícil identificá-las. Assim, ressaltamos agora, entre os sintomas já elencados, o rubor facial que cora de forma evidente as pessoas que têm temor de se exporem a esse aspecto físico desagradável. Essas pessoas fazem um esforço muito grande para não serem observadas dessa forma tão negativa e desconfortável.

Ansiedade. Com esse conhecimento, podemos afirmar que a timidez é um estado mental que normalmente tem origem nas causas apontadas, especialmente na ansiedade. Nesse processo a pessoa tem medo de estar exposta aos outros, de se comunicar com os outros. Esse medo pode ter intensidade distinta para cada pessoa, criando e abrangendo desde pessoas reservadas até estados verdadeiramente fóbicos, conhecidos como fobia social. Assim, a timidez submete a pessoa a impactos negativos na vida, pois impede a natural evolução das relações sociais, algo essencial ao ser humano para obter resultados evolutivos mais acelerados enquanto transitando nesse nosso mundo Terra.

Nos casos mais graves, a timidez pode levar a pessoa a uma condição de fobia social, que conduz a estados depressivos ainda mais limitantes, incluindo a depressão profunda, afastando-a de todo o contato social. Nesses casos, a pessoa precisa ser submetida à psicoterapia, que utiliza técnicas baseadas em mapas da mente (não confundir com os mapas mentais, estes que são esquemas gráficos que ajudam no processo de aprendizagem) nos quais se apontam os desvios de padrões mentais dos padrões normais. A psicoterapia, diferentemente da psiquiatria, não utiliza medicamentos, já que procura tratar as causas em vez de tratar os efeitos anômalos que a depressão provoca.

Esses mapas da mente ajudam os psicoterapeutas a perceberem os desvios de pensamento e o comportamento de seus pacientes. Assim, eles podem perceber a origem emocional da causa que provoca a perturbação, levando o paciente a vencer e ultrapassar suas dificuldades que condicionam todo o seu estado espiritual e mental. Esse modelo de atuação psicoterapêutica foi desenvolvido recentemente e vem sendo adotado com sucesso nas clínicas mais avançadas, mas é bom levar em conta que ela é apenas parte da solução, estando esta definitivamente na dependência da força de vontade do paciente.

É necessário não confundir a timidez com a introversão. O tímido tem receio de ser criticado ou julgado, até mesmo zombado pelos outros; por isso, evita aparecer ou atuar em público. Já o introvertido pode não sentir ou querer não reagir propositalmente em certas situações por várias razões que sua personalidade julga inoportunas.

As pessoas tímidas têm, também, suas vantagens: são mais atentas, sensíveis, disciplinadas e melhores ouvintes em relação às outras pessoas. Procuram ser mais cuidadosas e protetoras de si mesmas. São também mais criativas. Albert Einstein e Charles Darwin apresentavam essas características, foram pouco sociáveis e mais recolhidos em seus relacionamentos, talvez porque precisassem melhor aproveitar o tempo para as grandes inovações que trouxeram para o progresso da humanidade. Eles souberam tirar proveito de sua timidez.